30 Janeiro 2019
O fato de que as inovações tecnológicas sejam acessíveis a cada vez mais pessoas também possui um custo devastador: a cada ano, acumulam-se 50 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos em todo o planeta.
A reportagem é de Thalif Deen, publicada por Rebelión/IPS, 29-01-2019. A tradução é do Cepat.
Esse número significa um peso superior ao da sucata deste tipo gerada pelas companhias aéreas comerciais de todo o mundo, ou torres Eiffel suficientes para encher o bairro nova-iorquino de Manhattan.
É o que adverte o relatório A New Circular Vision for Electronics – Time for a Global Reboot (uma nova visão circular para a eletrônica: tempo para o reinício global), divulgado na quinta-feira, dia 24, no Fórum Econômico Mundial de Davos.
Na atualidade, recicla-se formalmente apenas 20% dos resíduos eletrônicos, o que inclui computadores em suas diferentes versões, telefones celulares, televisões, impressoras e uma ampla gama de eletrodomésticos.
A Universidade das Nações Unidas (UNU), coautora do relatório, prognostica que, caso não se produza nenhuma mudança, os resíduos tecnológicos poderão quase triplicar no ano 2050.
É difícil avaliar quantos produtos eletrônicos são fabricados anualmente, segundo o estudo. No entanto, caso se considere somente os aparelhos conectados à Internet, estes totalizam uma soma muito maior que a de humanos, cuja população mundial é de cerca de 7,7 bilhões.
O relatório, apoiado por sete agências da Organização das Nações Unidas (ONU), destaca que a rápida inovação e a redução de custos aumentaram drasticamente o acesso a produtos eletrônicos e tecnologia digital, acarretando muitos benefícios.
Ao mesmo tempo, isto levou a um maior uso desses aparelhos, e o efeito colateral passa a ser a multiplicação dos resíduos que os mesmos geram quando deixam de ser usados.
Atualmente, os resíduos eletrônicos constituem o lixo de mais rápido crescimento no mundo, destaca o relatório.
Existem legislações que tornam obrigatória a reciclagem de resíduos eletrônicos, disse à IPS Ruediger Kuehr, coautor do relatório e diretor do Programa de Ciclos Sustentáveis SCYCLE, da UNU, e do alemão Instituto para o Meio Ambiente e a Segurança Humana, citando o caso da União Europeia (UE).
Este ano, deveria ser reciclado 85% de todos os resíduos tecnológicos gerados na UE. No entanto, este objetivo não será alcançado em absoluto, observou.
O principal desafio é coletar tal tipo de lixo, e as últimas tentativas de melhorar esta atividade, obrigando comerciantes a aceitar aparelhos obsoletos, não foram frutíferas.
Daí a necessidade de legislações sobre reciclagem de resíduos eletrônicos em inovadores sistemas de coleta, explicou Kuehr, entre outras iniciativas, como criar a consciência entre os consumidores para que devolvam os equipamentos obsoletos assim que deixarem de utilizá-los.
Tudo isto aliviará as tarefas de coleta, porque o produto continuará sendo propriedade do produtor, disse. Os pontos de reciclagem ou recipientes para juntar essa sucata são fundamentais, mas não suficientes, acrescentou.
“Portanto, a mera legislação sobre resíduos eletrônicos não mudará as coisas, especialmente porque em muitos países não se aplica”, advertiu Kuehr.
Segundo o estudo, o lixo eletrônico supõe uma oportunidade avaliada em 62,5 bilhões de dólares por ano, mais que o produto interno bruto da maioria dos países e o triplo da produção das minas de prata do mundo.
Há 100 vezes mais ouro em uma tonelada de resíduos eletrônicos que em uma tonelada de minério de ouro, destaca o texto.
O relatório convoca para a criação de uma nova visão baseada na economia circular e na necessidade de colaboração com as grandes marcas, bem como com pequenas e médias empresas, com a academia, os sindicatos, a sociedade civil e suas associações, em um processo deliberativo para mudar o sistema.
Kuehr disse à IPS que alguns políticos e industriais consideram que o problema dos resíduos eletrônicos deve ser resolvido de maneira sustentável, embora os números indiquem o contrário. E acrescentou que mesmo que o assunto tenha avançado na agenda política, também dentro da ONU, ainda não recebe a importância que merece.
Para implementar soluções sustentáveis são necessários esforços internacionais em parte revolucionários e harmonizados entre si, opinou, destacando que se deve pesquisar mais neste sentido.
O estudo cita vários exemplos concretos da batalha contra o lixo eletrônico em uma economia circular.
Na Nigéria, que gera 500.000 toneladas anuais destes resíduos, o governo nacional, o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (mais conhecido em sua sigla em inglês GEF) e ONU Meio Ambiente anunciaram uma iniciativa conjunta para criar uma indústria formal de sua reciclagem, na qual o setor privado também investirá.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), neste setor trabalham de maneira informal 100.000 nigerianos, que com isto poderão formalizar sua situação trabalhista.
Na América Latina e Caribe, um projeto sobre lixo tecnológico da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), cofinanciado pelo GEF, busca promover o desenvolvimento sustentável em 13 países, ajudando a estabelecer estratégias em cada um deles e potencializando a cooperação regional.
O estudo apresentado esta semana é resultado do trabalho da E-waste Coalition, ou coalizão de resíduos eletrônicos, que inclui a OIT, a União Internacional de Telecomunicações (UIT), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente), Onudi, o Instituto das Nações Unidas para a Formação Profissional e Investigações (Unitar), a UNU e os secretariados das convenções de Basileia e Estocolmo.
A coalizão conta com o apoio do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e o Fórum Econômico Mundial, e é coordenada pela Secretaria do Grupo de Gestão Ambiental (EMG) da ONU.
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Mundo possui mais lixo eletrônico que humanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU