23 Mai 2025
A campanha de Donald Trump para colocar as principais universidades dos Estados Unidos sob seu controle político entrou em uma nova escalada dramática com a proibição de Harvard aceitar estudantes estrangeiros. Kristi Noem, chefe do Departamento do Interior, anunciou em uma publicação na mídia social X que ela “revogou o Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio”, que permite que estudantes estrangeiros se matriculem, “como resultado da falha da Universidade de Harvard em cumprir a lei”. “Que isso sirva de aviso para todas as universidades e faculdades da América”, diz a ministra, uma das apoiadoras mais leais do presidente.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada por Repubblica, 23-05-2025.
Harvard respondeu chamando a medida de "ilegal" e, de acordo com reportagens do New York Times, planeja processar o governo Trump. “Estamos totalmente comprometidos em manter sua capacidade de receber estudantes e acadêmicos internacionais de mais de 140 países e em enriquecer a Universidade. Esta ação retaliatória ameaça causar graves danos à comunidade de Harvard e ao nosso país, além de minar a missão acadêmica e de pesquisa da Universidade”, afirmou a universidade em um comunicado. A proibição representa um duro golpe para as finanças e o prestígio da universidade mais antiga dos Estados Unidos: há quase 7 mil estudantes estrangeiros, 27% do total, um número que não para de crescer (eram 19% em 2010). A taxa para estudar na instituição é de custa 60 mil dólares anuais, o que pode chegar a 87 mil dólares incluindo alojamento e alimentação, mas para estudantes internacionais a taxa é ainda mais alta.
Ao prejuízo econômico soma-se o intelectual e científico: foi atraindo os jovens mais qualificados do mundo inteiro que Harvard construiu, ao longo de quatro séculos, sua reputação como a melhor universidade do planeta. Seus salões produziram 24 chefes de estado e 31 primeiros-ministros, incluindo os canadenses Pierre Trudeau e Mark Carney, a paquistanesa Benazir Bhutto, a irlandesa Mary Robinson e o sul-coreano Ban Ki-moon, que mais tarde se tornou secretário-geral da ONU.
Além disso, a medida parece afetar não apenas as matrículas futuras, mas também os alunos atualmente matriculados, como aponta um comunicado do Departamento do Interior: “Harvard não poderá mais matricular estudantes internacionais, e os alunos já matriculados devem se transferir ou perderão seu status legal”, palavras que contêm a ameaça de deportação. “Sem estudantes internacionais e a capacidade de atrair as melhores pessoas de todos os continentes, Harvard não será mais Harvard”, diz Leo Gerden, aluno do último ano na Suécia. “O governo Trump está nos usando como fichas de pôquer”, acrescentou, dizendo que ficou devastado com a notícia.
O desafio de Trump às chamadas universidades da Ivy League começou em abril, quando o presidente ordenou um combate mais contundente ao antissemitismo, que havia crescido em todos os campi dos EUA após a destruição em Gaza causada por Israel em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Logo ficou claro que ele queria algo mais: atacar os bastiões da América liberal, intervindo em cursos, professores e orientação. Para não perder recursos públicos, alguns abaixaram a cabeça, como a Universidade Columbia, em Nova York. Harvard se opôs, acusando a Casa Branca de violar o princípio constitucional da liberdade de pensamento. E agora Trump aumenta a aposta.