16 Setembro 2025
Dados de estudo da Aggreko mostram falta de preocupação do setor de combustíveis fósseis com a crise climática.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 16-09-2025.
A urgência de se eliminar combustíveis fósseis para conter as mudanças climáticas não é novidade. Mas, para a indústria de petróleo e gás fóssil, em especial na América Latina – o que inclui a Petrobras –, o clima do planeta e a nossa sobrevivência nele que esperem. Essas empresas apostam no lema de Donald Trump, “Drill, baby, drill!”, em busca de mais reservatórios.
É o que comprova uma pesquisa da Aggreko, fornecedora de soluções de energia para plataformas de petróleo e minas em construção, entre outras aplicações. A exploração de novos campos de petróleo é a principal prioridade das empresas para 28% dos profissionais do setor na América Latina, informa o Estadão. Já a adoção de práticas sustentáveis ficou em último lugar entre os cinco quesitos do estudo: apenas 7% dos 312 profissionais entrevistados a colocam como prioridade. A pesquisa não incluiu como possível prioridade a diversificação de negócios, incluindo projetos de energia renovável.
Para o gerente de óleo e gás da Aggreko na região, Daniel Rossi, as empresas do setor já estiveram mais preocupadas em adotar práticas sustentáveis. Mas, segundo ele, dificuldades logísticas, técnicas e de custo têm tornado difícil a implementação. “O custo dessas práticas coloca a operação em um patamar em que a empresa perde competitividade”, opinou.
Não é o que avalia a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo. Para ela, a pesquisa mostra uma falta de preocupação do setor de combustíveis fósseis com a crise climática. “É até esperado que a direção das empresas petroleiras coloque prioridade no que fazem, mas teria de estar mais clara a atenção para a necessidade de descarbonização e de diversificação das atividades dessas empresas”, frisou.
Suely destaca que, ainda que os combustíveis fósseis não respondam pelo maior volume das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o país não pode ignorar a necessidade de reduzir a produção e o uso desses combustíveis. “Pouco mais da metade da produção brasileira de petróleo é exportada e acaba sendo queimada em outro local, emitindo gases de efeito estufa de qualquer modo”, explicou.
A Petrobras, porém, ignora essa necessidade. A petrolífera não apenas planeja explorar petróleo e gás fóssil em áreas ambientalmente sensíveis, como a Foz do Amazonas, como continua atravessando o Oceano Atlântico em busca de novas reservas de combustíveis fósseis.
No fim da semana passada, a estatal comunicou a conclusão da compra de uma participação de 27,5 % no bloco exploratório 4 em São Tomé e Príncipe, no continente africano, informam Valor, CNN, Reuters, InfoMoney, Money Times, RFi e Seu Dinheiro. A brasileira agora compõe o consórcio do bloco com a anglo-holandesa Shell (que detém 30% e opera o ativo), a portuguesa Galp (27,5%) e a Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe (ANP-STP, com 15%).
Leia mais
- ANP e Marinha querem expandir mar territorial para explorar mais petróleo
- Explorar petróleo na Amazônia é “fazer guerra para ter paz”, compara ex-presidente do Ibama
- Explorar petróleo será “decisão nacional”, diz presidente da COP30
- Como a Petrobras avança na extração na Foz do Amazonas
- Macron: exploração de petróleo na foz do Amazonas “não é boa para o clima”
- Petrobras já enviou 4 cartas ao IBAMA por foz do Amazonas, mas nega pressão
- Trump avalia possível participação dos Estados Unidos na COP30
- Negacionismo parlamentar põe no lixo 44 anos da política ambiental brasileira e PL da Devastação abre brecha à criação de "vales da morte" de Norte a Sul. Entrevista especial com Suely Araújo
- PL do licenciamento ambiental “é o maior retrocesso em 40 anos”. Entrevista com Suely Araújo, ex-presidente do Ibama
- COP30: cientistas se unem pelo fim dos combustíveis fósseis no mundo
- Crise climática e deslocamentos humanos: uma nova urgência global. Artigo de Reinaldo Dias
- A crise climática e o colapso da civilização. Artigo de Liszt Vieira
- Crise climática global pode provocar retração econômica e grande mortalidade. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- Crise climática é desafio mais sério da humanidade, diz Al Gore no Rio
- Clima extremo amplia risco de fome na América Latina, incluindo o Brasil
- América Latina enfrenta a tempestade perfeita: inteligência artificial e crise climática no centro do debate
- Falsas soluções climáticas se espalham pela América Latina
- Multinacionais priorizam lucros em detrimento da sustentabilidade
- Mudanças climáticas entraram numa “espiral sem controle”, alerta ONU
- Geração de energia renovável tem maior salto em 25 anos