06 Outubro 2025
"Acho um acordo terrível." O analista israelense Neve Gordon, professor de direito internacional na Queen Mary, Universidade de Londres, não esconde sua decepção com os pontos-chave do acordo – elaborado em 20 pontos - proposto por Donald Trump e aceito na segunda-feira pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que visa o fim da guerra e a futura gestão da Faixa de Gaza.
Autor de vários ensaios — entre os quais "L'occupazione israeliana" (Diabasis, 2016) — Gordon publicou recentemente o livro "Scudi umani. Una storia dei corpi sulla linea del fuoco” (em tradução livre, Escudos humanos: Uma história dos corpos na linha de fogo, Laterza, 2025), escrito em parceria com Nicola Perugini e traduzido por Mariachiara Eredia.
A entrevista é de Orlando Trinchi, publicada por La Stampa, 04-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Professor Gordon, o senhor esperava esse resultado para a missão da Flotilha Global Sumud?
Sim. Imaginava que a Flotilha não teria permissão para entrar na Faixa de Gaza; os militares israelenses os teriam parado primeiro; no entanto, sua tentativa de romper o bloqueio naval da Faixa continuará sendo um ato de incrível resistência. Aplaudo os membros da Flotilha Global Sumud por sua coragem.
Que impacto isso poderia ter no acordo proposto pelo presidente dos EUA, Trump, ao líder israelense Netanyahu? Considera que funcionará?
Do meu ponto de vista, trata-se de um acordo realmente prejudicial. O objetivo implícito parece, na realidade, dar continuidade ao processo de genocídio atualmente em curso. A ideia por trás das negociações é legitimar um governo externo liderado por Tony Blair, que, em sinergia com o genro de Trump, Jared Kushner, gostaria de administrar a Faixa de Gaza, provavelmente com o apoio das gangues que Israel vem armando há meses.
Qual seria, na sua opinião, o propósito do acordo?
O propósito desse acordo é separar a Faixa de Gaza da Cisjordânia, para trazer uma destruição ainda maior aos palestinos.
O senhor está conformado com isso?
Não acho que essa tentativa será bem-sucedida. Mesmo que o Hamas aceite os termos, não acho que a intenção de Netanyahu seja permitir que os militares israelenses deixem a Faixa: a maior parte de Gaza permanecerá sob controle das IDF. Prevejo ainda mais sofrimento no futuro.
Ainda há muitas questões sobre a mesa?
Muitas questões ainda não foram esclarecidas, e acho que o Hamas quer estar informado sobre delas antes de aceitar: poderia fazê-lo ou não, mas certamente vai querer mais informações a respeito.
Donald Trump queria garantir que a anexação de outras partes da Cisjordânia não aconteça. Acha que não acontecerá?
Não saberia dizer se vai acontecer ou não, mas posso afirmar que a anexação da Cisjordânia certamente reflete um problema de natureza jurídica. Na realidade concreta, porém, os soldados israelenses controlam muitas áreas da Cisjordânia e usam os colonos para impor sua autoridade, em detrimento dos palestinos. O que está acontecendo agora é que os israelenses têm o controle do território, se valendo até mesmo de atividades criminosas locais. Embora no papel se tente resistir a uma anexação total, na realidade Israel já controla a Cisjordânia.
Israel estará pronto para isso?
Temo que as coisas não acabem correndo bem.
Acredita que a influência de alguns ministros do governo israelense, como Itamar Ben-Gvir ou Bezalel Smotrich, poderia se mostrar decisiva neste momento?
Acho que não. Mesmo que rejeitassem esse acordo, se Netanyahu e o Hamas o aceitarem, seu maior resultado poderia ser o de obter eleições antecipadas.
Em tal caso, como seria?
Netanyahu venceria.
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