09 Agosto 2025
Dezembro de 2023, dois meses após o início da guerra em Gaza. Diante do militar da base de recrutamento, Itamar Greenberg, de 18 anos, pronunciou as palavras que repetiu mentalmente desde os 16 e a primeira convocação chegou: "Não quero ser cúmplice da ocupação e dos crimes de guerra." Os olhos do homem em uniforme se arregalaram. O jovem, recém-formado, foi julgado e acabou em uma prisão militar. Deveria ficar lá por 30 dias, mas ficou por 197: um recorde. "Não tive medo, é a minha consciência", nos conta Itamar que é um refusenik, ou seja, alguém que se recusa a prestar servir no exército. "Refusenik" é um termo que remonta à era soviética e referia-se aos judeus a quem era negado o direito de emigrar para Israel. Hoje, poucos tomam essa decisão e o fazem publicamente. "Muito mais pessoas recorrem a alguma desculpa — problemas físicos ou psicológicos — para evitar a prisão. Mas, nos últimos meses, muitos jovens nos contataram para obter informações", nos relatam da Mesarvot, uma rede de objetores de consciência. O exército não divulga o número de pessoas que se recusam a servir, então é impossível ter um quadro preciso do fenômeno. O serviço militar é um elemento constitutivo da identidade israelense, envolvendo tanto homens quanto mulheres. É por isso que, por exemplo, a isenção de judeus ultraortodoxos representa uma exceção controversa. Mas o próprio exército corre o risco de se tornar uma das frentes mais complicadas para Benjamin Netanyahu: além dos refusenik e dos ultraortodoxos, se somam os dilemas morais dos reservistas e daqueles forçados a combater uma guerra que parece sem fim, e as dúvidas dos chefes — como Eyal Zamir — sobre a eficácia da estratégia que hoje visa a ocupação total de Gaza.
A reportagem é de Greta Privitera, publicada por Corriere della Sera, 07-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
As garotas também estão dizendo não. Em fevereiro de 2024, Sofia Orr recusou-se a se alistar e passou três meses na prisão. "Eu havia decidido muito antes da guerra de genocídio que está em curso", explica ela, "quero contar aos meus netos, 'eu me opus.'" Sua mãe e seu pai sempre estiveram do seu lado, mas estavam preocupados com a prisão. Sofia conta que algumas pessoas que conhece gostariam de seguir seu exemplo, mas o estigma que isso comporta é demasiado pesado de suportar.
"Recebo ameaças de morte e estupro pelas redes sociais todos os dias. Tenho amigos que não falam mais comigo", continua a jovem. Outro refusenik, Iddo Elam, que passou trinta dias na prisão, diz que, durante as entrevistas de emprego, frequentemente perguntam: "em qual unidade do exército você serviu?" Enquanto a franja mais liberal da sociedade apoia a escolha corajosa desses jovens pacifistas que sonham com a igualdade de direitos para israelenses e palestinos, aquela conservadora e nacionalista os acusa de traição.
"Na prisão, conheci vários jovens refusenik que não tornaram suas histórias públicas. "Estamos crescendo, mas ainda não somos suficientes", continua Itamar. Sofia sonha com um mundo sem exércitos, mas sabe que é uma utopia, apesar dos slogans em suas camisetas: "Mas eu não quero que os militares sejam o instrumento de uma ocupação ilegal".
Além desses, há também os reservistas. Milhares deles não se apresentam para o serviço, criando problemas para o sistema de recrutamento, que depende deles em 70%. Normalmente, a taxa de resposta às convocações é bastante alta, mas desde o início da invasão de Gaza, as adesões diminuíram.
Para Eran Duvdevani, coronel aposentado, "as últimas estratégias militares de Netanyahu colocam em risco a vida de reféns, soldados e civis palestinos. Muitos não pretendem mais servir a um país que faz escolhas suicidas".