07 Novembro 2025
Oito cidades da Suíça francófona vão celebrar nos cinemas, em 19 e 20 de novembro, o Dia Internacional dos Direitos da Criança, com a película “On vous croit” (Nós acreditamos em você), de Charlotter Devilles e Arnaud Dufeys. O filme conta a história de Alice, uma mãe confrontada por um sistema judicial desconfiado, mais inclinado a questionar sua credibilidade do que a ouvir as vítimas.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
As sessões de visualização coletiva, explica Philip Jaffé, do Comitê dos Direitos das Crianças, da ONU, “geram responsabilidade social, uma consciência compartilhada”. O tema da violência contra crianças, alertam Sabine Bakotomalala, da Organização Mundial da Saúde, e Jaffé, passa por uma espécie de fadiga coletiva.
“Ainda existem profissionais entusiasmados e empenhados, mas o ímpeto geral diminuiu. As prioridades políticas deslocam-se para a economia ou para a segurança, em detrimento das questões psicossociais”, lamenta Jaffé. Por mais paradoxal que pareça, arrola, a resiliência de algumas vítimas alimenta a ideia de que é possível “sobreviver” a uma infância marcada por abusos, o que normaliza a violência quotidiana. Soma-se, ainda, uma dessensibilização social à violência extrema, de modo particular em zonas de conflito.
Sabine destaca a falta de conscientização sobre o custo humano e social do abuso infantil. “Muitas pessoas não compreendem o impacto duradouro dos maus-tratos na infância sobre a vida adulta: saúde, emprego, economia, coesão social. Essa falta de compreensão alimenta a indiferença”, argumentou em entrevista para o Jornal Reformado, da Suíça.
Ela arrola três alavancas para o combate da violência infantil: o apoio parental, a presença de adultos capacitados nas escolas – pessoas capazes de ouvir e orientar as crianças na busca de recursos psicossociais, e o fortalecimento dos serviços sociais, jurídicos e de saúde que possam dar uma rápida resposta nas situações de abuso.
O abuso infantil, de modo particular o abuso sexual, assinalam, continua sendo um tabu. No entanto, um melhor acompanhamento e intervenção precoce no caso podem reduzir significativamente as consequências psicológicas a longo prazo para as vítimas.
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