29 Abril 2025
Cento e oitenta e quatro pessoas mortas. Vinte e cinco desaparecidas. Quatrocentos e setenta e oito cidades afetadas. Noventa e seis por cento do território atingido. Mais de duas mil e quatrocentas casas destruídas. Mais de oitenta mil pessoas desabrigadas. Mais de oitocentas e setenta mil famílias afetadas. Mais de trezentos e cinquenta pessoas ainda vivem em abrigos.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-04-2025.
Escrever por extenso alguns dos números da tragédia climática que devastou o Rio Grande do Sul há um ano não é suficiente para mostrar o tamanho da catástrofe que atingiu o estado e impressionou todo o país. Foram temporais e inundações que duraram cerca de um mês e pareciam não ter fim. Um ano depois, as marcas desse evento extremo potencializado pelas mudanças climáticas seguem assombrando os gaúchos, que temem sua repetição.
O “Plano Rio Grande”, lançado pelo governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) no fim de maio de 2024, tirou algumas iniciativas do papel, mas é alvo de críticas. Pessoas que acompanham o plano apontaram à Agência Pública a falta de transparência e de participação social. Além disso, a proposta não foca em prevenção e tem demorado mais do que deveria, especialmente os projetos estruturantes, muitas vezes atravancados justamente pela burocracia que Leite criticou. Assim, para especialistas, o estado está longe de estar mais resiliente para fazer frente a uma nova chuva intensa.
Prova disso é que o governador disse à GZH que serão necessários mais de cinco anos para que o Rio Grande do Sul esteja preparado para suportar um evento climático extremo como o do ano passado. Segundo Leite, algumas áreas demandarão mais tempo para estarem preparadas, como os vales dos rios Taquari e Caí, enquanto a região metropolitana de Porto Alegre e o Vale do Sinos poderão levar de três a cinco anos.
A implementação de um sistema eficaz de monitoramento do clima, com ampliação e recuperação da rede de estações hidrometeorológicas, mapeamento topográfico e modelagens, também entrou nos planos do governo gaúcho, mas está longe de se concretizar, destacou a Agência Pública. À exceção de um novo radar meteorológico em Porto Alegre, instalado em agosto do ano passado, os projetos de ampliação e recuperação da rede de monitoramento ainda não estão em execução, e não há previsão da implementação completa.
Especialistas sustentam que a demora no restabelecimento deste sistema mostra que o RS continua despreparado para uma nova chuva extrema. Pesa também a falta de avanços concretos no sistema de alertas – que falhou em 2024 –, na estrutura da Defesa Civil e na comunicação em desastres.
A catástrofe fez políticos gaúchos se mexerem, mas em ritmo bem aquém do necessário diante da urgência climática. Segundo o g1, 51 projetos relacionados à enchente foram apresentados na Assembleia Legislativa. Desses, sete foram aprovados e outros 40 seguem em tramitação.
As sete propostas aprovadas dispõem sobre a criação do Fundo do Plano Rio Grande (FUNRIGS), mudanças na Política Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS) para priorizar atingidos por calamidades climáticas e diminuição de entraves burocráticos para a distribuição de renda. Segundo o presidente da assembleia, o deputado estadual Pepe Vargas (PT), muitos dos demais projetos apresentados não foram votados porque seus objetivos acabaram sendo viabilizados por iniciativas dos governos federal ou estadual.
Na capital, Porto Alegre, entre os mais de 30 projetos apresentados pelos vereadores, seis foram aprovados, dos quais dois tratam da criação de frentes parlamentares específicas para tratar de moradia e recuperação econômica em áreas atingidas. Os outros versam sobre destinação de recursos para escolas, isenção de impostos para atingidos e financiamento de moradias, além de uma moção de solidariedade à outra lei que dispõe sobre auxílio para afetados.
A memória da tragédia climática no Rio Grande do Sul também foi repercutida por Agência Brasil, Folha, Band, Matinal e Agência Brasil.