22 Agosto 2025
O governo de Uganda anunciou nesta quinta-feira (21) ter firmado um compromisso com o governo americano para receber pessoas que não obtenham asilo nos Estados Unidos. Desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro, o governo já negociou diversos acordos polêmicos que permitiram a deportação de estrangeiros para países como Sudão do Sul, Essuatíni (ex-Suazilândia) e El Salvador, mesmo quando os deportados não eram originários desses locais.
A reportagem é publicada por RFI, 21-08-2025.
O anúncio foi feito em comunicado divulgado por Vincent Bagiire, secretário permanente do Ministério das Relações Exteriores de Uganda. Segundo ele, os detalhes do acordo ainda serão definidos. A proposta atinge cidadãos de países terceiros que talvez não obtenham asilo nos Estados Unidos, mas que hesitam ou têm receio de retornar a seus países de origem, afirmou Bagiire.
O secretário acrescentou que se trata de um "arranjo" temporário, com condições como a exclusão de pessoas com antecedentes criminais e de menores desacompanhados. Uganda também manifestou preferência por receber migrantes originários de países africanos, segundo o comunicado.
O país é governado há quase 40 anos por Yoweri Museveni, e a repressão tem se intensificado com a aproximação da eleição presidencial, marcada para janeiro de 2026. Conhecido por sua política aberta em relação a solicitantes de asilo, Uganda abriga cerca de 1,7 milhão de refugiados. Segundo a ONU, a maior população refugiada da África. O país registrou aumento significativo nas chegadas em 2024, principalmente devido ao conflito no Sudão.
O presidente americano fez da luta contra a imigração clandestina uma de suas prioridades.
Trump afirmou que pretende realizar a maior operação de deportação já registrada nos EUA, com foco em imigrantes sem documentos.
Entre suas propostas estão a conclusão do muro na fronteira com o México e o uso da lei Alien Enemies Act para expulsar gangues, traficantes e membros de cartéis. A lei autoriza o presidente dos Estados Unidos a deter, restringir ou deportar cidadãos de países considerados inimigos em períodos de guerra ou quando houver ameaça de invasão contra o território americano.
O líder americano também ameaçou usar as Forças Armadas para reforçar essas ações, se considerar necessário.
Segundo análise da agência AFP, com base em dados oficiais, o número de imigrantes enviados a centros de detenção nos EUA, etapa anterior à deportação, atingiu um recorde, com mais de 60 mil pessoas detidas em junho, sendo que 71% não tinham antecedentes criminais.
Ruanda anunciou no início de agosto que receberá até 250 pessoas expulsas dos Estados Unidos, conforme acordo firmado com Washington.
Outros países também já receberam migrantes deportados pelos Estados Unidos. Em julho, oito foram enviados ao Sudão do Sul, sendo que apenas um era originário do país, que enfrenta pobreza e insegurança.
Cinco pessoas em situação irregular no território norte-americano, originárias de países da Ásia ou do Caribe, foram deportadas no mesmo mês para Essuatíni. O governo Trump justificou a medida alegando que os países de origem se recusaram a receber esses criminosos.
Em março, 252 venezuelanos foram deportados para El Salvador, a maioria acusada de pertencer ao grupo criminoso Tren de Aragua, classificado como organização terrorista por Washington. Eles foram encarcerados em uma prisão de segurança máxima.
Todos foram repatriados à Venezuela em meados de julho, após acordo entre Caracas e Washington. Segundo o governo venezuelano, apenas 20 dos deportados tinham antecedentes criminais, sendo sete por infrações graves, e nenhum deles tinha ligação com o Tren de Aragua.