Planeta perde 33 mil hectares de terra fértil por dia

Foto: www.flickr.com

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Agosto 2016

O mundo perde 12 milhões de hectares de terra fértil por ano, equivalente a 33 mil hectares diários, de 30 a 35 vezes mais do que a proporção histórica. Estudos científicos calculam que a superfície terrestre em condições de seca passou de 10% para 15% no começo dos anos 1970, para mais de 30% no início de 2000, e que esses números continuarão aumentando.

A reportagem é de Baher Kamal, publicada por Envolverde/IPS, 19-08-2016. 

Embora as secas ocorram em todas as partes, a África parece ser o continente mais prejudicado. Segundo a Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UNCCD), dois terços das terras africanas são desertas ou áridas.O desafio é enorme para o segundo maior continente do planeta, com 1,2 bilhão de habitantes distribuídos em 54 países, que foi a região mais afetada em 2015-2016 pelo fenômeno climatológico El Niño.

“Em nível mundial, as secas são cada vez mais graves, mais frequentes, têm maiores duração e extensão espacial. Seu impacto é cada vez maior, e inclui o deslocamento humano em massa e a migração. A seca atual é evidência”, afirmou Daniel Tsegai, funcionário da UNCCD, na Conferência sobre a Seca na África, organizada por esse organismo e pelo governo da Namíbia, que termina hoje, em Windhoek, capital desse país.

A Conferência insiste na “resiliência diante da seca”. Tsegai destacou à IPS que “a resiliência diante da seca se define simplesmente como a capacidade de um país para sobreviver secas consecutivas e recuperar as condições prévias. Para começar, há quatro aspectos na seca, o meteorológico (clima), o hidrológico (águas superficiais), o agrícola (cultivo) e o socioeconômico (as consequências para os seres humanos)”.

Para Tsegai, os principais obstáculos para se conseguir a resiliência diante da seca na África são:

1. Falta de uma adequada base de dados que inclua clima, recursos hídricos – superficiais e subterrâneos –, umidade do solo e incidências de secas passadas e seus impactos;
2. Má coordenação entre os diversos setores e atores relevantes em um país e entre países de uma região;
3. Baixo nível de capacidade para aplicar medidas de redução do risco de seca, especialmente em nível local;
4. Falta de vontade política para implantar políticas nacionais contra a seca;
5. O elemento econômico da preparação para a seca não é bem investigado.

Quanto aos objetivos da UNCCD, Tsegai apontou que essa Convenção procura melhorar a produtividade da terra, restaurá-la ou preservá-la para estabelecer um uso mais eficiente da água e melhorar as condições de vida das populações afetadas pela seca e a desertificação, destacando algumas das estratégias que podem ser adotadas para aumentar a resiliência diante da seca.

Primeiro, uma mudança na maneira de lidar com o problema. Devemos mudar a forma de pensar sobre a seca, explicou. “A seca já não é mais um evento isolado e nem mesmo uma crise. Será mais frequente, grave e de maior duração. É um risco constante”, ressaltou.“Portanto, temos que deixar de ser reativos e ser proativos, passar do enfoque da gestão da crise para a gestão de riscos, do enfoque fragmentado para um mais coordenado e integrado. Tratar a seca como uma crise implica tratar os sintomas e não as causas”, alertou Tsegai, acrescentando que, “em resumo, o caminho a seguir é o desenvolvimento de uma política nacional contra a seca baseada nos princípios da redução do risco”.

Em segundo lugar é necessário fortalecer os sistemas de controle e de alerta das secas. Também é importante avaliar a vulnerabilidade do país diante do fenômeno e realizar perfis de risco: quem será afetado, em que áreas e quais serão os impactos.As medidas de redução do risco incluem o desenvolvimento de sistemas de irrigação sustentável para os cultivos e o gado, acompanhamento e medição do abastecimento de água e seus usos, reciclagem e reutilização das águas, possibilidade de cultivos mais tolerantes à seca e ampliação de seguros das colheitas.

Tsgai espera cinco resultados da Conferência de Windhoek:

1. Um documento de estratégia comum em nível de África para fortalecer a preparação do continente diante da seca, que possa ser aplicado e compartilhado entre os países;

2. Que leve ao desenvolvimento de políticas nacionais integradas destinadas à construção de sociedades mais resilientes à seca, baseadas no uso sustentável e na gestão dos recursos naturais (terra, floresta, biodiversidade, água, energia, etc.);

3. Espera-se que os países acordem um protocolo que seja vinculante e que será apresentado na Conferência Ministerial Africana sobre o ambiente, em 2017, para sua aprovação na Cúpula da União Africana (UA);

4. Os resultados da Conferência serão apresentados aos governantes da UA para obter seu apoio;

5. E também que a fortaleça as alianças e a cooperação Sul-Sul para apoiar o desenvolvimento de políticas nacionais e a melhora das já existentes sobre gestão da seca.

Leia mais...

O clima na era dos humanos

Seca, pobreza e ausência do Estado agravam a fome na Somália

Estudo americano liga seca na África a mudança climática

Pior seca em 30 anos na África agrava situação de insegurança alimentar

Seca no Nordeste e as consequências da má gestão dos recursos hídricos. Entrevista especial com João Abner Guimarães Júnior

El Niño destrói colheitas na África

Fome e seca: assim a África morre