05 Setembro 2025
Leão XIV recebe o presidente Isaac Herzog para restabelecer o diálogo e tentar mediar após a hostilidade do governo israelense em relação a Francisco.
A informação é de Inigo Dominguez, publicada por El País, 04-09-2025
O Papa recebeu o presidente israelense Isaac Herzog às dez horas da manhã desta quinta-feira. Em seguida, encontrou-se com o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, em um momento crítico da situação em Gaza e na Cisjordânia, para tentar reconstruir as relações. Este é um passo na direção da Santa Sé, que pediu a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas e sempre apoiou a criação de dois Estados no conflito. O objetivo do Vaticano é tentar influenciar diplomaticamente as autoridades israelenses e alcançar um cessar-fogo na Faixa de Gaza como um primeiro passo para a resolução da crise.
Esta é uma tentativa de recomeço após o tempestuoso pontificado de Francisco, que Israel não suportou devido ao seu apoio à causa palestina. Em seu último livro, Jorge Mario Bergoglio opinou que a situação em Gaza, segundo especialistas, poderia equivaler a um "genocídio". Netanyahu não compareceu ao funeral e limitou a presença oficial ao embaixador. Herzog, por outro lado, compareceu à missa inaugural do pontificado de Leão XIV em 18 de maio.
Prova da natureza delicada da situação e da sensibilidade no ar é que este encontro levou até mesmo a uma discussão sobre quem pediu para ver quem. Na terça-feira, surgiu uma pequena confusão: Israel anunciou que se tratava de um convite de Leão XIV, mas o Vaticano esclareceu de última hora que não se tratava, usando a linguagem sinuosa, cuidadosa, mas firme, do Vaticano: "É prática da Santa Sé aceitar pedidos de audiência dirigidos ao Papa por chefes de Estado e de governo; não é prática estender convites a eles." Este é o clima, mas ambos os Estados buscam uma maneira de se entender.
O Vaticano está interessado em defender seus interesses no Oriente Médio e determinado a afirmar seu papel diplomático e tentar mediar com Israel. Por sua vez, Israel está interessado em ter outro interlocutor em meio à crescente pressão internacional. Acima de tudo, Herzog, um parlamentar trabalhista que permanecerá no cargo até 2028, representa um outro lado de Israel, um tanto distinto do lado mais radical do governo de Benjamin Netanyahu.
Posteriormente, a Santa Sé emitiu um comunicado observando que a reunião "expressou o desejo de uma rápida retomada das negociações" para que fosse possível "obter a libertação de todos os reféns, alcançar urgentemente um cessar-fogo permanente, facilitar a entrada segura de ajuda humanitária nas áreas mais afetadas e garantir o pleno respeito ao direito humanitário e às aspirações legítimas de ambos os povos". O Vaticano, enfatiza o comunicado, "reafirmou a solução de dois Estados como a única saída para a guerra em curso".
Por sua vez, Herzog publicou um texto no X no qual agradece ao Papa pela "calorosa acolhida", destaca seu respeito pela comunidade cristã, da qual "Israel se orgulha", e, acima de tudo, insiste que "todos os líderes de fé e boa vontade devem se unir para pedir a libertação imediata dos reféns como um primeiro e essencial passo rumo a um futuro melhor para toda a região". "A inspiração e a liderança do Papa na luta contra o ódio e a violência, e na promoção da paz mundial, são valiosas e vitais. Aguardo com expectativa o aprofundamento de nossa cooperação para um futuro melhor de justiça e compaixão", concluiu.
O papa americano-peruano, Robert Prevost, que vem se tornando gradualmente conhecido, seguiu, de qualquer forma, o exemplo de seu antecessor, mas não faz manchetes e age com cautela. Em sucessivos discursos e intervenções, Leão XIV condenou os bombardeios israelenses, a fome em Gaza e os planos de realocação de seus habitantes.
Ataque a paróquia católica em Gaza
Em julho, durante o Angelus em Castel Gandolfo, ele apelou à "observância do direito humanitário e ao respeito à obrigação de proteger os civis, bem como à proibição de punições coletivas, do uso indiscriminado da força e do deslocamento forçado da população". Em 23 de agosto, sem mencionar especificamente Gaza, ele insistiu que "todos os povos, mesmo os menores e mais fracos, devem ser respeitados pelos mais poderosos em sua identidade e em seus direitos, e ninguém pode forçá-los ao exílio forçado".
O momento mais tenso ocorreu em julho passado, quando a Igreja da Sagrada Família, uma paróquia na pequena comunidade católica de Gaza, foi atacada, deixando três mortos e nove feridos. O Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, declarou sem rodeios que ainda não se sabe "se foi realmente um erro, do qual se pode legitimamente duvidar, ou se houve o desejo de atacar uma igreja cristã".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, então telefonou para Leão XIV para se desculpar. Mas, em agosto, a mesma comunidade recebeu uma ordem de evacuação de Gaza, que o Patriarca de Jerusalém, Cardeal Pierbattista Pizzaballa, recusou-se a cumprir em uma declaração conjunta com o Patriarca Ortodoxo Grego, Teófilo III. "Sair da Cidade de Gaza e tentar fugir para o sul seria uma sentença de morte", declararam. A comunidade, composta por três padres e cinco freiras, acolhe 500 refugiados e auxilia cinquenta pessoas com deficiência. Além disso, o Vaticano protestou contra os ataques na Cisjordânia por colonos judeus à aldeia de Taybeh, a 30 quilômetros de Ramal, a única aldeia onde todos os 1.300 moradores são cristãos.
FLOTILLA UPDATE: we are sailing to Tunis to pick up more boats 🇵🇸🇵🇸🇵🇸 pic.twitter.com/BjlOcz00bL
— Kieran Andrieu (@kieran_andrieu) September 4, 2025
Na própria Itália, há um intenso debate político sobre sua posição em relação a Israel, e esta semana assiste a novos episódios de tensão. Por um lado, parte da Flotilha Sumud Global — que se dirige a Gaza para tentar romper o bloqueio do território — partiu de Gênova e se juntará à que partiu de Barcelona, com quatro parlamentares da oposição a bordo. Uma polêmica também surgiu porque três aeronaves militares israelenses KC130, segundo a oposição, pararam esta semana na base da OTAN em Sigonella, na Sicília. Diversos partidos exigiram explicações, temendo que fizessem parte de manobras para espionar a flotilha humanitária, embora o governo tenha argumentado que se tratava apenas de uma escala de "apoio logístico". Finalmente, em 14 de outubro, a seleção italiana de futebol enfrenta Israel em Udine, como parte das partidas das eliminatórias da Copa do Mundo, e protestos já estão em andamento para impedir a partida.
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