21 Junho 2021
Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que cerca de 12,9 milhões de mulheres estão trabalhando no setor informal de resíduos, o que potencialmente as expõe ao lixo eletrônico tóxico e as coloca em risco, junto com seus filhos.
A reportagem é da Organização das Nações Unidas Brasil, 16-06-2021. Reproduzida por EcoDebate.
Além disso, mais de 18 milhões de crianças e adolescentes, alguns com apenas cinco anos de idade, estão ativamente engajados no setor industrial informal, do qual o processamento de resíduos é um subsetor.
Crianças expostas ao lixo eletrônico são particularmente vulneráveis aos produtos químicos tóxicos que eles contêm, principalmente mercúrio e chumbo. Por serem menores, com órgãos menos desenvolvidos e ritmo acelerado de crescimento em comparação com os adultos, são mais afetadas.
O relatório exige uma ação eficaz e vinculativa por parte dos exportadores, importadores e governos para garantir o descarte ambientalmente correto do lixo eletrônico e a saúde e segurança dos trabalhadores, de suas famílias e comunidades.
Foto: ITU
Uma ação eficaz e vinculativa é urgentemente necessária para proteger milhões de crianças, adolescentes e mulheres grávidas em todo o mundo cuja saúde é ameaçada pelo processamento informal de dispositivos elétricos ou eletrônicos descartados, revela um novo e inovador relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS): Children and Digital Dumpsites (Crianças e lixões eletrônicos, em tradução livre).
“Com volumes crescentes de produção e descarte, o mundo enfrenta o que um recente fórum internacional descreveu como um crescente ‘tsunami de lixo eletrônico’, colocando vidas e a saúde em risco”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Da mesma forma que o mundo se uniu para proteger os mares e seus ecossistemas da poluição por plásticos e microplásticos, precisamos nos unir para proteger nosso recurso mais valioso – a saúde de nossas crianças – da crescente ameaça do lixo eletrônico”, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Cerca de 12,9 milhões de mulheres estão trabalhando no setor informal de resíduos, o que potencialmente as expõe ao lixo eletrônico tóxico e as coloca em risco, junto com seus filhos.
Enquanto isso, mais de 18 milhões de crianças e adolescentes, alguns com apenas cinco anos de idade, estão ativamente engajados no setor industrial informal, do qual o processamento de resíduos é um subsetor. As crianças são frequentemente envolvidas pelos pais ou responsáveis na reciclagem de lixo eletrônico porque suas mãos pequenas são mais hábeis do que as dos adultos. Outras crianças vivem, vão à escola e brincam perto de centros de reciclagem de lixo eletrônico, onde altos níveis de produtos químicos tóxicos, principalmente chumbo e mercúrio, podem prejudicar suas habilidades intelectuais.
Crianças expostas ao lixo eletrônico são particularmente vulneráveis aos produtos químicos tóxicos que eles contêm devido ao seu tamanho menor, órgãos menos desenvolvidos e ritmo acelerado de crescimento e desenvolvimento. Elas absorvem mais poluentes em relação ao seu tamanho e são menos capazes de metabolizar ou eliminar substâncias tóxicas de seus corpos.
Impactos na saúde humana – Com o objetivo de recuperar materiais valiosos como cobre e ouro, trabalhadores correm o risco de exposição a mais de mil substâncias nocivas, incluindo chumbo, mercúrio, níquel, retardantes de chamas bromados e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA).
Para uma futura mãe, a exposição ao lixo eletrônico tóxico pode afetar a saúde e o desenvolvimento de seu feto para o resto da vida. Os potenciais efeitos adversos à saúde incluem natimortos e prematuros, bem como baixo peso e estatura ao nascer. A exposição ao chumbo em atividades de reciclagem do lixo eletrônico tem sido associada a pontuações de avaliação neurológica comportamental neonatal significativamente reduzidas, aumento das taxas de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), problemas comportamentais, mudanças no temperamento infantil, dificuldades de integração sensorial, redução dos escores cognitivos e linguísticos.
Foto: OMS
Outros impactos adversos à saúde infantil associados ao lixo eletrônico incluem alterações na função pulmonar, efeitos respiratórios, danos ao DNA, prejuízos à função da tireoide e aumento do risco de algumas doenças crônicas tardias, como câncer e doenças cardiovasculares.
“Uma criança que come apenas um ovo de galinha em Agbogbloshie, um depósito de lixo em Gana, vai absorver 220 vezes o limite diário estabelecido pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar para ingestão de dioxinas cloradas”, explicou a principal autora do relatório da OMS, Marie-Noel Brune Drisse.
“A gestão inadequada do lixo eletrônico é a causa. Este é um problema crescente que muitos países ainda não reconhecem como um problema de saúde. Se não agirem agora, seus impactos terão um efeito devastador na saúde das crianças e representarão uma pesada carga para o setor de saúde nos próximos anos”, Marie-Noel Brune Drisse, principal autora do relatório da OMS.
Um problema em rápida escalada – Os volumes de lixo eletrônico estão aumentando mundialmente. De acordo com a Global E-waste Statistics Partnership (GESP), eles cresceram 21% nos cinco anos até 2019, quando 53,6 milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico foram geradas. Comparativamente, o lixo eletrônico do ano passado pesava tanto quanto 350 navios de cruzeiro colocados ponta a ponta em uma linha de 125 km de comprimento. Projeta-se que esse crescimento continue à medida que o uso de computadores, telefones celulares e outros eletrônicos continua a se expandir, junto com sua rápida capacidade de ficarem obsoletos.
Apenas 17,4% do lixo eletrônico produzido em 2019 chegou a instalações formais de gerenciamento ou reciclagem. De acordo com as estimativas mais recentes da GESP, o restante foi despejado ilegalmente, predominantemente em países de baixa ou média renda, onde é reciclado por trabalhadores informais.
A coleta e a reciclagem adequadas do lixo eletrônico são essenciais para proteger o meio ambiente e reduzir as emissões climáticas. Em 2019, a GESP constatou que 17,4% do lixo eletrônico coletado e devidamente reciclado evitou que até 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente fossem lançados no meio ambiente.
Uma proporção significativa do lixo eletrônico produzido todos os anos é exportada de países de alta renda para países de baixa e média renda, onde pode haver falta de regulamentação ou onde a regulamentação existe, mas pode ser mal aplicada. O lixo eletrônico é desmontado, reciclado e reformado em ambientes onde a infraestrutura, o treinamento e as salvaguardas ambientais e de saúde são inexistentes ou mal cumpridos. Isso coloca os trabalhadores que lidam com lixo eletrônico, suas famílias e comunidades em maior perigo de ter efeitos adversos à saúde decorrentes das atividades de reciclagem do lixo eletrônico.
Chamado à ação – O relatório exige uma ação eficaz e vinculativa por parte dos exportadores, importadores e governos para garantir o descarte ambientalmente correto do lixo eletrônico e a saúde e segurança dos trabalhadores, suas famílias e comunidades; monitorar a exposição ao lixo eletrônico e os desfechos de saúde; facilitar o melhor reaproveitamento de materiais; e estimular a fabricação de equipamentos eletrônicos e elétricos mais duráveis.
O documento também pede que a comunidade da saúde tome medidas para reduzir os efeitos adversos à saúde relacionados ao lixo eletrônico, construindo a capacidade do setor de saúde para diagnosticar, monitorar e prevenir a exposição tóxica entre crianças e mulheres, aumentando a conscientização sobre os potenciais cobenefícios de uma reciclagem mais responsável, trabalhando com as comunidades afetadas e defendendo melhores dados e pesquisas relacionadas aos os riscos à saúde enfrentados por trabalhadores informais expostos a lixo eletrônico.
“Crianças e adolescentes têm o direito de crescer e aprender em um ambiente saudável, e a exposição a resíduos elétricos e eletrônicos e seus muitos componentes tóxicos inquestionavelmente impacta nesse direito”, Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS.
“O setor de saúde pode desempenhar um importante papel, fornecendo liderança e advocacy, conduzindo pesquisas, influenciando formuladores de políticas, envolvendo comunidades e alcançando outros setores para exigir que as questões de saúde se tornem centrais nas políticas relacionadas a lixo eletrônico”, completou Neira.
Sobre o relatório – A iniciativa da OMS sobre lixo eletrônico e saúde infantil, lançada em 2013, tem o objetivo de aumentar o acesso a evidências, conhecimento e conscientização sobre os impactos do lixo eletrônico na saúde; melhorar a capacidade do setor de saúde para gerenciar e prevenir riscos, acompanhar o progresso e promover políticas relacionadas a lixo eletrônico que protejam a saúde infantil; e melhorar o monitoramento da exposição ao lixo eletrônico e a promoção de intervenções que protejam a saúde pública.
O relatório foi produzido com a contribuição e apoio da E-Waste Coalition, um grupo de 10 agências da ONU e organizações internacionais, incluindo a OMS, que se uniram para aumentar a colaboração, construir parcerias e fornecer apoio mais eficiente aos Estados Membros para abordar o desafio do lixo eletrônico.
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Aumento do lixo eletrônico afeta saúde de milhões de mulheres e crianças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU