18 Outubro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lc 18,1-20, que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Lucas narra uma breve parábola indicando-nos que Jesus a contou para explicar aos seus discípulos “como tinham de orar sempre sem desanimar”. Este tema é muito querido para o evangelista que, em várias ocasiões, repete a mesma ideia. Como é natural, a parábola foi lida, quase sempre, como um convite para cuidar da perseverança da nossa oração a Deus.
No entanto, se observamos o conteúdo do relato e a conclusão do próprio Jesus, vemos que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais do que um modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça no meio de uma sociedade corrupta que abusa dos mais fracos.
O primeiro personagem da parábola é um juiz que “nem teme a Deus nem se importa com os homens”. É a encarnação exata da corrupção que denunciam repetidamente os profetas: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres. Eles não são casos isolados. Os profetas denunciam a corrupção do sistema judicial em Israel e a estrutura machista daquela sociedade patriarcal.
O segundo personagem é uma viúva indefesa no meio de uma sociedade injusta. Por um lado, vive sofrendo os abusos de um “adversário” mais poderoso que ela. Por outro lado, é vítima de um juiz que não se importa em absoluto com a sua pessoa nem o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres de todos os tempos na maioria das terras.
Na conclusão da parábola, Jesus não fala de oração. Primeiro de tudo, pede confiança na justiça de Deus: “Deus não fará justiça aos seus eleitos que Lhe clamam dia e noite?”. Esses eleitos não são os "membros da Igreja", mas os pobres de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o reino de Deus.
Então, Jesus faz uma pergunta que é um desafio para os seus discípulos: “Quando vier o Filho do Homem, encontrará esta fé na terra?”. Não está a pensar na fé como adesão doutrinal, mas na fé que alenta a atuação da viúva, modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos corruptos.
É esta fé e a oração de cristãos satisfeitos das sociedades de bem-estar? Seguramente, tem razão J. B. Metz quando denuncia que na espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação, demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado conforto e pouca fome de justiça.
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