16 Agosto 2025
"Para os neossionistas, é preciso substituir no imaginário coletivo a figura insignificante do judeu da diáspora e perdedor pela do novo judeu: o israelense sem nenhuma fraqueza".
O artigo é de Mario Giro, publicado por Domani, 13-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mario Giro é professor de Relações Internacionais na Universidade para Estrangeiros de Perúgia, na Itália.
Para entender o que está acontecendo em Israel, é necessário relembrar a história do movimento sionista. Comentar as posições do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e de seus ministros mais extremistas, referindo-se apenas a razões de oportunismo político ou tendências racistas, é de pouca utilidade.
Suas políticas estão originalmente enraizadas nas posições da direita sionista, particularmente no pensamento de Zeev Jabotinsky, fundador do sionismo revisionista, que se separou da corrente dominante há um século. A conexão com o presente é direta: Benzion Netanyahu, pai do atual primeiro-ministro, estava entre os colaboradores de Jabotinsky e secretário de seu partido nos EUA.
O aspecto mais significativo do neossionismo não reside em suas ideias revisionistas, mas na elaboração de uma narrativa do destino judaico diferente daquela do sionismo predominante na época da fundação do Estado.
Para os primeiros sionistas — em sua maioria laicos e socialistas —, Israel deveria ser o refúgio dos judeus, mas também um Estado moderno e democrático como qualquer outro. O fundador do movimento, Theodor Herzl, queria um Estado para os judeus semelhante a qualquer outro país europeu. É o que o filósofo Michael Walzer chama de "o sonho sionista da normalidade", reportando-se a 1 Samuel 8,20: "nós também seremos como todas as nações". Desde o início, nem todos concordavam com essa visão: muitos acreditavam ser desnecessário criar um estado judeu, considerando que seria uma traição à religião (somente o Messias restauraria Israel, e ninguém poderia substituí-lo).
Como se sabe, ainda hoje existem correntes de judaísmo religioso antissionistas, presente no próprio Israel. Mesmo entre os sionistas, havia opiniões diversificadas: a direita sionista, por exemplo, acreditava que o estado judeu deveria ser "especial", e não apenas por razões religiosas. A disputa entre sionismos e judaísmo teria continuado indefinidamente se não fosse o Holocausto, que truncou todo debate e empurrou todos — ou quase todos — para Eretz-Israel, a Terra de Israel. Mas o que deveria se tornar esse estado?
No início de sua história, triunfou o modelo progressista, o dos kibutzim e da criação de uma nova comunidade na qual todos tinham direitos iguais. Assim nasceu o ideal "Israel, a única democracia no Oriente Médio", especialmente quando comparado com os autoritarismos árabes que o cercavam.
O Israel democrático nasceu em meio a turbulências: as guerras de sobrevivência de 1948 e 1949; a aventura equivocada de 1956; a Guerra dos Seis Dias de 1967.
Esse período terminou com a Guerra do Yom Kippur em 1973. Até então, Israel era governado pela esquerda laica e, ao mesmo tempo, um Israel guerreiro forjado na batalha por sua existência. Dentro dessa concepção, cresce silenciosamente o espaço da direita sionista, para a qual convergem partidos religiosos de diversas tendências, minoritários, mas com ressonância na sociedade, como o Kach do rabino Meir Kahane (mais tarde dissolvido) e outros.
Para além das discussões ideológicas ou puramente políticas, os neossionistas visavam a um objetivo que poderíamos definir como sentimental ou emocional: substituir a imagem do judeu do Holocausto e da diáspora, o judeu vítima, pela do judeu forte e vitorioso, que reage e não demonstra misericórdia pelos inimigos.
Para os neossionistas, é preciso substituir no imaginário coletivo a figura insignificante do judeu da diáspora e perdedor pela do novo judeu: o israelense sem nenhuma fraqueza. Uma versão muito diferente daquela do cidadão democrático, que equilibra sua própria defesa e proteção com a da convivência com os outros povos, particularmente os palestinos. O sionismo laico também se fundamenta em raízes teológicas e messiânicas, mas considera que o Israel democrático deve se submeter ao Estado de Direito.
Os sionistas de extrema direita rejeitam essa orientação: para eles, o mito da redenção do povo judeu deve ser sem mediações ou compromissos. As frases horríveis que ouvimos proferir por determinados políticos israelenses de extrema direita nascem dessas convicções, que amadureceram ao longo de décadas de elaboração teórica e debates políticos.
A atual extrema direita sionista não apenas nega a existência do povo palestino, mas também desvaloriza a diáspora. Para eles, toda a história judaica, que vai da destruição do Templo pelos romanos até a criação do Estado em 1948, é uma vergonha que deve ser completamente apagada, pois é um sinal da fraqueza do judeu e do exílio. Os sionistas originais nunca chegaram a tal conclusão radical. Isso explica tanta dureza: o retorno a uma existência judaica autêntica só pode ocorrer rejeitando o Israel do exílio e sua diáspora quase bimilenar.
Grandes figuras do pensamento judaico como Hannah Arendt, Martin Buber, Edmund Husserl, Emmanuel Lévinas, Leão Strauss, Jürgen Habermas, Franz Kafka, Marcel Proust, Sigmund Freud, Primo Levi, Albert Einstein, Marc Chagall, Gustav Mahler, Walter Benjamin ou Erich Fromm, para citar apenas alguns, carregam o estigma da vergonha: ou seja, são representantes de um povo judeu aviltado e derrotado, não digno de ser considerado tal.
Por meio de uma operação de hábil mimetismo político, a direita sionista mais extrema consegue até mesmo dirigir contra o resto do sionismo moderado o mesmo desprezo que os primeiros sionistas tinham pelos judeus da diáspora, aqueles que não queriam participar da construção do novo Israel.
Toda a política dos governos de Netanyahu tem sido aquela de criar redes de propaganda para monitorar, mobilizar e assumir o controle das restantes diásporas europeias (e mundiais), com exceção daquela estadunidense, grande demais para ser orientada a partir de fora. Hoje, uma parcela significativa dos judeus europeus acredita que ser judeu implica a adesão total às políticas do governo israelense. Qualquer crítica ao estado é descrita como um ataque direto a todos os judeus: judeus e israelenses se tornaram a mesma coisa.
Os sionistas anteriores nunca tinham chegado a esse ponto e sempre haviam demonstrado um grande respeito pela cultura da diáspora. Em vez disso, Netanyahu rotula todos os críticos como antissemitas: os judeus que não se identificam com sua política são traidores e a eles é negada a própria identidade judaica, com a acusação de ódio por si mesmos.
No entanto, nem tudo são flores: negar a diáspora e o passado significa negar antigas escolas talmúdicas, criando uma contradição interna no mundo religioso judaico que os primeiros sionistas tinham cuidado de abafar ou ocultar, enquanto os atuais neossionistas humilham sem reservas, preferindo a ruptura total com o judaísmo do exílio.
A ideia é que só se pode alcançar a plena realização como judeus vivendo no Israel atual. Apesar de tais pretensões, em última análise, os neossionistas extremistas são filhos de seu tempo: como outros universos culturais e religiosos, eles também buscam uma homogeneização impossível que oblitere toda a diversidade: um judaísmo árido, reduzido a linhagem e sem cultura. Nega precisamente aquela riqueza com que a diáspora judaica influenciou fortemente e continua a inspirar a cultura mundial.