24º domingo do tempo comum - Ano B - A fé sinodal de Pedro

Por: MpvM | 13 Setembro 2024

"Não é precisa se questionar por muito tempo para perceber quanto a nossa fé, dom de Deus, é pessoal, mas também comunitária... E sensível a todas as situações que nos rodeiam! Ela acontece, evolui dentro de um grupo em marcha. Portanto é uma fé itinerante, “sinodal”: a fé de pessoas que estão juntas a caminho! Esta percepção da fé como fé sinodal é uma das portas de entrada para uma leitura renovada da narrativa do evangelho deste domingo, tradicionalmente chamada de “confissão de fé de Pedro”. ( Mc 8, 27-35)"

A reflexão é de Irmã Annette Havenne, ije. Ela é religiosa da Congregação das Irmãs de Santa Maria. Possui graduação em psicologia e em teologia pastoral. Vive há 43 anos no Nordeste e reside na periferia de Aracaju/SE. Integra a equipe de assessoria da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB e atua na da formação humana e espiritual de comunidades religiosas e grupos de leigos. Continua residindo no Nordeste do Brasil, mas serve sua congregação como conselheira geral. 

Leituras do Dia

1ª Leitura - Is 50,5-9a
Salmo - Sl 114,1-2.3-4.5-6.8-9 (R. 9)
2ª Leitura - Tg 2,14-18
Evangelho - Mc 8,27-35

Eis a reflexão.

Não é precisamos nos questionar por muito tempo para perceber quanto a nossa fé, dom de Deus, é pessoal, mas também comunitária... E sensível a todas as situações que nos rodeiam! Ela acontece, evolui dentro de um grupo em marcha. Portanto é uma fé itinerante, “sinodal”: a fé de pessoas que estão juntas a caminho! Esta percepção da fé como fé sinodal é uma das portas de entrada para uma leitura renovada da narrativa do evangelho deste domingo, tradicionalmente chamada de “confissão de fé de Pedro”. ( Mc 8, 27-35)

Lembremos a situação: Jesus, que já demostrou ser um rabino itinerante e evolutivo, dá suas aulas a caminho! Ele usa a o método sinodal: faz pergunta aos discípulos, escuta suas respostas, sonda os seus corações, os incentiva a avançar mais, a não temer a dinâmica destas etapas da fé, a converter-se constantemente em meio a um mundo que nem sempre os olha com simpatia! Marcos sinaliza isso sutilmente ao descrever Jesus e seus discípulos a caminho, atravessando uma região pagã, cujo nome lembra o esplendor do Cesar romano: Cesaréia de Filipe!

Quem as pessoas dizem que eu sou? E vocês quem vocês dizem que eu sou? Mc 8,27.29

As duas perguntas de Jesus convidam seus discípulos a passar da variedade de opiniões, para uma verdadeira adesão a sua pessoa, mas também as suas opções. A resposta de Pedro marca um passo importante na fé dos discípulos: reconhecendo que Jesus é Cristo, eles entram no segundo ano do “catecumenato cristão”!

Que tipo de caminho vai seguir o Messias, Ungido de Pai? Estamos na grande virada do evangelho de Mc, na sua exata metade. O autor, em bom teólogo, reforça a nossa percepção através da cura de um cego descrita imediatamente antes do diálogo entre Jesus e seus discípulos, nos versículos 22-26 do mesmo capítulo 8. Não por acaso, este cego, imagem dos discípulos que já foram chamados de “cegos” pelo mestre, (8,18) é curado por etapas: primeiro vê as pessoas como árvores que andam. Depois do segundo toque de Jesus é que ele passa a ver tudo nitidamente... mesmo de longe!

Eis a parábola que vai nos ajudar a entender o que se passa com Pedro e o que se passa com todos nós na caminhada da iniciação cristã: podemos ter dado o nosso sim a Jesus e chama-lo de Cristo, sem reconhecer as exigências e graças próprias do seu seguimento! Continuamos a olhar os outros como árvores que andam! Falta ainda um longo caminho nos passos do discipulado e na contramão da nossa miopia até conseguirmos integrar todas as dimensões do amor de cuidado e começarmos a enxergar os seres humanos, não apenas como criaturas que andam em torno de nós, mas como irmãs e irmãos queridos nossos! Falta-nos descobrir a fraternidade universal, a “Fratelli Tutti”.

Eis o programa do segundo ano da formação oferecida por Jesus aos seus e ela passa pela acolhida da cruz, como tão bem nos lembra o texto da primeira leitura: Jesus é o servo sofredor que assume nossa vulnerabilidade, nossa cegueira e decide dar sua vida por amor, amar até o fim. Ele é o Cristo salvador! (Is 50, 5-9)

Às vezes, me ponho a imaginar que a cruz que precisam assumir @s discipul@s de Jesus é feita simplesmente com os dois mandamentos do amor e as consequências da sua prática no concreto da nossa vida, segundo o trecho da carta de Tiago lida neste domingo (Tg 2, 14-18). Vivenciando os dois mandamentos do amor, descubro a cruz não apenas como tortura, humilhação, dor, crise... e sim como sinal ecológico de todas as dimensões da vida e das relações: Através dela, Jesus “estica a minha fé” segundo a bela expressão de S Agostinho: da mãe-terra até o olhar amoroso do Pai, da aceitação da minha fragilidade até o amor fraterno, sororal, sem fronteiras.

Não posso prometer que as dificuldades da vida lhe serão poupadas, mas que você terá motivação para acompanhar Jesus e assumir a missão cristã, à imagem do segundo cego curado por Jesus no final deste trecho do evangelho de Mc, antes da entrada em Jerusalém! (Mc 10, 48-52)

Esse segundo cego é bem diferente. Diz o texto: “O cego largou o manto, deu um pulo, foi até Jesus e em resposta à sua pergunta gritou: Mestre quero ver de novo!” Escutemos a resposta de Jesus e a reação do ex cego, pois constituem o horizonte do evangelho de hoje: “Pode ir, sua fé curou você... e ele seguia Jesus pelo caminho”. Talvez, me perdoe, ele seguia com mais disposição do que os que tinha cursado a formação toda!

Com Pedro e os discípulos escutando o convite a crescer na fé, com os dois cegos curados, um bem devagarinho e o outro num relâmpago, com todos os e as que hoje são provocados a reinventar sua fé para percorrer uma nova etapa do caminho sinodal, façamos nossas as palavras do salmo responsório:

O Senhor protege os simples, eu fraquejava, ele me salvou!
Andarei na presença do Senhor, na terra dos vivos!
Sl 114,6;8.

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