13 Abril 2018
O sacerdote jesuíta Felipe Berríos se referiu à carta enviada pelo Papa Francisco à Conferência Episcopal chilena, na qual a máxima autoridade da Igreja reconhece as denúncias de acobertamento contra o bispo de Osorno, Juan Barros, após conhecer o relatório elaborado pelo arcebispo de Malta, Charles Scicluna.
A reportagem é de Alejandra Jara, publicada por La Tercera, 12-04-2018. A tradução é do Cepat.
Em conversa com a Rádio Duna, Berríos reconheceu que tal mensagem é recebida “com muita esperança e também com certa inquietação porque confirma muitas intuições que se tinha de que aqui algo não funcionava (...) Espero que, de agora até a viagem dos bispos (ao Vaticano), não prossiga esta máquina de desinformação que há na Igreja Católica”.
Consultado justamente por estas declarações, o sacerdote sustentou que “acredita que há uma máfia”. “Não esqueçamos que o Papa Bento renunciou porque não pôde com isto, e disso é que tenho medo, que esta máquina continue funcionando com secretismos, influências subterrâneas, coisas desinformadas (...)”.
Em relação aos canais de informação que o Papa Francisco conta para saber o que acontece no Chile, Berríos explicou que um deles é o Núncio, mas também conta com a opinião do cardeal Francisco Javier Errázuriz, a quem qualificou como uma pessoa “próxima ao Papa”, que viaja constantemente a Roma.
Além disso, Berríos comentou que outro assunto que a carta do máximo representante da Igreja Católica revela é a origem dos abusos sexuais, que começam quando há abuso de poder e abuso de consciência.
Neste sentido, disse que na Igreja existe uma “verticalidade”, “secretismos” e “medos” que, em sua avaliação, devem ser desmantelados.
O sacerdote apontou Papa João Paulo II como o responsável por esta situação, pois teria evitado o processo modernizador que a Igreja vivia durante os anos 1960.
“Uma das pessoas que freou isto, que fez a Igreja Católica retroceder, foi o Papa João Paulo II. Mais do que ele, porque se dedicou às viagens, foi o secretário de Estado, Angelo Sodano, uma pessoa nefasta que começou a nomear bispos simplesmente repetidores do que se dizia em Roma e que implementaram estes secretismos, como se vê no Chile com o cardeal Medina (...)”, disse Berríos.
“Não basta, aqui, retirar pessoas (...), é necessário ver o que existe por trás, que produz isto. Porque o sistema de investigação dentro da Igreja é longo, secreto e nós, padres, estamos cansados disto”, sustentou, e acrescentou que fica com a sensação de que o Papa “chega tarde” a este problema.
“Eu não me tornei padre para ficar o tempo todo buscando investigar ou defender torpezas que enviaram e delitos (...). Provocam a vontade de dizer ‘não mais’”, comentou.
Consultado se o celibato teria alguma relação com os abusos sexuais no interior da Igreja, Berríos respondeu que, “aqui, se misturam várias coisas. Eu não gostaria de identificar o celibato como a única causa dos abusos sexuais”.
Contudo, disse que “um dos grandes pecados da Igreja Católica é ter afastado a mulher da hierarquia. Isso foi um erro tremendo”.
“Quando se vê que entra esta procissão de bispos, padres, e se vê somente homens, é dito: ‘aqui, existe algo estranho’, ‘isto não é bom’”, relatou Berríos, e afirmou que as partes mais importantes do Evangelho “contam com a presença chave de mulheres”.
“O celibato nem sempre foi obrigatório..., do mesmo modo como foi imposto na Igreja, pode ser retirado. Se colocado como uma obrigação, o celibato pode ser prejudicial”, concluiu Berríos.
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Existe uma “máfia” na Igreja chilena e João Paulo II “freou” a sua modernização, avalia Felipe Berríos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU