04 Agosto 2025
Impasse sobre preços de hospedagem vira queda de braço entre os governos federal e estadual e o setor hoteleiro no Pará.
A informação é publicada por ClimaInfo, 03-08-2025.
A crise anunciada de hospedagem para a COP30, que saltou para as primeiras páginas na semana passada depois de um grupo de países em desenvolvimento reclamar dos altos preços e das dificuldades de reserva, segue desafiando o governo brasileiro. Apesar do apelo para realizar ao menos parte da COP em outra cidade, a presidência da COP e autoridades federais reiteraram que o evento acontecerá na cidade de Belém (PA).
“A COP vai ser em Belém, o encontro de chefes de Estado vai ser em Belém, e não há nenhum plano B. O que aconteceu foi uma reunião de emergência e os representantes dos países disseram ter uma preocupação muito grande por causa dos preços de hospedagem em Belém e que esses preços estão muitíssimo acima de qualquer aumento que houve em qualquer outra COP”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, durante evento de imprensa sobre os 100 dias até a Conferência, na última 6ª feira (1/8).
O diplomata ressaltou que a organização da COP30 segue buscando maneiras para facilitar a participação dos países mais pobres nas negociações climáticas de novembro. “Belém é uma cidade incrível, que é o lugar certo para fazer a COP30. Então, o governo está atuando muito, de maneira muito firme, para que todos os países possam participar da COP. Mas nós temos que encontrar uma maneira que eles venham, porque nós queremos naturalmente, como um país em desenvolvimento sendo o Brasil, uma COP inclusiva”, disse. Agência Brasil, CNN Brasil, Estadão, Folha, g1, O Globo e Valor repercutiram a fala.
O secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), responsável pelas negociações, marcou uma nova reunião no próximo dia 11 para avaliar a situação da hospedagem em Belém. Segundo a Secretaria Extraordinária da COP30 (SeCOP), ligada à Casa Civil da Presidência da República, estarão em pauta temas como acomodação, transporte, segurança, alimentação e outros aspectos logísticos. O Globo deu mais detalhes.
A principal preocupação das delegações estrangeiras é a carestia das reservas de hospedagem em Belém. Para elas, os valores estão excessivamente altos, o que seria proibitivo para a participação de várias nações, especialmente aquelas menos desenvolvidas e os pequenos países insulares. O Valor publicou a carta apresentada por representantes de 25 governos à UNFCCC, na qual apelaram para que a COP30 fosse transferida, ao menos parcialmente, para outra cidade.
“O fato de nem todos terem suas acomodações garantidas em junho ou julho não é incomum. No entanto, o número de delegações que este ano não têm onde ficar e nenhuma opção concreta à vista é altamente incomum. É preocupante, dada a proximidade da COP”, assinalou o documento. “Essas delegações não têm a possibilidade de reduzir o tamanho de suas equipes – não sem prejudicar sua capacidade de representar seus interesses no processo”. CartaCapital, Deutsche Welle, Estadão e Folha também destacaram a carta.
Em um esforço para aplacar as críticas, o governo lançou às pressas a plataforma oficial de hospedagem da COP30. Prometida desde o começo do ano, ela tinha sido disponibilizada inicialmente a representantes dos países mais pobres no começo de julho. Entretanto, nem todos conseguiram acessá-la nos primeiros dias, por conta da instabilidade no sistema acarretada pelo alto número de acessos. Além das dificuldades de entrada, os usuários também reclamam das opções de hospedagem, com diárias mais caras do que o prometido. Estadão, Folha e O Globo abordaram esses problemas.
Além da plataforma, o governo também reforçou o discurso em prol da opção por Belém. O ministro Celso Sabino (Turismo) foi escalado para defender a manutenção da COP na capital paraense. “O governo brasileiro está garantindo toda a infraestrutura e condições para que não tenha argumento para qualquer ente internacional justificar a mudança de lugar da COP”, disse Sabino ao Estadão. A Agência Brasil também citou o ministro do Turismo.
Outro ministro, Jader Filho (Cidades), irmão do governador paraense Helder Barbalho, também saiu em defesa da COP30 em Belém. “Eu acredito que essa questão das hotelarias, seja através do governo do Estado, seja do governo federal, nós vamos encontrar uma solução relacionada a isso e a COP vai ser em Belém em novembro deste ano”, disse Jader, citado por Estadão e Valor. Na outra ponta do problema, o setor hoteleiro de Belém reagiu às críticas da presidência da COP e dos países sobre os altos preços. Eduardo Boullosa, presidente do sindicato que representa a categoria na capital paraense, disse ao jornal O Globo que a situação é uma “sacanagem” com o Brasil e com o Pará. “Estamos todos (governo do Estado e setor hoteleiro) de mãos dadas com o mesmo objetivo. A presidência da COP quer acabar com o Brasil, puxando a toalha da mesa”, afirmou.