28 Outubro 2020
Com o anúncio de treze novos cardeais no meio da "tempestade" de escândalos financeiros, e entre as polêmicas após a abertura às uniões civis de casais homossexuais, o Papa Francisco mostra que não se limita a administrar o presente, mas olha para frente. Palavra de um dos novos cardeais, Marcello Semeraro. Pugliese, 72, bispo de Albano, ex-secretário do Conselho dos Cardeais, há doze dias foi chamado para chefiar a Congregação para as Causas dos Santos no lugar de Giovanni Angelo Becciu, exonerado devido a operações financeiras sob análise pelos magistrados. As investigações em andamento “fazem parte do processo de reforma da Cúria em nome da transparência - afirma Semeraro - que significa também usar os bens de forma evangélica: para o culto, o sustento e para os pobres. Qualquer outro uso é um abuso”.
A entrevista com Marcello Semeraro é de Domenico Agasso jr, publicada por La Stampa, 27-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eminência, como e quando soube que havia se tornado uma eminência?
Não recebi nenhuma comunicação, fiquei sabendo como todo mundo, acompanhando o Angelus de casa. Fiquei sem palavras, emocionado e um pouco abalado.
O Consistório chega de surpresa no meio da turbulência que abala "o barco da Igreja": que mensagem envia?
Com a criação de novos cardeais, o Papa cuida da Igreja do futuro. Francisco não pensa só no presente, não se limita a administrar as situações, não se detém diante dos obstáculos: é um pastor que sempre olha para a frente. E esse é um sinal de esperança e encorajamento para os fiéis e não só.
O senhor é o sucessor de Becciu: o que pensa das tempestades econômicas e judiciais envolvendo os Sagrados Palácios?
Não cabe a mim entrar em detalhes dos acontecimentos. Mas fui secretário do Conselho dos Cardeais que ajudam o Papa no governo da Igreja universal, por isso trabalhei pessoalmente no processo de renovação da Cúria. Orientamos o processo colocando antes de tudo o objetivo ético da transparência, que do ponto de vista religioso equivale ao uso evangélico dos bens.
O que isso significa?
As únicas razões pelas quais a Igreja pode administrar bens são a dignidade do culto e o sustento dos pastores, sem nunca, jamais se esquecer de ajudar os pobres. Quando essas finalidades são distorcidas, então se trata de um abuso. Infelizmente, é possível que esses abusos aconteçam, devido à fragilidade humana. Portanto, devemos estar sempre vigilantes.
Que significado têm as palavras do Papa para os casais homossexuais?
Ele lembrou que se duas pessoas, mesmo do mesmo sexo, decidem viver em uma forma de convivência estável, é necessário que sejam garantidas a elas formas jurídicas de tutela. Mas não abriu para o matrimônio entre homossexuais, nem revirou a doutrina. A sua afirmação deve ser lida à luz de todo o magistério do Pontífice, não se podem separar frases isoladas. O princípio é geral.
E qual é?
A atenção à pessoa, que precede qualquer qualificação posterior (por exemplo, homossexual). A pessoa é sempre e em qualquer caso merecedora de cuidado. Deve ser acolhida independentemente, ajudada quando está em dificuldade e valorizada. Esta é a atitude pastoral que o Papa Francisco prega, em todos os âmbitos.
Qual é a chave para interpretar os novos cardeais?
É óbvio que as escolhas emergem das convicções. Olhando para os nomes italianos, vejo alguns dos traços que caracterizam o pontificado. Quem conhece Enrico Feroci sabe o quanto ele se dedicou à atividade da Caritas. Raniero Cantalamessa é uma figura conhecida de anunciador do Evangelho. E além disso, enquanto antes de Francisco as escolhas dos bispos eram orientadas pelo prestígio de uma sé episcopal (penso, por exemplo, em Turim e Veneza), hoje esse aspecto torna-se secundário.
Pode nos explicar?
Prevalece a figura pessoal-pastoral que o Papa acredita poder elevar a um símbolo e a mensagem espiritual. Atenção: não se trata de distribuir honrarias, mas de evidenciar significados que se encarnam em determinadas pessoas. Por exemplo, Wilton Gregory e Paolo Lojudice se reportam ao empenho com as periferias.
E o que Semeraro representa?
Fui professor, principalmente de eclesiologia, e muito me alegra que tantos de meus ex-alunos tenham me escrito reconhecendo que o rosto da Igreja que sempre enfatizei é o de uma mãe que cuida dos filhos. Isso me ajudou a passar do ensino para o cargo de professor pastoral. E é a via que entendo continuar a seguir.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O sucessor de Becciu: “Eu cardeal-pastor. Os escândalos não seguram a reforma do Papa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU