30 Mai 2025
Entre as solenidades, a Ascensão de Cristo ocupa uma posição especial: em nenhuma outra é tão comum, mesmo entre católicos praticantes, a pergunta sobre o que exatamente está sendo celebrado.
A informação é de Thomas Jansen, publicado por Katholish, 17-05-2020.
Enquanto na Páscoa se celebra a ressurreição de Cristo, na Ascensão de Cristo trata-se de sua “exaltação”, como dizem os teólogos. Isso deve ser entendido em sentido figurado: a festa não recorda um acontecimento histórico da vida de Jesus. Não se trata de ele ter subido entre as nuvens. A Ascensão ilustra, antes, uma afirmação teológica: Jesus participa do senhorio de Deus e está tão próximo d’Ele como nenhum outro. Somente após a Ascensão é que Cristo “está sentado à direita de Deus”, como afirma o Credo. Assim, a Ascensão oferece uma explicação para o fato de que Jesus está vivo e reina, mas não está mais presente fisicamente entre seus discípulos.
O Catecismo da Igreja Católica explica isso da seguinte forma: após a ressurreição, houve até a Ascensão um “tempo intermediário”. Nesse período, a “glória do Cristo ressuscitado ainda não brilhava com o mesmo esplendor que depois, quando exaltado à direita do Pai”. A Ascensão é, portanto, uma espécie de conclusão da ressurreição. Muitos teólogos hoje entendem que não há uma diferença essencial entre ressurreição e exaltação de Cristo. Trata-se apenas da ênfase em aspectos diferentes do mesmo mistério.
Sem Ascensão na Igreja primitiva
Nesse ponto, eles se apoiam na prática da Igreja primitiva: ela ainda não conhecia uma festa própria da exaltação, mas a celebrava junto com a ressurreição de Cristo na Páscoa. Apenas no decorrer do século IV é que uma festa específica da Ascensão foi registrada pela primeira vez; no século V já estava amplamente difundida. Cristãos na Síria e na Palestina celebravam inicialmente a festa no 50º dia após a Páscoa. Hoje, a solenidade é celebrada no 40º dia do Tempo Pascal, ou seja, 39 dias após o Domingo de Páscoa, sempre numa quinta-feira.
Na Idade Média, a Ascensão era muitas vezes representada de forma bastante realista nas celebrações litúrgicas. No final da Idade Média, por exemplo, era comum o costume de içar uma figura de Cristo até o teto da igreja, para ilustrar sua ascensão às nuvens. Até hoje, manteve-se a tradição de realizar procissões no dia da Ascensão de Cristo. Desfiles conhecidos são, por exemplo, o "Gymnicher Ritt" em Erftstadt, perto de Colônia, a peregrinação em carroças em Telgte, na região de Münster, ou a procissão do Sangue Sagrado em Bruges, na Bélgica.
Como essa festa — ao contrário de Corpus Christi — tem base bíblica, os protestantes também celebram a Ascensão. Na Alemanha, é uma ocasião popular para celebrações ecumênicas entre comunidades católicas e evangélicas. Assim como na Alemanha, a Ascensão de Cristo é feriado oficial em vários outros países europeus; chama atenção o fato de que, em geral, trata-se de países com tradição protestante, como Dinamarca, Noruega ou Países Baixos, enquanto em países católicos como Itália, Espanha e Polônia, é um dia útil comum.
Duas fontes bíblicas para a Ascensão
A base bíblica da festa são as narrativas da Ascensão de Cristo no Evangelho de Lucas e nos Atos dos Apóstolos. Em comparação com as representações posteriores dessa cena, por exemplo na pintura, ambos os relatos são bastante sóbrios. Eles contam como o Cristo ressuscitado aparece aos discípulos e fala com eles. No Evangelho de Lucas, a Ascensão é descrita de forma muito breve: “E aconteceu que, enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu.” Nos Atos dos Apóstolos, o acontecimento é descrito assim: “Dito isso, foi elevado à vista deles e uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais o podiam ver.”
A narrativa da Ascensão conecta os dois livros bíblicos de forma especial: o Evangelho de Lucas termina com ela, enquanto os Atos dos Apóstolos começam com esse relato. No entanto, os detalhes diferem entre os dois textos. Enquanto no Evangelho a Ascensão aparentemente ocorre no próprio dia da ressurreição, os Atos mencionam um período de 40 dias — prazo que mais tarde foi incorporado ao calendário litúrgico da Igreja.
Hoje, a maioria dos estudiosos da Bíblia considera que a Ascensão não pertence às mais antigas tradições sobre a vida de Jesus. Um dos indícios disso é o fato de que Lucas — que também é considerado o autor dos Atos dos Apóstolos — é o único evangelista a narrar esse evento. No Evangelho de Marcos, há apenas uma breve menção à Ascensão, que provavelmente foi inserida posteriormente e remete ao relato de Lucas.
Estímulo à missão
Entretanto, os textos lucanos também deixam claro que a Ascensão de Cristo não trata de um desaparecimento literal nas nuvens para nunca mais voltar. A ideia central é outra: Jesus voltará no fim dos tempos. Isso deve servir de motivação para os cristãos anunciarem a boa nova ao mundo. Assim, teologicamente, a Ascensão de Cristo se torna aquilo que ela é no calendário litúrgico: uma etapa de transição entre a Páscoa e Pentecostes — festa que coloca a missão em primeiro plano.
E isso já é anunciado nos Atos dos Apóstolos. O texto relata como os discípulos, ainda olhando para o céu, são interpelados por dois homens:
“Homens da Galileia, por que estais aí, olhando para o céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu.”
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