27 Agosto 2025
A agência de imigração deteve novamente o salvadorenho, figura de proa da política de imigração de Trump, na segunda-feira e está ameaçando deportá-lo novamente.
A reportagem é de Macarena Vidal Liy, publicada por El País, 26-08-2025.
Kilmar Abrego García, o imigrante salvadorenho cuja deportação errônea dos Estados Unidos para seu país de origem o tornou um símbolo da dura política de expulsões de Donald Trump, poderá permanecer em solo americano por pelo menos mais dois dias: até que a juíza Paula Xinis ouça seu caso, o que não acontecerá antes de quarta-feira, segundo a própria juíza.
Abrego, libertado da prisão na sexta-feira, foi detido novamente na segunda-feira pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) quando respondeu a uma intimação para apresentar seu caso no tribunal de imigração em Baltimore, Maryland. Seu advogado, Simon Sandoval-Moshenberg, alegou que Abrego, de 30 anos, poderia ser deportado novamente, desta vez para a Costa Rica ou Uganda.
Imediatamente após sua prisão, os advogados de Abrego entraram com um pedido de habeas corpus buscando impedir que ele fosse enviado para qualquer outro país antes de um julgamento no qual ele pudesse se defender e antes de determinar se o país anfitrião o aceitaria.
A juíza Xinis, responsável pelo caso de Abrego, já havia emitido uma ordem exigindo que o governo desse ao salvadorenho pelo menos 72 horas antes de qualquer tentativa de expulsão. Ela agora estendeu essa ordem por mais 48 horas para ter tempo de analisar se os agentes do ICE estão violando o direito do cidadão a um julgamento justo e se a possibilidade de deportá-lo para Uganda faz parte dessa violação. O imigrante teme que, se acabar em Uganda, não tenha proteção legal para sua situação e possa ser submetido a tortura.
O governo, no entanto, não parece muito inclinado a ser leniente com Abrego. Em uma breve coletiva de imprensa no Salão Oval, o presidente Donald Trump, chamou o salvadorenho de "animal" e agressor. Sua Secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmou que Abrego havia sido colocado "sob controle" e estava sujeito a um processo de deportação. "Ele deveria estar na prisão, não nas ruas, como a esquerda quer."
Em sua conta oficial na rede social X, a Casa Branca publicou um pôster com o rosto do salvadorenho, em estilo semelhante ao famoso pôster "Hope" , que retrata o ex-presidente Barack Obama. O meme usado pelo gabinete presidencial exibe as letras MS-13, em alusão à Mara Salvatrucha, a gangue à qual o Executivo americano acusa o migrante de pertencer. A conta também inclui uma declaração de Noem: Trump "não permitirá que este imigrante ilegal, membro da MS-13, traficante de pessoas, agressor doméstico e predador de crianças aterrorize cidadãos americanos".
Kilmar Abrego tinha uma ordem judicial proibindo-o de ser deportado para El Salvador, onde poderia sofrer retaliações, mas o governo Trump o expulsou em março. O imigrante fazia parte de um grupo de cerca de 300 pessoas, a maioria venezuelanas, acusadas de pertencer ao Tren de Aragua e outras gangues violentas. Todos foram expulsos sob a Lei de Inimigos Estrangeiros, que remonta ao século XVIII e foi elaborada para tempos de guerra. Em muitos casos, com pouca ou nenhuma evidência.
Um advogado do Departamento de Justiça reconheceu então que um erro havia sido cometido na ordem de expulsão de Abrego, e um juiz ordenou ao governo que o devolvesse aos Estados Unidos.
O governo Trump levou meses para cumprir a decisão judicial, argumentando que não podia exigir que o governo salvadorenho devolvesse um de seus cidadãos e que Abrego era um criminoso perigoso. O Departamento de Justiça o acusou primeiro de pertencer a uma gangue criminosa, depois de ser um abusador e, finalmente, de contrabandear imigrantes ilegais para os Estados Unidos.
Desde seu retorno em junho, após quase três meses no Centro de Confinamento de Terroristas (Cecot), a vasta e temida prisão salvadorenha para membros de gangues criminosas, Abrego estava detido em uma prisão do Tennessee por suposto tráfico de pessoas. Uma acusação que ele nega. Abrego foi libertado na sexta-feira, cumprindo uma ordem judicial. Agora, o ICE o deteve novamente após sua chegada ao tribunal para cumprir a intimação.
“O aviso informando que ele deveria comparecer para uma entrevista esta manhã era claramente falso. Perguntamos ao agente do ICE o motivo de sua detenção. Ele se recusou a responder. Perguntamos para onde ele estava sendo levado. Eles se recusaram a responder”, disse seu advogado, Simon Sandoval-Moshenberg, em uma coletiva de imprensa por videoconferência.
Uganda ou Costa Rica: a cenoura e o pau
O advogado de Abrego indicou que seu cliente foi ameaçado de deportação para Uganda, país que concordou em aceitar imigrantes ilegais de terceiros países expulsos dos Estados Unidos, caso não se declare culpado da acusação de tráfico de pessoas. Caso o faça, será deportado para a Costa Rica, que aprovou sua aceitação como refugiado.
"Eles estão usando a Costa Rica como isca e Uganda como castigo", declarou Sandoval-Moshenberg em uma coletiva de imprensa anterior realizada em frente às instalações do ICE onde seu cliente está detido. "Eles estão politizando o sistema de imigração de uma forma completamente inconstitucional."
Segundo o advogado, Abrego está disposto a aceitar a deportação para a Costa Rica, onde teria status de refugiado e não correria o risco de ser entregue a El Salvador. Mas não quer ser forçado a se declarar culpado.
"Eles podem mandá-lo para qualquer país, mas o país deve garantir a ele um status onde ele possa ficar", acrescentou o advogado. "Se não, se o mandarem — digamos — para Madri e Madri não lhe oferecer o status, essa viagem não passa de uma escala muito complicada para acabar sendo devolvido a El Salvador, de onde ele não pode retornar", concluiu.
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