10 Outubro 2025
Quando se trata de migrantes, o Papa Prevost esquece o protocolo. Fala com franqueza, colocando as cautelas diplomáticas em segundo plano. Durante a audiência privada que teve com Leão XIV na manhã de ontem, Dylan Corbett, diretor do Instituto Hope Border da Diocese de El Paso, disse ao Avvenire que o Papa enfatizou aos agentes humanitários que trabalham na fronteira entre o México e os Estados Unidos que "a Igreja não pode ficar em silêncio" porque "o que está acontecendo nos Estados Unidos neste momento" com as deportações em massa de migrantes "é uma injustiça".
A reportagem é de Agnese Palmucci, publicada por Avvenire, 09-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No encontro com a delegação liderada pelo bispo da cidade fronteiriça, Mark Joseph Seitz, o Papa, relatou Corbett, se mostrou "muito receptivo, resoluto e, ao falar sobre os migrantes, não mediu as palavras", pelo contrário, foi "emocionalmente partícipe e reiterou que está ao nosso lado".
Seitz também enfatizou a importância do encontro de ontem, no qual tiveram a oportunidade de "testemunhar os abusos que nossos irmãos e irmãs migrantes sofrem". O bispo e os leigos da Hope Border, explicou Corbett, apresentaram a Leão XIV "a mensagem das pessoas sem documentos que estão sofrendo deportações em massa nos EUA".
Centenas de cartas vindas de todo o país, nas quais migrantes descreveram seus sofrimentos e medos, mas também seus desejos e esperanças por um mundo melhor, para continuar a fazer parte da comunidade nos EUA. "Reunimos algumas delas em um vídeo que o Papa assistiu diante de nós", acrescentou Corbett. "Ele disse que gostaria que a Igreja fosse mais unida e resoluta em relação às medidas de expulsão coletiva e nos encorajou muito em nossa missão."
A situação dos migrantes nos Estados Unidos, enfatizou o líder da organização católica que atua nas áreas de fronteira entre as cidades de El Paso, Ciudad Juárez e Las Cruces, "é bastante dramática, desde que o governo destinou quantias extraordinárias de recursos ao Serviço de Imigração e Alfândega, que controla as fronteiras, e agora seu orçamento é ainda maior do que o das Forças de Defesa de Israel".
Leão XIV está muito familiarizado com a situação e criticou repetidamente as políticas anti-imigração promovidas pela presidência de Donald Trump. "O Pontífice", acrescentou Corbett, "nos disse que pretende conversar com as Conferências Episcopais para que os líderes religiosos tomem uma posição mais firme e decisiva em relação às injustiças". Muitas associações ligadas à Igreja Católica, fundações e projetos para refugiados, aliás, "também foram afetadas pelos cortes de financiamento impostos por Trump".
Desta vez, Prevost não mencionou o nome do presidente dos EUA, como fez explicitamente em sua primeira entrevista com a jornalista do Crux, Elise Ann Allen. "Percebi, no entanto", continuou o diretor da associação, ligada à diocese estadunidense, que promove políticas de subsidiariedade para migrantes e fornece alimentação e assistência de todos os tipos a quem chega à fronteira, "que se sentiu muito livre no diálogo conosco, no qual foi realmente franco e falou com força sobre as injustiças. Ele dará passos importantes." Além disso, concluiu, "a escolha de seu nome o coloca nos passos de Leão XIII em sua atenção às questões sociais". E tudo indica que o tema da migração também poderá ser incluído de alguma forma em sua primeira exortação apostólica sobre os pobres, Dilexi te, que será publicada hoje.
O Papa Prevost também falou sobre fronteiras e paz ontem, na audiência geral. Aos consagrados presentes na Praça de São Pedro para o seu Jubileu, ele estendeu o convite para serem "instrumentos de paz em todos os ambientes", testemunhando "a esperança nas tantas fronteiras do mundo moderno". Em seguida, ele lembrou aos cristãos o convite, em outubro, para "rezar o Rosário todos os dias pela paz no mundo".
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