19 Junho 2020
Dezesseis congregações estadunidenses de irmãs dominicanas reuniram mais de 46 milhões de dólares para estabelecer uma nova iniciativa de fundos de investimento que visa a financiar soluções para enfrentar as mudanças climáticas e ajudar comunidades de maior risco em todo o mundo.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 18-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os novos Climate Solutions Funds são uma colaboração de cinco anos entre as irmãs dominicanas e a importante empresa de investimentos Morgan Stanley. As irmãs forneceram um investimento inicial de 46,6 milhões de dólares em 2018 para os fundos, que, com investimentos adicionais em capital, cresceram para 130 milhões de dólares. O dinheiro será direcionado para projetos globais que buscam soluções para as mudanças climáticas assim como para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
A iniciativa foi anunciada no dia 18 de junho, quinto aniversário de lançamento da encíclica social do Papa Francisco sobre o ambiente e a ecologia humana, Laudato si’, sobre o cuidado da Casa Comum. O Vaticano e os católicos de todo o mundo começaram a celebrar esse marco em maio.
“Estamos trazendo esses recursos para o mercado para ajudar a abordar a nossa profunda preocupação com a integridade da criação de Deus e das pessoas mais afetadas pelas mudanças climáticas”, disseram as congregações dominicanas, representando aproximadamente 3.500 religiosas estadunidenses, em um comunicado à imprensa.
No comunicado, as dominicanas disseram que suas receitas “provêm dos ganhos ministeriais de suas irmãs, que são reunidos com doações de apoio à sua missão, pagamentos da previdência social e ganhos com os investimentos desses recursos”.
As irmãs trabalharam com o Graystone Consulting Group, uma divisão da Morgan Stanley, para criar os fundos depois que não puderam encontrar uma opção existente que integrasse soluções climáticas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: os 17 objetivos globais para resolver uma série de questões até 2030, do fim da pobreza e da fome até o acesso à água potável, energia limpa e trabalho sustentável.
Essa integração foi fundamental para as irmãs, disse a Ir. Pat Daly, dominicana de Caldwell que desempenhou um papel de liderança na formação dos fundos.
“Queríamos ter a certeza de que a transição climática também estivesse atendendo à justiça ambiental e também integrando outros impactos relacionados às mudanças climáticas, como a água e os alimentos, e outros impactos sobre as mulheres”, disse ela ao EarthBeat.
A irmã dominicana Elise Garcia, membro do conselho geral das Dominicanas de Adrian e presidente da Leadership Conference of Women Religious, acrescentou que as irmãs buscavam que os fundos “fossem voltados o máximo possível para o atendimento das necessidades das comunidades mais afetadas pelos efeitos deletérios das mudanças climáticas”.
Ela chamou os fundos de investimento de “uma maravilhosa colaboração entre nós, dominicanas”, refletindo uma preocupação central. A pandemia do coronavírus em curso, disse ela, “revelou as linhas divisórias da nossa sociedade”, nas disparidades raciais entre os que mais sofrem com a Covid-19, assim como as pessoas expostas às consequências das mudanças climáticas.
Garcia disse que a iniciativa dos fundos climáticos é uma “resposta fundamental” ao apelo do Papa Francisco na Laudato si’.
“Seu senso de querer uma abordagem integrada para combater a pobreza, restaurar a dignidade dos mais desfavorecidos e, ao mesmo tempo, proteger a natureza é exatamente o que o Climate Solutions Fund pretende abordar”, disse ela.
Os fundos estão nos estágios iniciais de busca de oportunidades de investimento.
Os projetos que foram direcionados incluem o fornecimento de acesso à energia limpa para comunidades na África subsaariana e a pequenas empresas na Índia, além da construção de paletes de expedição a partir de plásticos mais leves e recicláveis, e atualizações para que as empresas aumentem sua eficiência energética.
Os Climate Solutions Funds são compostos por um fundo privado e um fundo público. O fundo privado fechou as portas para investidores adicionais, enquanto o fundo público permanece aberto.
Entre o grupo inicial de financiadores adicionais estão o CommonSpirit Health, o Oblate International Pastoral Investment Trust e as Irmãs Franciscanas de Maria.
John O’Shaughnessy, chefe financeiro das Irmãs Franciscanas, disse que eles ficaram “intrigados” com a iniciativa desde o início. Ele disse que, embora outros fundos possam ser maiores, ele não conseguia se lembrar de outro que combinasse impactos sociais e ambientais como esse.
“Que eu saiba, isso nunca foi tentado por um grupo de instituições católicas”, disse O’Shaughnessy, que atua como consultor financeiro para congregações católicas há três décadas e fundou a Catholic Impact Investing Collaborative.
O Mercy Investment Services, um recurso financeiro das Irmãs da Misericórdia das Américas, possui um Fundo de Soluções Ambientais similar, que vincula vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a estratégias de investimento em tecnologia limpa, água, edifícios verdes e agricultura e silvicultura sustentáveis. Desde 2014, ele acumulou 78 milhões de dólares em compromissos.
Timothy Smith, diretor de engajamento acionário do Boston Trust Walden, que por quase 25 anos liderou o Centro Inter-Religioso de Responsabilidade Corporativa, disse que a parceria das dominicanas com a Morgan Stanley é significativa, pois um grande gerente de investimentos está levando esse tipo de iniciativa focada no clima para o mercado.
“Embora existam inúmeras ações que ajudam os investidores a evitar grandes poluidores ou empresas de combustíveis fósseis, existem poucas plataformas que se concentram em soluções e apoiam os pobres que são afetados adversamente pelas mudanças climáticas”, afirmou ele.
Em outubro de 2015, o Conselho da Terra das Dominicanas do Nordeste [dos EUA] propôs que os investimentos das congregações fossem direcionados de forma a financiar tanto a mudança para as energias renováveis quanto para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Vários meses após a decisão ter sido aprovada, nenhum investimento foi feito, disse Daly, membro do Conselho da Terra, principalmente porque não conseguiram encontrar um fundo que incorporasse as duas metas. Foi formada uma força-tarefa de financiamento climático para identificar uma empresa que pudesse criar um fundo para elas. Após dezenas de telefonemas e reuniões, as irmãs desembarcaram na Graystone, um grupo de investidores financeiros liderado por mulheres.
No dia 18 de junho de 2018, terceiro aniversário da Laudato si’, as lideranças dominicanas apresentaram seus compromissos iniciais enquanto visitavam a sede da Morgan Stanley na Times Square, em Nova York.
Cada uma das congregações é membro da Coalizão Inter-Religiosa sobre Responsabilidade Corporativa e está envolvida em investimentos socialmente responsáveis há anos. Além das finanças, as congregações, assim como muitas religiosas, têm feito do cuidado pela terra uma parte principal da sua missão há décadas.
“Eu acho que todas as nossas congregações dominicanas e certamente muitas outras congregações religiosas femininas há muito tempo se preocupam com o duplo clamor da terra e das pessoas empobrecidas”, disse Garcia.
Daly, líder de longa data em investimentos em impacto social e defensor da responsabilidade corporativa, disse que a nova iniciativa de fundos climáticos “marca um novo momento de colaboração no mundo das finanças” e espera que isso inspire outros grupos religiosos, assim como empresas de Wall Street, a não apenas buscarem opções para evitar investimentos em combustíveis fósseis ou financiarem tecnologias renováveis, mas também a “incorporarem a responsabilidade pelo planeta” em seus planos.
“O setor financeiro precisa direcionar o dinheiro dos investimentos para empresas e iniciativas que realmente beneficiem a Terra e protejam a saúde do planeta, em vez daquilo que conhecemos nos últimos 100 anos”, disse ela.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
EUA. Irmãs dominicanas investem US$ 46 milhões em fundos de investimento voltados para soluções climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU