Esperança em meio ao lixo e à sujeira: crianças em um aterro de lixo eletrônico. Artigo de Sabrina Wiesen

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Mais Lidos

  • "Teologia de ganso": a arte de formar presbíteros impermeáveis à realidade. Artigo de Eliseu Wisniewski

    LER MAIS
  • O drama silencioso do celibato sacerdotal: pastores sozinhos, uma Igreja ferida. Artigo de José Manuel Vidal

    LER MAIS
  • A herança escravocrata dos setores poderosos da sociedade brasileira agrava a desigualdade e mantém o privilégio dos ricos

    O assalto do Banco Master foi contratado pelas elites financeira e política. Entrevista especial com André Campedelli

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Dezembro 2025

"É um lugar quase surreal: cerca de 150 mil pessoas, incluindo muitas crianças, vivem em um gigantesco aterro de lixo eletrônico na capital de Gana. Mas, à beira do caos, uma luz brilhante resplandece: um lugar que oferece esperança e muito mais", escreve Sabrina Wiesen, chefe da equipe de comunicação online da missio Aachen, em artigo publicado por Katholisch, 14-12-2025.

Eis o artigo.

Em viagens de negócios, muitas vezes acabo em lugares que mal conseguiria imaginar quando morava na Alemanha. "Vamos a um aterro de lixo eletrônico", me disseram antes da viagem para Gana. Dei de ombros, pensando: o que poderia haver de tão especial nisso? Mas assim que chegamos, percebi que não tinha conseguido formar a menor ideia de como era aquele lugar.

Acompanhados pelas buzinas incessantes e pelos gritos dos vendedores ambulantes, seguimos nosso caminho pela empoeirada capital, Accra. Ao chegarmos a Agbogbloshie, fiquei sem palavras. Cerca de 16 quilômetros quadrados de lixão eletrônico. Estima-se que 150.000 pessoas vivam e trabalhem ali, em meio a sucata vinda de todo o mundo, inclusive da Alemanha. Elas moram em barracos improvisados ​​de madeira, barro e chapas de metal ondulado. Não há estradas, apenas trilhas empoeiradas onde pessoas, motocicletas, animais e lixo eletrônico disputam espaço. Os sons parecem vir de todas as direções: marteladas, serras e motores falhando. Mal sei para onde olhar primeiro e sigo meu colega, que já esteve ali várias vezes.

Recuar para uma geladeira descartada

Então os cheiros me atingiram. Restos de comida, diesel, lixo, óleo, animais e o calor opressivo que intensifica tudo. Meus sentidos estão completamente sobrecarregados. Em meio às pilhas de lixo, vejo vacas e cabras magras comendo pedaços de plástico ou restos de comida. E em meio a esse caos, repetidamente, crianças. Algumas estão com seus pais, outras brincam no meio do lixo. Um menino se refugiou em uma geladeira descartada para escapar do sol. Essa imagem ainda me assombra.

De repente, um cheiro forte e acre toma conta do ar: plástico queimado. Aqui, as capas dos cabos estão sendo queimadas para expor o cobre. Não há água corrente; um sistema de esgoto é impensável. Banheiros a céu aberto servem como alternativa, disponíveis mediante pagamento.

Naquele instante, o pensamento me atinge com toda a força: Pessoas moram aqui. Crianças. Mais tarde, poderei voltar para um quarto de hotel com ar-condicionado e lavar a poeira da minha pele. O peso dessa constatação se instala como um fardo sobre todo o nosso grupo. Sinto minhas feições congelarem. Sinto um vazio.

E então acontece algo que me lembra constantemente por que faço este trabalho.

Um raio de esperança em meio ao caos

Conhecemos o nosso parceiro de projeto, o Padre Subash. Juntamente com a Irmã Angelina, ele fundou a "Cidade de Deus" numa casa de dois andares. Ali, cerca de 60 crianças recebem uma refeição diária, cuidados médicos e apoio. É um lugar que irradia segurança.

No dia seguinte, celebramos a inauguração do novo centro de proteção infantil na periferia do ferro-velho. Um projeto viabilizado pela missio em parceria com a "A Heart for Children". Cinco salas iluminadas e adequadas para crianças, e uma área de recreação externa protegida. Macacos, tigres e outros animais enfeitam as portas das salas. Penso comigo mesma: "Igualzinho às creches e escolas primárias alemãs". Um sorriso de satisfação surge em meus lábios. E então, o momento: as crianças entram rindo, pulam na cama elástica, correm atrás da bola, sem medo de bordas de metal ou cacos de vidro. Elas podem desenhar e brincar com brinquedos limpos. Em seus rostos, vejo o que a esperança pode alcançar, mesmo onde as condições de vida são quase insuportáveis.

Estou ao lado dela e quase choro de alegria. Em meio a todo esse caos, sujeira e lixo descartado, um raio de luz surge aqui, um vislumbre do futuro que traz esperança. E eu tive a sorte de fazer parte disso.

Leia mais