15 Abril 2025
Para nós, o Ano Santo de 2025 é um ano jubilar em tempos de pós-pandemia e de muitos conflitos mundiais e injustiças, de violências e assassinatos praticados no solo dos povos indígenas. Essa violência exige de nós, como sociedade civil e como cristãos, vigilância, mudança e justiça como base de esperança para um outro mundo possível.
A reportagem é publicada por Cimi, 14-04-2025.
Na celebração de um Ano Santo, a Igreja lembra o Ano Sabático do Antigo Testamento. Esse Ano Jubilar foi celebrado como uma antiga ordem divina que previu, de tempo em tempo, o descanso da terra e da natureza, e a libertação dos escravos e dos pobres. Até hoje, essa ordem tem na Igreja um significado profundo e pode encontrar uma ressonância relevante em nossa luta pela justiça junto aos povos indígenas (cf. Lev. 25).
Por exemplo, o repouso da terra, a cada 25 anos, pode incentivar a luta pela libertação dos agrotóxicos, tão prejudiciais para a saúde do solo, dos rios e de tudo que é vivo. No perdão das dívidas e no empenho pela devolução das terras alienadas na base de uma legislação justa, encontramos argumentos para lutar pela devolução e retomada da terra pelos povos originários.
Quantos povos indígenas vivem hoje em situações análogas à de escravidão, expulsos das suas terras, na beira de estradas, por baixo de lonas, em territórios mínimos que não permitem viver com dignidade!
O tema desta Semana – “Povos Indígenas e seus Territórios: Esperança para o Bem Viver!” – aponta também para a tarefa ampla da humanidade de cuidar da natureza e da vida em todas as suas dimensões. A casa comum está destelhada, com muitas goteiras e paredes rachadas. Os habitantes da casa ocupam espaços desiguais. Uns têm cubículos, outros mansões.
Os pobres, que vivem na rua ou nos barracos de lona à beira das estradas são os primeiros prejudicados pela precariedade da casa. Mas também os ricos não escapam do tsunami que pode derrubar sua casa na praia. Cuidar do “Bem Viver” de todos e da casa para todos, de hoje e amanhã – eis o nosso compromisso nesta Semana dos Povos Indígenas.
Compreendemos esta Semana dos Povos Indígenas como convocação de todos os cidadãos para empenhar a sua vida na transformação da frágil promessa do bem-estar para poucos ao novo modelo do Bem Viver de todos. Nossa esperança peregrina e militante nos faz perceber o Bem Viver como um processo histórico permanente sem excluídos. A luta pela causa indígena é a luta para o bem de todos.
O sonho de uma nova realidade do Bem Viver de todos há de ser visto a partir da vida cotidiana daqueles que sentem em seus corpos e almas a distância estrutural da realidade do Bem Viver. No grito do basta se encontram estilhaços de racionalidade e fragmentos de esperança.
Lutas sociais buscam reverter a condição de sofrimento historicamente imposta por uma parcela da sociedade que faz da dor alheia um negócio. O Conselho Indigenista Missionário luta há mais de 50 anos ao lado de um desses setores fragilizados pela política oficial, para que a chama de esperança da justiça e do Bem Viver não se apague entre os povos indígenas e seus territórios.
Pela nossa vocação somos “peregrinos de Esperança” e “militantes de Justiça” que seguem o chamado do apóstolo Paulo: “Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (1 Pd 3,15).