24 Outubro 2025
O fato é histórico: Jesus não se dirigiu aos piedosos, mas aos indignos e indesejáveis. A razão é simples. Jesus percebe que sua mensagem é supérflua para os que vivem com segurança e contentamento em sua própria religião. Os "justos" têm pouca noção de necessidade de "salvação".
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, ao 30º Domingo do Tempo Comum – C (Lucas 18,9-14), publicado por Religión Digital, 20-10-2025.
Eis o comentário.
O dado é histórico: Jesus não se dirigiu aos setores piedosos, mas aos indignos e indesejáveis. A razão é simples. Jesus percebe rapidamente que sua mensagem é supérflua para aqueles que vivem seguros e satisfeitos em sua própria religião. Os “justos” quase não têm a sensação de estarem necessitados de “salvação”. Basta-lhes a tranquilidade que vem de se sentirem dignos diante de Deus e perante a consideração dos outros.
Jesus o diz de modo claro: a uma pessoa cheia de saúde e força não lhe ocorre procurar um médico. Para que precisam do perdão de Deus aqueles que, no fundo de seu ser, se sentem inocentes? Como vão agradecer seu amor imenso e sua compreensão inesgotável aqueles que se sentem “protegidos” diante dele pela observância escrupulosa de suas leis?
Aquele que se sente pecador vive uma experiência diferente. Tem clara consciência de sua miséria. Sabe que não pode se apresentar com suficiente dignidade diante de ninguém; tampouco diante de Deus; nem sequer diante de si mesmo. O que pode fazer, senão esperar tudo do perdão de Deus? Onde encontrará salvação, se não for abandonando-se confiantemente ao seu amor infinito?
Não sei quem pode chegar a ler estas linhas. Neste momento, penso em vocês que se sentem incapazes de viver de acordo com as normas impostas pela sociedade; vocês que não têm forças para viver o ideal moral estabelecido pela religião; vocês que estão presos em uma vida indigna; vocês que não se atrevem a olhar nos olhos da esposa ou dos filhos; vocês que saem da prisão apenas para voltar a ela; vocês que não conseguem escapar da prostituição... Nunca se esqueçam: Jesus veio por vocês.
Quando se virem julgados pela Lei, sintam-se compreendidos por Deus; quando se virem rejeitados pela sociedade, saibam que Deus os acolhe; quando ninguém perdoar sua indignidade, sintam o perdão inesgotável de Deus. Vocês não merecem. Ninguém de nós merece. Mas Deus é assim: amor e perdão. Vocês podem desfrutar e agradecer por isso. Nunca se esqueçam: segundo Jesus, só saiu limpo do templo aquele publicano que batia no peito dizendo: “Ó Deus, tem compaixão deste pecador”.
Leia mais
- Uma coisa necessária. Comentário de José Antonio Pagola
- José Antonio Pagola, um fiel apaixonado por Jesus
- O que Jesus pode nos dar? Comentário de José Antonio Pagola
- Duas perguntas fundamentais. Comentário de Ana Casarotti
- 24º domingo do tempo comum - Ano B - Subsídio exegético
- Comentário de Adroaldo Palaoro: O seguimento de Jesus e a pretensão do nosso ‘ego’
- Comentário de Adroaldo Palaoro: Quando perder é ganhar...
- Comentário de Adroaldo Palaoro: Seguir Jesus é esvaziar o próprio ‘ego’
- Comentário de Adroaldo Palaoro: Nós somos cristos vivos
- Comentário de Ana Maria Casarotti: Quem é Jesus?
- Comentário de Annette Havenne: A fé sinodal de Pedro
- Comentário de Enzo Bianchi: Mesmo quem confessa que Jesus é o