15 Abril 2025
O artigo é de José Manuel Vidal, doutor em Ciências da Informação e licenciado em Sociologia e Teologia e diretor do Religión Digital, publicado por Religión Digital, 14-04-2025.
O caso do Sodalício de Vida Cristã é uma das páginas mais dolorosas da história recente da Igreja. Uma comunidade que nasceu com o propósito de formar lideranças leigas comprometidas com o Evangelho e que acabou, em muitos casos, traindo seus ideais mais profundos e causando feridas profundas naqueles que mais deveria proteger.
Os "pecados" do Sodalício não são meros erros ou desvios. São atos que, quando trazidos à tona, nos confrontam com a necessidade de olhar para as nossas próprias sombras como Igreja, reconhecer o sofrimento causado e buscar, com humildade e firmeza, caminhos de justiça e reparação.
Desde o início, o Sodalício cultivou uma cultura de controle absoluto sobre seus membros. Esse abuso de poder resultou em um ambiente onde a obediência cega foi exaltada como uma virtude, anulando a liberdade pessoal e a consciência crítica. Os líderes, especialmente Luis Fernando Figari (e seus acólitos), usaram sua posição para manipular, dominar e subjugar psicologicamente aqueles que confiavam neles.
Em vez de formar discípulos livres e maduros, foi imposto um sistema autoritário que deixou muitos marcados pela culpa, pelo medo e pela dependência emocional.
Talvez o pecado mais doloroso e escandaloso do Sodalício seja o abuso sexual. Luis Fernando Figari e outros líderes foram identificados por várias vítimas como responsáveis por atos atrozes que destruíram vidas e causaram danos irreparáveis.
O mais escandaloso não foi apenas a prática desses abusos, mas a forma sistemática como eles foram encobertos. As vítimas, em vez de serem ouvidas e protegidas, foram silenciadas e marginalizadas. Este pecado é um grito que clama ao céu e exige justiça.
O Sodalício não agiu sozinho. Durante anos, contou com a cumplicidade ou omissão de alguns setores da hierarquia da Igreja (com o Cardeal Cipriani à frente) e da sociedade peruana. Uma teia de silêncio foi tecida, permitindo que o abuso continuasse e as vítimas fossem relegadas ao esquecimento.
Esse encobrimento é um pecado coletivo, um ato de omissão que contradiz diretamente o chamado evangélico de cuidar dos mais fracos. É também uma afronta à abordagem de "tolerância zero" do Papa Francisco e uma lição para toda a Igreja: o silêncio nunca pode ser a resposta para o sofrimento.
O Sodalício, ao cometer essas atrocidades, projetou uma imagem pública de santidade e comprometimento com a fé. Soldados de Cristo! Essa duplicidade, esse virar as costas à verdade, é um pecado que mina a credibilidade da Igreja e semeia desconfiança entre os fiéis.
A hipocrisia, neste caso, não só afetou a reputação do Sodalício, mas também prejudicou profundamente a imagem da Igreja como um todo, especialmente na América Latina.
Talvez o pecado mais doloroso seja o de ter traído aqueles que confiavam plenamente na comunidade. Jovens, crianças e famílias inteiras viam no Sodalício uma esperança, um caminho para aprofundar a fé e servir a Deus. Mas em vez de encontrar um espaço para amor e crescimento, muitos encontraram manipulação, abuso e dor.
Este pecado contra os pequenos é uma traição ao próprio Cristo, que nos lembrou que "o que fizerdes a um destes pequeninos, a mim o fazeis".
Os pecados do Sodalício de Vida Cristã são uma ferida aberta no corpo da Igreja. Mas elas também são uma oportunidade de aprender, de reconhecer nossos erros e de nos comprometer com uma renovação autêntica.
A Igreja é chamada a ser uma mãe que protege, não uma instituição que encobre. Os pecados do Sodalício nos convidam a ser uma comunidade que escuta as vítimas, que não tem medo de enfrentar a verdade e que age com firmeza para que essas atrocidades nunca se repitam.
Somente enfrentando nossas sombras podemos caminhar em direção a uma Igreja mais brilhante, mais fiel ao Evangelho e mais próxima do coração de Cristo.