14 Julho 2020
Em 2019, apenas 17,4% dos resíduos eletrônicos foram coletados e reciclados no mundo.
Isso significa que ouro, prata, cobre, platina e outros materiais recuperáveis de alto valor, avaliados em 57 bilhões de dólares foram principalmente descartados ou queimados, em vez de coletados para tratamento e reutilização.
A reportagem é publicada por ONU News, 07-07-2020.
Desde 2014, o número de países que adotaram uma política, legislação ou regulamentação nacional de resíduos eletrônicos aumentou de 61 para 78. Embora seja uma tendência positiva, isso está longe da meta estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) de aumentar para 50% o percentual de países com uma legislação sobre resíduos eletrônicos.
Um recorde de 53,6 milhões de toneladas métricas (Mt) de resíduos eletrônicos foi gerado em todo o mundo em 2019, o que representa um aumento de 21% em apenas cinco anos, de acordo com o Global E-waste Monitor 2020 das Nações Unidas, divulgado na semana passada (disponível, em inglês, neste link).
O novo relatório também prevê que os resíduos eletrônicos globais – produtos descartados com bateria ou plugue – totalizarão 74 milhões de toneladas em 2030, quase dobrando em apenas 16 anos.
Isso implica os resíduos eletrônicos como a categoria de resíduos domésticos que mais cresce no mundo, alimentada principalmente por maiores taxas de consumo de equipamentos elétricos e eletrônicos, ciclos de vida curtos e poucas opções de reparo.
Em 2019, apenas 17,4% dos resíduos eletrônicos foram coletados e reciclados. Isso significa que ouro, prata, cobre, platina e outros materiais recuperáveis de alto valor, avaliados em 57 bilhões de dólares – um montante superior ao PIB de alguns países – foram principalmente descartados ou queimados, em vez de coletados para tratamento e reutilização.
Segundo o relatório, a Ásia gerou o maior volume de resíduos eletrônicos em 2019 – cerca de 24,9 milhões de toneladas (Mt), seguido pelas Américas (13,1 Mt) e Europa (12 Mt), enquanto África e Oceania geraram 2,9 Mt e 0,7 Mt, respectivamente.
Para efeitos comparativos, os resíduos eletrônicos do ano passado pesavam substancialmente mais do que todos os adultos da Europa, ou 350 navios de cruzeiro do tamanho do Queen Mary 2, o suficiente para formar uma fila de 125 km de comprimento.
Os resíduos eletrônicos são um risco à saúde e ao meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas, como o mercúrio, que danificam o cérebro e/ou o sistema de nervoso humano.
Outras descobertas-chave do Global E-waste Monitor 2020:
• O gerenciamento adequado de resíduos eletrônicos pode ajudar a mitigar o aquecimento global. Em 2019, cerca de 98 Mt de equivalentes de CO2 foram lançados na atmosfera a partir de geladeiras e aparelhos de ar condicionado descartados, contribuindo para aproximadamente 0,3% das emissões globais de gases de efeito estufa.
• Em termos per capita, foram descartados no último ano, em média, 7,3 kg de resíduos eletrônicos para cada homem, mulher e criança na Terra.
• A Europa ocupou o primeiro lugar no mundo em termos de geração de resíduos eletrônicos per capita, com 16,2 kg per capita. A Oceania ficou em segundo lugar (16,1 kg), seguida pelas Américas (13,3 kg). Ásia e África ficaram mais abaixo no ranking, com 5,6 e 2,5 kg, respectivamente.
• O lixo eletrônico é um risco à saúde e ao meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas, como o mercúrio, que danifica o cérebro e/ou o sistema nervoso humano. Estima-se que, anualmente, 50 toneladas de mercúrio – usado em monitores, PCBs e lâmpadas fluorescentes ou de baixo consumo energético – estejam contidas em fluxos não documentados de resíduos eletrônicos.
• Os resíduos eletrônicos de 2019 são compostos principalmente por pequenos equipamentos (17,4 Mt), grandes equipamentos (13,1 Mt) e equipamentos de troca térmica (10,8 Mt). Telas e monitores, pequenos equipamentos de Tecnologias da Informação (TI) e de telecomunicações e lâmpadas representaram 6,7 Mt, 4,7 Mt e 0,9 Mt, respectivamente.
• Desde 2014, as categorias de resíduos eletrônicos que crescem mais rapidamente em termos de peso total são: equipamentos de troca térmica (+7%), equipamentos grandes (+5%), lâmpadas e equipamentos pequenos (+4%). Segundo o relatório, essa tendência é impulsionada pelo crescente consumo desses produtos em países de baixa renda, onde esses produtos tendem a melhorar a qualidade de vida. Pequenos equipamentos de TI e telecomunicações cresceram mais lentamente, e as telas e monitores mostraram uma ligeira queda (-1%), explicada em grande parte pela substituição de telas pesadas e monitores de tubos de raios catódicos (CRT) por telas planas mais leves.
• Desde 2014, o número de países que adotaram uma política, legislação ou regulamentação nacional de resíduos eletrônicos aumentou de 61 para 78. Embora seja uma tendência positiva, isso está longe da meta estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) de aumentar para 50% o percentual de países com uma legislação sobre resíduos eletrônicos.
O Global E-waste Monitor 2020 é fruto da parceria da Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos (AMCERE), formada pela Universidade das Nações Unidas (UNU), a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), em estreita colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha também contribuíram substancialmente para o Global E-waste Monitor 2020.
“As conclusões do Global E-waste Monitor deste ano, filiado à UNU, sugerem que a humanidade não está implementando suficientemente os ODS. Esforços substancialmente maiores são urgentemente necessários para garantir que a produção, o consumo e o descarte de resíduos elétricos e eletrônicos sejam mais inteligentes e sustentáveis em escala global. Este relatório contribui fortemente para o senso de urgência em mudar esse perigoso padrão global”, disse David M. Malone, reitor da Universidade das Nações Unidas (UNU) e subsecretário-geral da ONU.
Nikhil Seth, diretor-executivo do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR), lembrou que na maior parte do mundo, muito mais resíduos eletrônicos são gerados do que reciclados de maneira segura. “São necessários mais esforços cooperativos para visibilizar esse crescente problema e tomar medidas adequadas, apoiadas por pesquisa e treinamento adequados. Estou satisfeito que o UNITAR agora se junte a esta importante Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos da UNU, ITU e ISWA, ilustrando o quanto essas atividades são valiosas.”
Para Doreen Bogdan-Martin, diretora do Escritório de Desenvolvimento de Telecomunicações da UIT, o Global E-waste Monitor destaca a questão premente do gerenciamento dos resíduos eletrônicos no mundo digitalmente conectado de hoje, no qual a maneira como produzimos, consumimos e descartamos dispositivos eletrônicos se tornou insustentável.
“O monitoramento dos fluxos de resíduos eletrônicos contribuirá para a consecução dos ODS e para o acompanhamento da implementação da Agenda Conectar 2030 da UIT. O Monitor serve como um recurso valioso para que os governos melhorem suas taxas globais de reciclagem de resíduos eletrônicos, desenvolvendo as políticas e a as legislações necessárias/requeridas. A UIT continuará apoiando os esforços feitos neste relatório em direção à resposta global necessária na identificação de soluções para os resíduos eletrônicos.”
Antonis Mavropoulos, presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), lembrou que a quantidade de resíduos eletrônicos está aumentando três vezes mais rápido que a população mundial e 13% mais rápido que o PIB mundial durante os últimos cinco anos.
Segundo ele, esse aumento acentuado cria pressões ambientais e de saúde substanciais e demonstra a urgência de combinar a quarta revolução industrial com a economia circular. “A quarta revolução industrial promoverá uma nova abordagem da economia circular para nossas economias ou estimulará o esgotamento de recursos e novas ondas de poluição. O progresso alcançado no monitoramento de lixo eletrônico pela Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos é um sinal de esperança de que o mundo possa não apenas monitorar de perto o aumento dos resíduos eletrônicos, mas também controlar seus impactos e estabelecer sistemas de gestão adequados.”
Para Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, a reciclagem informal e inadequada de resíduos eletrônicos é um grande risco emergente que afeta silenciosamente nossa saúde e a das gerações futuras.
“Uma em cada quatro crianças está morrendo devido a exposições ambientais evitáveis. Uma em cada quatro crianças pode ser salva se agirmos para proteger sua saúde e garantir um ambiente seguro. A OMS tem o prazer de unir forças neste novo Global E-waste Monitor para permitir que evidências, informações sobre impactos na saúde e soluções e políticas conjuntas sejam disponibilizadas para proteger a saúde de nossas futuras gerações.”
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Volume de resíduos eletrônicos aumenta mais de 21% em 5 anos no mundo, atingindo 53,6 milhões de toneladas métricas (Mt) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU