"Nós continuamos. E rezemos para que isso acabe e haja paz". Artigo de Nello Scavo

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15 Agosto 2025

"Pedimos ao Senhor que seja feita a sua vontade, pede ele sem se perturbar. 'E se for da Sua vontade, que essa parte do calvário para o povo desta parte da Terra Santa que é Gaza termine o mais rápido possível.' Quanto mais cedo terminar, melhor para todos", escreve Nello Scavo, jornalista italiano, em artigo publicado por Avvenire, 11-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis o artigo.

Ao final da homilia, foram anunciados os compromissos semanais habituais: "A catequese sobre as cartas de São João, com os adultos dos grupos de São José e Santa Ana, está confirmada para quinta-feira. Crianças e adolescentes encontrarão materiais para escrita e meditação. Enviarei tudo no grupo de WhatsApp". Se a evacuação forçada permitir.

O milagre de Gaza é a única paróquia do mundo onde "casa e igreja" significa que os paroquianos vivem ali dia e noite. Não por escolha. As imagens que o Padre Gabriel envia pelas redes sociais fora de Gaza contam o escândalo dos pacificadores. "Como diz Jeremias", começa o pároco em sua meditação matinal, "é bom esperar em silêncio pela redenção de Deus.  Nós continuamos. Com fé, que nos faz sentir melhor graças a Deus, graças à sua graça, mesmo que pareça um trocadilho", explica no melodioso castelhano rio-platense, o espanhol de Buenos Aires que, ouvindo-o de olhos fechados, transporta para longe do estrondo da guerra e faz desejar outros sons e de outras margens.

"Nosotros seguimos", um compromisso e uma promessa onde parece não haver escapatória: "Nós continuamos. Temos o maior tesouro. E temos a Cruz, a Cruz que está atravessando todo esse povo. Na cidade de Gaza e em toda a Faixa de Gaza."

Pelo que está acontecendo em cima e ao redor, pelos feridos e mortos destes últimos anos, pelos danos sofridos pela igreja e pelos espaços paroquiais onde sobrevivem mais de 450 palestinos que ali encontraram abrigo, nem uma palavra de ódio. "A situação é terrível, as notícias são péssimas. Pedimos ao Senhor que seja feita a sua vontade", pede ele sem se perturbar. "E se for da Sua vontade, que essa parte do calvário para o povo desta parte da Terra Santa que é Gaza termine o mais rápido possível."

Quanto mais cedo terminar, melhor para todos. "Cada dia a mais de guerra significa mais mortes, mais destruição, mais casas destruídas", que para o pároco se traduz em "mais crianças sem pais, mais pais sem filhos. E mais famílias sem ver seus entes queridos, privadas de sua liberdade, os reféns que continuam presos." É talvez o único lugar em Gaza onde há espaço para a dor de todos, israelenses e palestinos. Porque quando são as armas que falam, há pouco espaço para o medo dos outros. "Não faltam dificuldades aqui, com mais de 450 refugiados", reconhece o pároco. Há dias, as ajudas são uma miragem.

Enquanto a temperatura sobe acima de 30 graus e não cai abaixo de 28. "Pedimos ao Senhor que toque o coração de todos aqueles que têm o dever de tomar as decisões certas. Respeitar a lei natural, a lei humanitária", dizia ontem pela manhã o missionário argentino, olhando para o celular de onde grava as mensagens de vídeo. "Como já disse muitas vezes, estou convencido de que não somos heróis, somos pessoas convencidas de ter uma missão, a missão que Jesus Cristo nos pediu e nos pede por meio de nossa mãe, a Igreja, é ficar aqui”, e é uma das coisas que a pequena comunidade religiosa não está disposta a negociar: “Estamos tentando construir a paz, ser pacificadores”. Porque em meio ao estrondo das palavras e às vozes silenciadas pelas armas, alguém precisa encontrar forças para pensar no futuro.

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