18 Outubro 2019
Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir. Ele dizia: «Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que ia à procura do juiz, pedindo: ‘Faça-me justiça contra o meu adversário!’. Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim ele pensou: ‘Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum; mas essa viúva já está me aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não fique me incomodando’». E o Senhor acrescentou: «Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa. Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?».
Leitura do Evangelho segundo Lucas 18,1-18 (Correspondente ao 29º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Nesta etapa de sua viagem a Jerusalém, Jesus continua a instruir o grupo de pessoas que o seguem sobre a importância da perseverança na oração. O texto do evangelho convida-nos a ter uma íntima relação de confiança com Deus, que se manifesta num profundo diálogo com ele nas diferentes situações do nosso quotidiano. Deus escuta o clamor do seu povo e especialmente das pessoas abandonadas e desconsideradas pela nossa sociedade.
Jesus conta para o grupo de seguidores uma parábola que narra a presença de um juiz “que não temia a Deus e não respeitava homem algum”. Desde esta descrição pode-se imaginar a vida e o atuar deste juiz: opressor e uma pessoa que só se importa consigo mesmo e seus interesses, sem nenhuma consideração nem com Deus nem com os homens. A seguir narra-se a realidade de uma viúva que “ia à procura do juiz” clamando por justiça “contra seu adversário”. A viúva é a personificação dos desprotegidos da sociedade, os que vivem em situações de pobreza e marginalidade. Com clamores insistentes e possivelmente desesperados, ela vai até o juiz à procura de justiça.
Na parábola Jesus remarca a insistência da viúva para comunicar sua mensagem. Num primeiro momento nos detemos a pensar nesta mulher, que infelizmente não era um caso especial nem na sua época nem na nossa! Mas Deus não é insensível ao clamor do seu Povo, nem permanece indiferente ao seu sofrimento.
Neste momento da sua viagem a Jerusalém, Jesus procura ensinar ao grupo de seguidores a importância de orar sempre sem desfalecer e a confiança em Deus que sempre responde ao pedido do seu Povo ainda que não seja visível no momento desejado. Lembre-se de que o evangelho de Lucas dirige-se aos cristãos que sofrem perseguições por causa da hostilidade dos judeus e romanos, e o desânimo estava neles. E Deus não faz nada para salvá-los? Ele vai deixar que seu Povo seja dizimado sem fazer nada? Como pôde permitir que isso acontecesse? Perguntas que hoje também habitam no coração e na vida de tantas pessoas diante do sofrimento de tantos inocentes, dos povos marginalizados.
Na parábola Jesus mostra que o juiz que “não teme a Deus, e não respeita homem algum” somente pelo cansaço e aborrecimento que a viúva está lhe procurando vai “fazer-lhe justiça”. O juiz não muda seu coração, sua atitude é somente para que ela não continue a incomodá-lo. Ele continua sendo insensível! Mas apesar disso ele escuta o clamor da viúva.
E Jesus disse: “Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”.
Jesus narra uma explicação da parábola passando do juiz “que não teme a Deus nem respeita os homens” a Deus que ainda com mais razão escuta o clamor e a súplica insistente do seu Povo. Se um juiz insensível acaba por fazer justiça, muito mais Deus que continuamente está preocupado por seus filhos e filhas queridos, especialmente os mais necessitados. Deus não é surdo aos nossos pedidos confiantes (cfr. Lc 11,11-13).
Quantas pessoas no Brasil e no mundo inteiro sofrem violência, marginalização e tantas formas de desproteção e violência! A viúva sabe da injustiça que está sofrendo e por isso vai à procura do juiz dia e noite. Há pessoas, especialmente mulheres e crianças, que são vítimas silenciosas de distintos tipos de violência. Neste domingo somos convidados a agudizar nossos ouvidos para escutar o grito silencioso e o clamor urgente que brota de sociedades inteiras, de milhares de pessoas que diariamente abandonam suas casas e países à procura de comida e uma vida digna.
Como disse o Papa Francisco, “os 'últimos' que clamam ao Senhor todos os dias, pedindo para serem libertados dos males que os afligem. São os últimos enganados e abandonados para morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violados em campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas de um mar impiedoso; são os últimos deixados nos campos de um acolhimento demasiado longo para ser chamado de temporário. Eles são apenas alguns dos últimos que Jesus nos pede para amar e levantar. Infelizmente, as periferias existenciais de nossas cidades são densamente povoadas de pessoas descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, pobres e sofredoras.
Como cristãos somos chamados por Jesus a manifestar o agir de Deus que escuta o clamor do seu povo e atua em consequência. Somos chamados a consolar suas aflições e oferecer-lhes misericórdia; para saciar sua fome e sede de justiça; fazê-los sentir a paternidade atenciosa de Deus. (Papa Francisco, da homilia de 8 de julho de 2019, durante a Santa Missa para os migrantes).
Deus nos chama a não desistir, mesmo que seja difícil, na certeza de que Ele está presente nessa luta, alentando, dando força e fazendo o bem e a justiça acontecer. Por isso Jesus conclui claramente: “Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa”.
“Ser cristão é exatamente o oposto de ser inerte. Existem duas maneiras de servir o inimigo de Deus e não se sabe qual das duas é a mais prejudicial. Uma consiste em ser ativo no mal, a outra consiste em ser inerte no bem". Texto completo em: “O que nos falta é uma santa raiva”
Senhor, em comunhão com todas as mulheres do mundo inteiro, pedimos-te que nos dê força para converter em realidade o que pedimos nesta oração.
Deus da Vida e do Amor,
Pai-Mãe da família humana,
que quisestes que vosso Filho
nascesse de uma mulher
e que fizesse das mulheres companheiras da sua caminhada
e testemunhas primeiras da sua ressurreição:
Ensinai à humanidade inteira
a superar toda discriminação,
a conviver em igualdade de direitos
e em harmonia de complementação,
mulheres e homens,
sendo filhas e filhos vossos,
sendo irmãs e irmãos de uma família só.
Por vosso Filho, Jesus Cristo,
Filho de Maria de Nazaré,
nosso irmão, o Libertador.
Amém, Axé, Awere, Aleluia!.
Dom Pedro Casaldáliga
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