Zibechi sobre o novo ativismo: "Ideias que mudam a realidade não nascem entre muros acadêmicos"

Raúl Zibechi | Foto: Pedro Stropasolas/Brasil de Fato

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24 Outubro 2025

  • Raúl Zibechi, renomado escritor e ativista uruguaio, reflete sobre os desafios que hoje marcam a ação social, a organização popular e o curso da teologia latino-americana no IV Congresso Continental de Teologia Latino-Americana e Caribenha

  • O pensador ofereceu sua leitura sobre a profunda mudança que as formas de luta e organização social na América Latina passam

  • "Nós costumávamos pressionar os poderosos, os estados e os empresários a ouvir nossas razões. Hoje esse caminho é cortado: a energia foi protegida, tornou-se implacável, até mesmo genocida em alguns casos

  • "Não vamos parar de reivindicar, mas temos que percorrer novos caminhos. Os habituais são cortados."

A reportagem é de Luz Marina Medina, publicado por Religión Digital, 23.10.2025.

O IV Congresso Continental de Teologia Latino-Americana e Caribenha serviu como palco para Raúl Zibechi, renomado escritor e ativista uruguaio, aprofundar como painelista em uma reflexão sobre os desafios que marcam hoje a ação social, a organização popular e o curso da teologia latino-americana.

Sob o slogan “Horizontes da libertação: tecendo a esperança de baixo”, o Congresso, que acontece de 22 a 24 de outubro, pretende repensar o papel da teologia latino-americana como resposta crítica e criativa às múltiplas crises sociais, ambientais e eclesiais de nosso tempo.

Da pressão à energia para a construção de autonomias

Em diálogo com a ADN Celam, o pensador uruguaio ofereceu sua leitura sobre a profunda mudança que as formas de luta e organização social na América Latina estão passando. “Nós costumávamos pressionar os poderosos, os estados e empresários a ouvir nossas razões. Hoje esse caminho é cortado: a energia foi protegida, tornou-se implacável, até mesmo genocida em alguns casos”, disse ele.

Em resposta a essa realidade, Zibechi pede a valorização das experiências de autonomia territorial e autogoverno local, onde as comunidades começaram a exercer sua própria autonomia e organização a partir de baixo. “Não vamos deixar de reivindicar, mas temos que percorrer novos caminhos, aqueles que estão criando os povos: construir nossa autonomia nos territórios que habitamos”, observou.

Para Zibechi, o presente histórico é um momento de conversão coletiva, em que as comunidades reinventam suas formas de agir e se organizar diante do colapso do modelo de Estado e do desgaste das estruturas tradicionais que as representam.

Nova liderança da base

Segundo Zibechi, a região latino-americana ainda é atravessada pela desigualdade estrutural, mas por novas expressões de liderança popular que renovam a esperança na primavera. “Hoje temos liderança indígena, negra e camponesa de um novo tipo. Eles não dependem da academia, porque a academia muitas vezes reproduz o sistema”, disse.

Ele apontou que as ideias que mudam a realidade não nascem entre os muros acadêmicos, mas nos territórios onde os povos constroem suas resistências diariamente. “Temos pensadores e ativistas para baixo, muito fortes e poderosos. É isso que hoje se refere à América Latina no mundo”, disse.

Teologia da vida dos povos

A entrevista abriu a reflexão sobre a conexão entre a vida comunitária e a reflexão teológica. Zibechi insistiu que a teologia latino-americana deve se afastar das teorias criadas e nascer da vida concreta das comunidades e suas resistências. “A não pode nascer de livros, mas da vida das pessoas, de lutas pela dignidade. O importante é o que sai do coração das pessoas e para onde seus esforços estão indo.

Recordou a carreira de Hugo Blanco Galdós, líder camponês peruano, que personificou as lutas agrárias e a reivindicação dos povos indígenas. “Pessoas assim podem não terminar a escola, mas têm um coração muito grande. Pode não comungar com a Igreja, mas o que importa é a sua capacidade de organizar e trabalhar ao lado de outros".

O IV Congresso Continental de Teologia foi proposto para estimular a reflexão teológica que contribua para a esperança e ação transformadora dos povos, inspirados por Ignacio Ellacuría e Jon Sobrino. Nessa perspectiva, a teologia é construída em diálogo com os processos históricos e sociais que os povos vivem.

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