26 Março 2019
"Para que algo realmente mude, uma orientação política deve abrir caminho, nesse sentido, em cada país individualmente. Pois o problema da mudança climática é global, mas só pode ser resolvido com acordos que exijam cooperação entre os vários governos."
A análise é de Giuseppe Savagnone, professor de doutrina social da Igreja no departamento de jurisprudência da LUMSA (Libera Università degli Studi Maria SS Assunta de Roma.), sede de Palermo, em artigo publicado por Settimana News, 22-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A imensa aceitação do dia "Fridays for Future", a maior iniciativa estudantil global em defesa do meio ambiente e do clima, transmite uma promessa e, ao mesmo tempo, poderia esconder um equívoco.
A promessa está na tomada, por parte dos jovens, da responsabilidade com a terra, em particular em relação àquele aspecto essencial à sua sobrevivência, que é o clima.
O grito de alarme da jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, candidata ao Prêmio Nobel da Paz, foi acolhido por jovens de meio planeta e deu origem a um novo movimento estudantil, com uma conotação ecológica específica.
E assim, respondendo ao mais recente apelo lançado por Greta no Twitter, milhares de estudantes de 123 países se reuniram na sexta-feira, 15 de março, para protestar contra a irresponsabilidade dos adultos diante do aquecimento global e pedir enfaticamente aos governos dos respectivos países, políticas mais incisivas para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Só na Itália essas manifestações foram mais de duzentas, com maciça participação e com slogans como "Vamos às ruas, vamos nos manifestar, hoje na escola vamos faltar", "Ainda há tempo", "Chega de paciência, estudantes pelo meio ambiente", ou como este, mais colorido: "Estourou meu ... pulmão".
Por trás disso há uma ideia clara e difícil de contestar: "Habitamos este planeta há poucos anos", explicou um dos organizadores, "muito poucos para que alguém nos censure ou nos culpe pela poluição do ar, da água e da terra".
É verdade: a culpa pelo desastre em curso, no âmbito ecológico como em muitos outros, certamente não recai sobre os jovens, muitas vezes apontados e quase demonizados como portadores de todos os problemas, mas sobre os adultos, sobre nós que os criticamos. O problema, na realidade, somos nós!
Esse é o aspecto positivo de um protesto que vê os jovens finalmente protagonistas conscientes de seu destino. Mas há também o risco do equívoco. E o equívoco seria acreditar que a virada invocada por essas manifestações poderia ser determinada pelo seu sucesso momentâneo.
Para que algo realmente mude, uma orientação política deve abrir caminho, nesse sentido, em cada país individualmente. Pois o problema da mudança climática é global, mas só pode ser resolvido com acordos que exijam cooperação entre os vários governos.
Ora, a linha predominante das políticas nacionais, nos últimos anos, parece ir na direção oposta. O surgimento de tendências soberanistas na maioria das nações está tornando cada vez mais problemáticas as possibilidades de acordos internacionais que os vinculam ao respeito de regras comuns.
Após que a queda do Muro de Berlim criou expectativas de uma nova temporada de abertura de fronteiras, estamos testemunhando, ao contrário, a uma nova proliferação de barreiras entre uma nação e outra. Nessa lógica, não só é difícil que sejam criadas formas mais estreitas de cooperação para enfrentar as ameaças ao futuro do planeta, mas assiste-se à retirada de alguns países dos tratados previamente estipulados, em nome da proteção dos interesses nacionais.
A retirada dos Estados Unidos dos acordos de Paris sobre o clima após a eleição de Trump é emblemática. A lógica do "primeiro nós" - neste caso, "primeiro os EUA" - torna cada vez mais improvável a renúncia aos próprios interesses particulares.
Mas não se trata apenas do clima. Em todos os lugares, estão começando a aflorar novamente, e em muitos casos prevalecem, lógicas centrípetas e defensivas que destroem as realidades cooperativas até agora construídas com tanto esforço. Basta ver o caso do Brexit em relação à União Europeia, ou as forças antieuropeístas cada vez mais fortes em diferentes países da própria União.
Para mudar essa tendência, decididamente desfavorável às demandas frisadas pelos jovens em 15 de março, não bastam os slogans de uma manifestação, embora impressionantes: é necessária uma virada que leve de volta ao governo, nos diferentes países, forças favoráveis à colaboração internacional.
E essa virada não acontece com uma varinha mágica, mas com um comprometimento sério dos cidadãos, nos respectivos Estados, visando mudar a mentalidade dominante hoje e a classe dominante que é a sua expressão. Em resumo, é necessário um retorno à política.
Agora, justamente essa perspectiva, infelizmente, pelo menos na Itália, parece estar muito distante. Os jovens de bom grado saem às ruas para fazer marchas, gritar slogans, montar ocupações.
Mas eles são extremamente relutantes a ler os jornais, a obter informações sérias de fontes credenciadas disponíveis na Internet, a participar de encontros, conferências, debates que os ajudem a entender melhor a complexidade das situações e dos problemas e lhes permitir afetar com sua opinião sobre eventos políticos.
Nem mesmo a escola ajuda a fornece uma educação política mínima adequada. O resultado é que as manifestações de rua dos estudantes não fazem parte de um processo sério de conscientização e de informação que as preceda, as motive e as acompanhe, mas permanecem episódios isolados. Uma vez que a excitação do momento acaba, volta-se às aulas como se nada tivesse acontecido.
Significativo a esse respeito, o declínio das assembleias estudantis nas escolas: nascidas em decorrência dos eventos dos 1968 anos para abrir espaços para o confronto democrático, há muitas décadas foram se encolhendo, na maioria dos casos, até ser apenas uma oportunidade para faltar a um dia de aula por mês.
Além disso, não é de hoje que se evidencia tal discrepância entre uma participação estudantil predominantemente emotiva, que poderíamos chamar de "folclorista", e o compromisso real para alcançar uma cidadania responsável.
É significativo que os famigerados parlamentos da Segunda República tenham sido eleitos por pessoas que haviam celebrado, como estudantes, o glamour das passeatas e das ocupações pós 1968, resultado de um refluxo disfarçado de protesto. Da mesma forma que é significativo é que as gerações formadas nesse tipo de protesto sejam aquelas que deram origem aos picos de abstencionismo registrados nas últimas eleições.
Pois bem, o risco que deve ser absolutamente evitado é que se retorne a essa lógica perversa. O papel da escola pode ser decisivo. É preciso introduzir uma formação para a cidadania responsável e para o comprometimento político - sem mexer na diferença entre política e jogos de partidos! - como elemento estrutural do currículo escolar, sem ter que contar com iniciativas esporádicas de um ou outro professor mais sensível.
Caso contrário, as aspirações por um mundo diferente e melhor - para o clima como para qualquer outro problema - continuarão sendo um sonho ilusório, que é concedido aos jovens de vez em quando, sob o olhar complacente dos adultos, aguardando que a pressão dos exames no final de ano faça esquecer aos garotos os dias de indignação e de raiva, enquanto os governos continuam, com suas políticas míopes e egoístas, a roubar seu futuro.
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Luzes e sombras de um protesto global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU