O desafio EUA-China pelo continente: a África se torna a verdadeira protagonista

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15 Novembro 2025

Uma oportunidade formidável? Ou um novo e mortal risco para o continente? Uma coisa é certa: como escreve a Newsweek, “a enorme riqueza mineral da África está remodelando as dinâmicas do poder global no século XXI”, desencadeando uma nova disputa geopolítica. É evidente quem são os “atores” envolvidos nessa corrida hoje: China e Estados Unidos. Um jogo em que papéis (e preeminências) pareciam definidos. Com o gigante asiático em uma posição de força aparentemente inabalável. No entanto, como mostram os dados elaborados pela Iniciativa de Pesquisa China-África da Universidade Johns Hopkins, algo está mudando. Em 2023, os Estados Unidos investiram US$ 7,8 bilhões na África, em comparação com os US$ 4 bilhões da China. Ultrapassaram, portanto, — “silenciosamente”, como ressalta a BBC — a China como “o maior investidor estrangeiro direto na África”. Isso não acontecia desde 2012.

A reportagem é de Luca Miele, publicada por Avvenire, 11-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Esse fluxo é controlado pela agência governamental chamada Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA. Criada em 2019, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, a agência não esconde sua ambição: contrapor Pequim. Seu site deixa claro: sua razão de ser é “contrapor a presença da China em regiões estratégicas”. O que está em “jogo”?

Como explicam os analistas, o que está em jogo é mais do que a simples rivalidade entre a primeira e a segunda maior economia do mundo. É algo mais: a liderança tecnológica, aquela que garantirá uma posição dominante no futuro geopolítico. É aí que a África entra em cena. O continente africano detém quase 30% das reservas mundiais de minerais como cobalto, lítio e terras raras. As mesmas que alimentarão setores estratégicos da economia global, desde a eletrônica e as telecomunicações até as energias renováveis, a defesa e os sistemas aeroespaciais.

Com a demanda global em ascensão — cuja previsão é aumentar de duas a dez vezes até 2050 — o papel da África se tornará cada vez mais preponderante. Quem vencerá a corrida? É possível arriscar palpites? Na realidade, o cenário é complexo e multifacetado. E o embate está longe de estar decidido. A China possui uma série de vantagens indiscutíveis. Em primeiro lugar, seu domínio no refino e trabalho. “Mesmo quando as matérias-primas são extraídas fora da China”, escreve a Newsweek, “até 60-80% da capacidade global de refino, particularmente de cobalto, lítio e terras raras, acontece na China. Isso permite que Pequim controle as cadeias de suprimentos globais”. O segundo ponto forte do gigante asiático: o comércio. Nos últimos 20 anos, Pequim se tornou o principal parceiro comercial bilateral da África Subsaariana.

Em 2003, a China liderava o comércio com 18 países africanos, representando 35% do total. Vinte anos depois, esse mesmo número disparou: 52 das 54 nações africanas (97%) comercializam mais com a China do que com os Estados Unidos. Segundo o Fundo Monetário Internacional, aproximadamente 20% das exportações da região são destinadas à China, e 16% das importações africanas vêm do gigante asiático. Em 2024, o comércio entre a China e a África atingiu US$ 295 bilhões, um aumento de 6% em relação ao ano anterior. Então, o jogo acabou? Os EUA não parecem estar resignados ao primado asiático. Pelo contrário, iniciaram uma virada diplomática na tentativa de reabrir o jogo.

O acordo de paz intermediado pelo presidente dos EUA entre a República Democrática do Congo e Ruanda. O acordo visa estabilizar o leste do Congo, região que abriga recursos minerais vitais. “O acordo marca uma mudança significativa na política dos EUA, vinculando diretamente os esforços de construção da paz ao acesso estratégico aos recursos”, conclui o Newsweek. Até aqui, a competição entre os dois gigantes. Dessa forma, justamente o ator que deveria ser o protagonista de todo o processo corre o risco de ficar na sombra: a África. Será que o continente conseguirá libertar-se de “cortejos” interesseiros e lógicas “predatórias”, para transformar as riquezas do seu subsolo em bem-estar generalizado? O risco é claro: o confinamento a posições marginais na cadeia de valor global. Como escreve o site de análise “The Conversation”, são necessárias estratégias claras. Sem elas, a África corre o risco de “permanecer presa à dependência, em vez de conseguir extrair um verdadeiro valor da sua imensa riqueza mineral”.

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