04 Junho 2024
Aquecimento global, potencializado pelo El Niño, aumentou a probabilidade de chuvas como as que castigaram o Sul do Brasil, de acordo com estudo de atribuição.
A informação é publicada por Clima info, 04-06-2024.
A junção dos efeitos da mudança do clima com a ocorrência do fenômeno El Niño tornou mais provável a ocorrência de eventos extremos como as chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul no último mês. Um novo estudo de atribuição divulgado ontem (3/6) pelo grupo World Weather Attribution (WWA) concluiu que a crise climática aumentou em mais de duas vezes a probabilidade de ocorrência de chuvas extremas no estado, além de torná-las de 6% a 9% mais intensas.
O estudo avaliou dois períodos de chuvas intensas: um mais longo, de dez dias, entre 26 de abril e 5 de maio; e um mais curto, de quatro dias, de 29 de abril a 2 de maio. Nos dois cenários, os efeitos das mudanças climáticas e do El Niño contribuíram para aumentar a intensidade e a frequência de fenômenos extremos do tipo no sul do Brasil.
O impacto isolado do El Niño também foi analisado. Segundo o estudo, o fenômeno fez com que chuvas como as que caíram no mês passado no RS ficassem de duas a três vezes mais prováveis, ampliando sua intensidade de 4% a 8%, no caso dos eventos de longa duração, e de 3% a 10%, nos de curta duração.
“Essas conclusões são corroboradas quando se olha para um clima de 2ºC de aquecimento global desde o período pré-industrial, onde encontramos um aumento adicional na probabilidade de um fator de 1,3-2,7 e um aumento na intensidade de cerca de 4% em comparação com os dias atuais”, destacou o estudo.
A análise também destacou o impacto das falhas na prevenção e no monitoramento da crise, especialmente nas áreas urbanas, que contribuíram para potencializar os impactos do desastre. Um dos problemas citados é a redução dos investimentos em obras preventivas e na manutenção dos sistemas de controle de inundação na capital gaúcha, Porto Alegre.
O dimensionamento do desastre fica ainda mais evidente quando se analisa os dados sobre o volume das chuvas do último mês. De acordo com a MetSul, a precipitação acumulada entre 27 de abril e 31 de maio em várias cidades gaúchas atingiu níveis altos e sem precedentes, com algumas estações registrando mais de 1 mil milímetros.
Em Santa Maria, por exemplo, a precipitação acumulada nesse período foi de 782,3 mm, com cerca de 617 mm registrados somente em maio. A média histórica das chuvas no município para o mês é de 136,6 mm, índice que foi batido em algumas leituras diárias nas últimas semanas, com registros de até 213 mm em apenas 24 horas.
Já em Caxias do Sul, o acumulado das chuvas desde o final de abril foi de mais de 1.023 mm, com cerca de 845 mm registrados em maio. O total para o último mês é mais de seis vezes superior à média histórica (131,4 mm), o que ajuda a compreender a magnitude recorde das cheias nos rios Taquari e Caí.
O estudo do WWA teve grande destaque na imprensa, com reportagens em Agência Pública, Band, Deutsche Welle, Estadão, Folha, g1, ((o)) eco, O Globo, RBS e UOL.
Em Porto Alegre, a situação ainda é de preocupação. Nesta 2ª feira (3/6), o nível do Guaíba voltou a subir depois de novas chuvas e ultrapassou a cota de inundação, de 3,6 metros. De acordo com o g1, o lago subiu mais de 30 centímetros em cerca de 5 horas. A elevação do Guaíba aconteceu depois de ficar abaixo da cota de inundação no último sábado (1º/6) pela primeira vez em um mês. A Folha também repercutiu a notícia.
Números da Defesa Civil do RS indicam que mais de 616 mil pessoas seguem impossibilitadas de voltar para suas casas em decorrência da calamidade pública provocada pelas chuvas do último mês. Enquanto mais de 37,1 mil pessoas estão abrigadas temporariamente em um dos 857 abrigos provisórios organizados pelo governo gaúcho, cerca de 579 mil estão morando em casas de parentes, amigos ou à beira de estradas. O número de mortes subiu neste final de semana, chegando a 172; já 42 pessoas seguem desaparecidas. A Agência Brasil deu mais detalhes.
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Mudança do clima tornou chuvas históricas no RS duas vezes mais prováveis, conclui estudo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU