11 Julho 2018
A palavra com Jürgen Schmidhuber, o pai da inteligência artificial: "Espero que a ultrapassagem ocorra em breve para que eu possa me aposentar. Serão os robôs, não nós humanos, a colonizar o universo".
A entrevista é de Giuliano Aluffi, publicada por La Repubblica, 10-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quando a inteligência artificial se tornar consciente, chamará Jürgen Schmidhuber de "pai". Pelo menos de acordo com o New York Times que assim descreveu o diretor do Instituto Dalle Molle de Estudos sobre a Inteligência Artificial de Lugano que, desde 1997 - o ano em que ele inventou o algoritmo inteligente mais usado hoje pelos gigantes do Vale do Silício - continua a liderar, junto com seus alunos e a empresa N Naisense, nas competições internacionais. O último prêmio foi em dezembro de 2017, quando os algoritmos de Schmidhuber se revelaram os mais eficazes - entre os 500 participantes – para ensinar um corpo virtual, simulado nos mínimos detalhes músculo-esqueléticos, a andar e depois correr sem tropeçar em obstáculos. A invenção de 1997, o algoritmo de aprendizado profundo chamado Long short term memory (LSTM) hoje é usado em todos os lugares: está em mais de 3 bilhões de smartphones, onde permite o reconhecimento de voz de Siri e OK Google, é desde 2016 no coração do Google Translate - e estima-se que absorva cerca de 30% do poder de cálculo nos datacentros do Google. O Facebook utiliza-o para fazer 4,5 bilhões de traduções por dia.
Professor Schmidhuber, por que seu algoritmo é tão importante?
Pense no reconhecimento de voz em seu smartphone: a cada 10 milissegundos – um "passo" - um novo imput chega ao microfone e entra na rede neural que precisa entender o que você está dizendo Vamos pegar as palavras "seven" e "eleven": uma vez que ambas terminam com "even", que consome 500 milissegundos e, portanto, 50 "passos", o sistema não pode distinguir entre as duas palavras, se não se lembra qual era o seu começo. Antes da adoção pelo Google e Apple das LSTM, isso não era possível: se entre dois dados, havia mais de 10 "passos" o sistema se confundia. A LSTM, ao contrário, consegue lidar corretamente com inputs distantes entre si, e por isso também é ótima para a tradução de frases longas, onde o sentido das últimas palavras depende do que foi dito antes.
No que está trabalhando hoje?
No meu sonho de garoto. Quando eu tinha 15 anos queria me tronar um físico, como o meu herói Albert Einstein. Mas então percebi que eu teria mais impacto no mundo se, em vez de me tornar um cientista, construísse um cientista artificial mais inteligente do que eu. Então seria "ele" a pensar no resto das invenções para a humanidade. Aquilo em que estamos trabalhando aqui em Lugano é um passo nessa direção: uma inteligência artificial mais geral, que possa, como nós, resolver qualquer tipo de problema e aprender com os seres humanos sem copiar servilmente os seus movimentos.
Qual será o futuro a longo prazo da inteligência artificial?
"O tempo entre uma revolução tecnológica e a subsequente sempre se reduz a um quarto: 50 mil anos atrás o Homo sapiens sai da África e se dissemina no mundo, 13 mil anos atrás, nós inventamos a agricultura e surgem as primeiras civilizações, 3300 anos atrás, a era do ferro e da primeira explosão da população, há 800 anos a pólvora na China, 200 anos atrás a Revolução industrial ... continuando assim o ponto onde tudo parece convergir é 2050, o que eu chamo de "Omega": o momento em que acredito que teremos uma verdadeira superinteligência artificial, que vai mudar tudo".
Quando existir, por que deveria cuidar de nós?
As primeiras AI superinteligentes serão fascinadas por suas origens. E, portanto, por nós: vão querer entender como a vida funciona, como nasceram as civilizações. Quando tiverem entendido tudo serão especialmente interessadas em outras AI superinteligentes, assim como nós, hoje, estamos interessados principalmente nos outros seres humanos e nem tanto nas formigas. As superinteligências logo irão perceber que a Terra é pobre em recursos, que é preciso mover-se no espaço e construir máquinas que possam se autor-replicar, lá onde houver materiais e energia. Além disso, os homens não são feitos para o espaço, enquanto os robôs sim.
Vamos conquistar o espaço com as nossas AI?
Foram necessários 3,5 bilhões de anos para chegar a uma civilização capaz de construir inteligências artificiais. Foi necessário quase todo o tempo da "janela" reduzida que o planeta tem disponível, porque em algumas centenas de milhões de anos a Terra será demasiado quente para a vida. Vamos colocar desta maneira: evoluímos precisamente a tempo para permitir aos robôs inteligentes de se espalharem no universo, aumentando sua já extraordinária complexidade.
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“A AI vai nos superar e será o futuro". Entrevista com Jürgen Schmidhuber, o pai da inteligência artificial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU