19 Junho 2018
Que o jesuíta espanhol Germán Arana tenha sido o principal apoiador da nomeação de mons. Juan Barros como bispo de Osorno - cargo do qual o Papa Francisco o afastou há alguns dias após a renúncia em 17 de maio último - é agora um fato incontestável. Parece igualmente claro que deveria, portanto, ser incluído entre as pessoas que não forneceram ao Santo Padre informação verdadeira e equilibrada sobre a situação da Igreja chilena, especialmente na fase preparatória de sua viagem ao país sul-americano de 15 a 18 janeiro. Essas pessoas não são poucas e podem ser identificadas com precisão no Episcopado chileno, na Nunciatura liderada por Mons. Ivo Scapolo e em outros ambientes na Itália, fora e dentro do Vaticano, assim como na Espanha.
O comentário é de Luis Badilla e Francesco Gagliano, publicado por Il sismografo, 18-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há pouco mais a dizer sobre essa história agora conhecida como uma das mais difíceis e complicadas, ou seja, sobre como o Papa enfrentou a espinhosa situação da igreja chilena. No país já se debate sobre a questão há mais de três anos, mesmo que agora, com a segunda missão de D. Scicluna e Mons. Bertomeu, no país tenha se inaugurado uma nova etapa, radicalmente diferente em relação aos anos anteriores.
A chegada e a presença bastante invasiva do jesuíta Germán Arana na diocese de Osorno, onde se materializou pela primeira vez no dia em que o novo bispo Juan Barros (nomeado por Francisco em 10 de janeiro de 2015) tomava posse da diocese, deixou imediatamente um rastro de polêmicas e inquietação. Sobre o episódio, existem documentos importantes, revelados recentemente.
Em 25 de maio de 2016 um grupo de sacerdotes diocesanos de Osorno - Pedro Kliegel, Américo Vidal, Enrique Hernández, Mauricio Paredes e Oscar Escobar - enviaram uma carta de três laudas ao provincial dos jesuítas, padre Cristián Del Campo Simonetti. Na carta, também assinada por sete diáconos permanentes, falava-se de "algumas situações que nos impressionaram profundamente e então consideramos necessário submetê-las a seu conhecimento". Tais situações tinham a ver com o papel que alguns jesuítas da diocese teriam tido após a nomeação do bispo Juan Barros.
A carta explicava que, enquanto Mons. Barros tomava posse da diocese, "chegou um padre jesuíta, de sobrenome Arana, convidado ou levado, não sabemos por quem, na reunião do Colégio dos consultores, em 23 de março de 2015, que declarava falar em nome do Santo Padre, sem confirmar ou avalizar isso com algum documento oficial, criticando a atitude contra o bispo Barros por parte do clero e da comunidade. O Padre Arana, além disso - continua a carta - definia essa atitude como "péssima".
A carta continua: "Esse mesmo sacerdote, naquela ocasião, tratou-nos de forma pouco prudente, para usar um eufemismo. Ele nos repreendeu como se faz com crianças pequenas e em suas descomposturas sem fim disse frases como esta: “Mas quem vocês pensam que são” e, ao mesmo tempo declarava-se muito irritado sobre o que estava acontecendo em Osorno (protestos contra Monsenhor Barros, declarações públicas contra o bispo, envio de cartas às autoridades eclesiais, etc.)".
Após essa passagem, os cinco sacerdotes e sete diáconos signatários da carta reportaram ao Provincial dos Jesuítas:
"Consideramos que não seja justo nem apropriado o fato que uma pessoa estranha à diocese intrometa-se nos assuntos da nossa igreja local, em questões que não lhe dizem respeito”.
A carta para o Provincial dos Jesuítas tinha um duplo propósito: por um lado enviar um aviso sobre o papel que tinha assumido o jesuíta espanhol Germán Arana, excedendo todo limite e toda prudência, e, assim ressaltar as divisões da Companhia de Jesus diante da nomeação de Barros. Uma parte, pequena, liderada pelo padre Thomas Gavin, era solidária com o novo bispo, mas a maioria era contrária. Enquanto isso, havia muita conversa sobre esse Padre Arana e alguns o apresentavam quase como um “delegado especial" do Papa, algo falso e fora dos padrões.
As perguntas finais dessa carta destacam as perplexidades e a surpresa decorrentes da interferência de Mons. Arana: “quem deu instruções para apoiar o novo bispo? O senhor, como Provincial? A nossa sugestão é esta: esclarecer o mais rápido possível o episódio, a fim de ajudar a criar um clima de transparência na comunidade de Osorno".
Padre Germán Arana, até 2011 docente da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, sucessivamente foi nomeado Reitor do Seminário espanhol de Comillas. Padre Arana goza de grande prestígio, porque seria um excelente formador de sacerdotes além de grande guia nos Exercícios Espirituais que dirigiu para muitas Congregações, Conferências Episcopais e Institutos religiosos. Teria tido tais atribuições entre o corpo docente da Gregoriana. Para alguns jornais espanhóis, padre Arana é "aquele que sussurra nos ouvidos do papa" e junto ao qual teria grande influência. Como já foi dito, teria sido justamente o padre Arana a convencer o Papa Francisco, removendo boa quantidade de dúvidas do Pontífice, a proceder à nomeação de Mons. Juan Barros como novo bispo de Osorno. Juan Barros, já na época, era discutido publicamente e fortemente suspeito de estar envolvido nos crimes de Fernando Karadima, pedófilo serial.
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Chile . A presença do jesuíta Germán Arana, grande apoiador do bispo emérito Juan Barros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU