01 Outubro 2025
"Nas entrelinhas, podemos ler aquele Toni Negri que há tempo refletia sobre a obra de Jó (1990) e sobre a figura de Francisco. E voltaremos a ler aquelas páginas com ainda mais amor e ironia pela vida, pensando em Toni e Teresilla, que ainda conversam juntos", escreve Peppe Allegri, em artigo publicado por il manifesto, 30-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
A vida sempre oferece encontros inesperados e alegres. Mesmo nos momentos mais impensáveis e conturbados. E esse pequeno e precioso livro testemunha isso mais uma vez. É, de fato, a oportunidade para reler um Toni Negri inédito, mas sempre apaixonado e apaixonante. São breves intervenções ocasionais, reunidas em Quanto a me, continuo a cercare (E eu, continuo a buscar, em tradução livre, Castelvecchi, pp. 131, € 17,50), acompanhadas por um texto do Padre Paolo Fontana.

Livro do filósofo italiano Toni Negri, publicado pela Castelvecchi Editore. (Foto: Reprodução/Castelvecchi)
São escritos solicitados a Negri pela Irmã Teresilla Barillà, que ele conheceu em seu retorno à Itália e que o convenceu a colaborar para a Riparazione Mariana, uma revista das Servas de Maria Reparadora. Por isso, talvez valha a pena relembrar aqueles anos. É hoje um fato histórico republicano bem estabelecido que o retorno de Negri à Itália, do exílio parisiense, sob a proteção da doutrina Mitterrand, em 1997, aos 64 anos, para cumprir o restante de sua pena no famoso julgamento do "caso de 7 de abril de 1979", também tenha servido como uma oportunidade para reabrir um debate público sobre a década de 1970 italiana. Na realidade, Toni Negri permaneceria na prisão de Rebibbia até 1999 e depois em regime de semiliberdade até cumprir 70 anos, em 2003, na ausência de qualquer solução político-cultural para aquela década e para a memória histórica comum do Bel Paese. Com evidentes efeitos sociopolíticos que perduram até hoje.
Precisamente durante esse ulterior período de detenção, ele conheceu Teresilla, que o visitou na prisão, tornando-se sua confidente e verdadeira amiga, "inteligente e irônica", criadora de mundos e relações. Tanto que nessas páginas descobrimos que foi ela quem pensou em colocar uma almofada de pétalas com as palavras "anistia para os presos" e a assinatura dos "detentos de Rebibbia" no topo da coluna mariana da Piazza di Spagna para a cerimônia papal de 8 de dezembro.
Esse encontro inesperado leva Negri a escrever quase trinta intervenções (entre 1997 e 2007), muitas vezes profundamente pessoais. Como quando se questiona sobre o amor da Mãe que supera a justiça do Pai: "o caminhar leva a um encontro. Mas como poderia eu, um não crente, compreender?"
Uma oportunidade para refletir sobre sua relação com sua própria mãe, com seu ser pai, em busca daqueles estados de graça compartilhados que permearam sua existência.
Uma existência que Negri reevoca desde a sua infância no pobre, duro e difícil Vêneto do pós-guerra, entre vaga-lumes, ladainhas e devoções, e depois os ensinamentos de Umberto A. Padovani, professor de filosofia moral na Universidade de Pádua, de quem ouviu falar pela primeira vez, "e não ironicamente, de um certo materialismo da doutrina católica". Depois, os dois anos de militância juvenil e herética na Ação Católica, quando, juntamente com Umberto Eco e Vincenzo Scotti, foram acusados de serem criptocomunistas. Sem renegar a caridade encontrada naqueles anos, a caridade que é "a república dos justos", justamente essa expulsão foi frutífera para a "grande transição da compaixão à indignação e da indignação à militância pela caridade e na caridade".
Nas entrelinhas, podemos ler aquele Toni Negri que há tempo refletia sobre a obra de Jó (1990) e sobre a figura de Francisco. E voltaremos a ler aquelas páginas com ainda mais amor e ironia pela vida, pensando em Toni e Teresilla, que ainda conversam juntos.
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