O histórico pedido de perdão do Papa e a convocação de todo o Episcopado chileno a Roma foram recebidos com “satisfação e esperança” pelas vítimas dos abusos de Karadima e do acobertamento de Barros. Desse modo, em uma declaração pública, James Hamilton, Juan Carlos Cruz e José Andrés Murillo assumiram: “reconhecemos o gesto do Papa e estamos avaliando as possibilidades para comparecer” ao convite de Francisco.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 12-04-2018. A tradução é do Cepat.
Como resultado da carta enviada por Bergoglio aos bispos chilenos, na qual reconhece “graves erros de avaliação” no caso Barros, as vítimas do caso Karadima confirmaram que foram convidadas pelo Vaticano a uma reunião, nas próximas semanas, para conversar sobre o assunto.
James Hamilton, Juan Carlos Cruz e José Andrés Murillo destacaram que estão avaliando as possibilidades de comparecer a esta reunião e que reconhecem o gesto do Pontífice, que também pediu perdão.
“O dano cometido pela hierarquia da Igreja chilena, ao qual o Papa se refere, atingiu muitas pessoas, não só a nós”, apontaram em um comunicado.
“O sentido de todas as nossas ações sempre apontou para o reconhecimento, o perdão e a reparação pelo que se sofreu, e assim continuará sendo até que a tolerância zero ao abuso e ao acobertamento na Igreja se torne realidade”, acrescentaram.
Por sua parte, a organização de leigos de Osorno destacaram que a mensagem de Francisco “é mais do que esperavam”, segundo ressaltou seu porta-voz, Mario Vargas. Ao mesmo tempo, destacou que “foi importante o cenário” que os leigos instalaram na diocese, com contínuos protestos.
Para esta organização, entre as soluções rápidas que o Papa menciona está a interrupção de Barros. Assim, um gesto importante foi o reconhecimento do Pontífice de seu equívoco, o que confirma uma das teses dos leigos de Osorno: que o Papa “recebia meias-verdades”.
Por sua parte, Isaac Givovich, vítima e denunciante de casos de abusos cometidos pelos Irmãos Maristas, disse em meios de comunicação locais que a carta de Francisco “é uma luz de esperança” e que a visita de Charles Scicluna “abriu uma caixa de pandora do que é a Igreja Católica chilena, entre todas as congregações e movimentos”.
“Logicamente, esperamos mais ação, ver mudanças, mas é uma luz de esperança. Chama a nossa atenção a forma. Esperamos ver mudanças”, afirmou.
Apesar de tudo, advertiu que não leu “nenhum anúncio real na carta, supõe-se que os teremos em maio, mas a Igreja precisa de ações hoje em dia. Hoje em dia, se está abusando de crianças, hoje em dia, há pessoas com sua vida destruída pelos agentes eclesiásticos”, concluiu.
Finalmente, e após a publicação da carta, o presidente da Conferência Episcopal do Chile, Santiago Silva, destacou que o Episcopado compartilha a dor do Papa: “Não fizemos todo o suficiente”, afirmou. Além disso, manifestou que “nosso compromisso é que isto não volte a se repetir”.
Em relação à alusão feita pelo Santo Padre à “falta de informação veraz e equilibrada”, dom Silva destacou sua certeza de que as autoridades da Conferência Episcopal colocaram à disposição do Papa a informação que dispunham em seu momento.
O presidente Conferência Episcopal confirmou o comparecimento de todos os bispos ao encontro convocado pelo Santo Padre, que acontecerá em Roma, na terceira semana de maio.
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