25 Outubro 2016
O fogo é uma técnica antiga utilizada pelos índios, para limpar a área e preparar a terra antes do cultivo. No passado, quando usado, o fogo não causava tantos problemas. Porém, em um ambiente cada vez mais seco, as condições naturais do clima que os indígenas estavam acostumados não são mais as mesmas. O risco de se perder o controle do fogo – porque a chuva atrasou, por exemplo – é bem maior agora. Consequentemente, há mais incêndios florestais e muitos indígenas estão perdendo seu cultivo de subsistência.
A reportagem é de Karinna Matozinhos, edição de Cristina Amorim, publicada por IPAM Amazônia, 20-10-2016.
Segundo a pesquisadora do IPAM, Ane Alencar, é preciso entender como as políticas públicas podem auxiliar em ano de seca extrema e trabalhar com os índios a melhor forma de manejo para enfrentar o problema. “É preciso criar os mecanismos para que eles tenham essa visão de médio prazo e possam se adequar às novas condições climáticas”, afirma Alencar.
Uma alternativa para a criação desta visão mais abrangente do problema está na plataforma SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena), desenvolvida pelo IPAM. Por meio dela, os povos tradicionais têm acesso a informações que impactam suas terras. Com o apoio do Google, nos próximos meses, um boletim digital, o Alerta Clima Indígena, será lançado para levar dados climáticos com mais antecedência aos indígenas.
“Muitos povos indígenas já relatam mudanças nos seus calendários agrícolas, afetando diretamente a segurança alimentar. Ferramenta como o SOMAI e o Alerta Clima Indígena apoiarão tomadas de decisão importantes na gestão territorial, visando a ações de adaptação para esses povos”, afirma a coordenadora do núcleo indígena do IPAM, Fernanda Bortolotto.
Não só o cultivo de subsistência precisa de adaptação. No Pará, o segundo Estado que mais produz cacau no Brasil, os agricultores estão sentindo os impactos da seca. No verão de 2015, diversos produtores relataram a mortalidade de cacaueiros. Esse ano, a safra que deveria ser colhida até agosto atrasou e é esperada uma perda de 50% da produção.
Até os produtores mais antigos estão surpresos com a situação desse ano. Élido Trevisan é um médio produtor em Medicilândia (PA), que produz cacau desde 1977. Ele conta que, em uma safra normal, sua produção é de 1.500 quilos por hectare, mas esse ano vai cair para 900 quilos. “É uma queda muito grande na colheita do cacau, ainda mais considerando que essa foi a única safra do ano. Estamos sofrendo, porque ficamos nove meses sem produção.”
*Essa é a quarta reportagem da série de reportagens especiais - O fogo na Amazônia - do IPAM.
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O fogo na Amazônia: Mais fogo, menos comida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU