16 Julho 2025
"Os Estados Unidos estão começando uma ditadura que procura livrar-se de qualquer pessoa que seja pobre e fale espanhol".
O artigo é de Phyllis Zagano, publicado por Religion News Service e reproduzido por 7Margens, 14-07-2025.
Phyllis Zagano integrou a Comissão para o Estudo do Diaconato das Mulheres (2016-2018). É pesquisadora na Universidade de Hofstra, Hempstead, Nova Iorque, e o seu livro mais recente é Just Church: Catholic Social Teaching, Synodality, and Women (Paulist, 2023) [Igreja justa: ensino social católico, sinodalidade e mulheres].
A forma como uma pessoa reage ao ver homens armados e mascarados a agredir imigrantes nos Estados Unidos define o caráter dessa pessoa. Cada vez mais, a prioridade dada à detenção de pessoas está a definir o caráter do governo, se não de todo o país. Os Estados Unidos da América (EUA) estão começando uma ditadura que procura livrar-se de qualquer pessoa pobre e que fale espanhol.
O racismo nos EUA não é novidade. No século XVII, os europeus do Norte chegaram, reivindicaram as terras dos nativos americanos e importaram africanos negros escravizados. À medida que os Estados Unidos cresciam, os seus líderes insistiam no seu carater branco, mesmo enquanto engoliam cada vez mais territórios habitados por pessoas de pele morena. Devemos lembrar que a atual metrópole diversificada de Los Angeles foi fundada por colonos mexicanos em 1781.
Ao longo do século XIX, mas especialmente após a Guerra Civil, as cidades ficaram cada vez mais lotadas de pessoas pobres que se distinguiam da aristocracia dominante pela pele mais escura. Os imigrantes enfrentavam cada vez mais o racismo e o nativismo, que defendia os interesses das pessoas nascidas em território americano (exceto os membros das mais de 500 tribos indígenas já residentes). Surgiram leis anti-imigração excluindo asiáticos (1875) e chineses (1882). O conceito era manter o país totalmente branco.
Em 1900, os EUA já tinham acolhido mais de 10 milhões de imigrantes. A Estátua da Liberdade, então com 24 anos, recebia os cansados e pobres que chegavam a Ellis Island, no porto de Nova Iorque. Em breve, lei após lei, procurou-se conter a maré. Houve um requisito de alfabetização (1917) e surgiram cotas por país. Mesmo assim, o sul da Europa forneceu um número crescente de judeus e católicos, a ponto de o catolicismo se tornar a maior denominação num país predominantemente protestante.
A herança judaico-cristã dos Estados Unidos têm feito muito bem nos dias de hoje. Cristão nominal e defensor contra o antissemitismo, o presidente dos EUA superintende o tratamento brutal e o desrespeito pela dignidade pessoal de milhares de indivíduos. Muitos vieram fugindo de cartéis de droga, violência e pobreza. Velhos e jovens, homens e mulheres, podem não falar inglês. A maioria é de pele morena. Em nome da eliminação dos criminosos do país, os agentes do Departamento de Segurança Interna prendem violentamente até mesmo aqueles que aceitaram as restrições do governo anterior e estão em processo de naturalização.
O comportamento que o presidente está proclamando é moral? É ético? É digno do governo com a maior economia do mundo, que gere milhares de hectares vazios dentro das suas fronteiras, o governo que recentemente contabilizou 7,8 milhões de vagas de emprego? Os imigrantes não estão restritos às cidades, embora ficassem felizes se se estabelecessem em qualquer um dos bairros abandonados de costa a costa. E eles querem trabalhar.
O comportamento do gabinete do presidente e dos seus subordinados demonstra extraordinárias deficiências de caráter. Quer se queira contestá-los por motivos éticos ou morais, é correto abanar a cabeça e questionar-se como e por que razão os Estados Unidos se tornaram um pária para pessoas de bom caráter.
Os líderes religiosos estão manifestando-se e começam a surgir livros sobre o assunto. Está interessado em ética? Leia On Character, do general Stanley McChrystal. Está interessado em moralidade? Leia Facing Race, do reverendo Roger Haight, um padre jesuíta. A tarefa de leitura deste Verão é sobre como restaurar o bom carater do país.
A mãe do presidente dos EUA era imigrante – o inglês era a sua segunda língua – e ele é casado com uma imigrante. Qual é a natureza do seu carater?