09 Setembro 2025
Eles penetram nos campos através de túneis e depois abrem fogo: quatro soldados mortos ontem, outro ataque idêntico no final de agosto.
A reportagem é de Gianluca Di Feo, publicada por La Repubblica, 09-09-2025.
Eles surgiram do nada, atacaram e desapareceram nos escombros. A mais recente emboscada conduzida pelo Hamas confirma os temores dos líderes militares israelenses: a incursão na Cidade de Gaza corre o risco de ter um alto custo para os soldados, maior do que o pago no restante da ofensiva lançada após os massacres jihadistas de 07-10-2023. A campanha que devastou a Faixa de Gaza e forçou a população palestina a sobreviver em condições desumanas, causando 65 mil mortes civis, segundo autoridades de saúde lideradas pelo Hamas, raramente encontrou resistência organizada desde meados de 2024.
O reconhecimento contínuo, realizado dia e noite por drones e sensores terrestres, somado à atividade de patrulhas de campo, garantiu que qualquer ameaça potencial fosse neutralizada com um volume de fogo sem precedentes. Isso também é evidenciado pelas imagens do assassinato de Yayha Sinwar, líder do Hamas e mentor do massacre de 7 de outubro: apesar de as imagens do quadricóptero mostrarem apenas um homem não identificado, ferido e desarmado, a decisão foi de eliminá-lo com tiros de tanque.
O ataque ao tanque israelense
A Cidade de Gaza, no entanto, é a área com a maior densidade populacional, onde os poucos esquadrões veteranos do movimento fundamentalista que sobreviveram aos bombardeios estão barricados. E lá eles ainda podem contar com túneis intactos. Eles os exploraram no ataque de ontem, que ocorreu quatro quilômetros ao norte da cidade, em uma área já vasculhada em junho passado. Ao amanhecer, alguns milicianos emergiram de uma passagem subterrânea e entraram em um acampamento temporário — montado para proteger uma unidade da 401ª Brigada Blindada — sem serem detectados. Um dos milicianos atirou no comandante do veículo, cujo torso estava pendurado para fora da torre.
Ele então jogou uma bomba na escotilha aberta, causando a explosão do tanque: toda a tripulação morreu. As vítimas foram três homens na casa dos 20 anos, com menos de um ano de serviço militar, e o suboficial. Outros soldados abriram fogo contra os invasores, que, no entanto, conseguiram escapar; não está claro se ficaram feridos ou não.
O ataque ao acampamento em 20 de agosto
Em 20 de agosto, houve um ataque muito semelhante em Khan Younis. Quinze a vinte homens do Hamas usaram um túnel parcialmente demolido para chegar ao interior de outro campo. Os palestinos se dividiram em três grupos. Um grupo se posicionou para fornecer cobertura com morteiros e lançadores de foguetes RPG; os outros entraram, atirando em dois prédios, um dos quais estava vazio. Houve dez minutos de combate corpo a corpo, com a intervenção de dois tanques, durante os quais cinco palestinos foram mortos. Então, por quase três horas, drones e helicópteros caçaram os comandos: um dos invasores foi morto enquanto fugia; mísseis da aeronave controlada remotamente sobrecarregaram as posições de morteiros, matando pelo menos mais quatro. Um soldado israelense ficou gravemente ferido e um ficou levemente ferido. Mas oito atacantes conseguiram escapar, usando o mesmo túnel. A equipe estava bem equipada: eles tinham bastante munição, foguetes RPG e cargas explosivas. Várias amarras de plástico foram encontradas nos corpos: presume-se que eles pretendiam sequestrar pelo menos um dos soldados. Eles são jovens dedicados ao martírio, mas não agem como homens-bomba.
A operação na Cidade de Gaza
O exército israelense afirma que, desde 07-10-2023, oito mil terroristas foram eliminados em Gaza: de março a 20 de agosto, durante a Operação Tanques Gideon, 2.100 membros do Hamas foram mortos e 10 mil alvos foram destruídos pela força aérea. As autoridades de saúde do Hamas contabilizaram 10.576 baixas durante o mesmo período, um total de 65 mil desde o início da guerra. Desde aquele 20 de agosto, 60 mil reservistas foram reconvocados ao serviço pelo governo Netanyahu, e o plano de ocupação da Cidade de Gaza foi finalizado: uma manobra que apenas começou e que deverá atingir seu ápice após meados de setembro.
No sábado e no domingo, cinquenta prédios foram demolidos, todos os mais altos ainda de pé, para impedir que atiradores palestinos ganhassem alguma vantagem. Segundo relatos, porém, os terroristas continuam preferindo as catacumbas aos céus. E podem tentar novas emboscadas quando tropas israelenses entrarem nos becos da cidade. Para monitorá-los, montaram uma rede rudimentar de câmeras conectadas por cabo, com armadilhas explosivas ativadas por fio para evitar a interferência das contramedidas das Forças de Defesa de Israel. A grande dúvida em torno das ações do governo Netanyahu na Faixa de Gaza permanece: é impossível matar todos os combatentes jihadistas, e a erradicação da força terrorista só pode ser alcançada rompendo seus laços com os moradores. No entanto — a começar pela falha na distribuição de ajuda alimentar — nada foi feito nessa frente, enquanto milhares de bombardeios aumentam o muro de ódio que permite ao Hamas recrutar novos membros. Se os civis palestinos não tiverem esperança no futuro, Gaza continuará sendo um campo de extermínio.
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