08 Abril 2025
Uma posição inesperada e transversal, sem compromissos, sacode a segunda assembleia sinodal da Conferência Episcopal Italiana: várias intervenções de leigos, padres e prelados, ao som de aplausos, rejeitam o documento que deveria delinear o futuro da Igreja italiana. O texto foi considerado demasiado vago nos temas mais sensíveis - a pastoral das pessoas LGBTq, o papel das mulheres, a gestão econômica das paróquias - e julgado como “insosso, sem incisividade”.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 04-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Resultado? Muitas emendas, nenhuma votação, tudo adiado por seis meses: se voltará a tratar dele em outubro, também remarcando para novembro a assembleia geral dos bispos, um encontro adiado apenas três vezes nos últimos vinte anos, e sempre por motivos de força maior (a morte de São João Paulo II em 2005 e a pandemia).
“Há vida em Marte”, comenta um alto prelado algumas horas após a “surpreendente” conclusão da assembleia. Explica: “A Igreja, que agora já se considera minoritária e cada vez menos presente nas missas, está se mostrando vital e animada. É o grande retorno do laicato, que fez sua voz ser ouvida de maneira eficaz”.
Um total de 1.008 participantes, dos quais 168 bispos, 7 cardeais, 252 sacerdotes, 34 religiosos, 17 diáconos, 530 leigos (253 homens e 277 mulheres). Com diferentes nuances, ênfases e tons, a mensagem enviada àqueles que redigiram o relatório é forte, clara e “propositiva: vamos parar por um momento, revisar o texto e voltamos a conversar no outono”.
O descontentamento na “Sala Paulo VI”, no Vaticano, era tangível já na segunda-feira e explodiu nas três horas no debate na terça-feira. “O documento não chegava a trair as indicações dos quatro anos de caminho sinodal, mas as refletia bem pouco”, afirma um leigo. Três bispos de “peso” se manifestaram nesse sentido: Gianpiero Palmieri, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana e pároco de Ascoli Piceno; Derio Olivero, de Pinerolo; Antonio Napolioni, de Cremona, ovacionado depois de ter enfatizado: “Deixemos de ser clericais!” Além de padres, religiosos e vários delegados leigos, do Alto Adige à Sicília. Um sacerdote desaprova o “ponto 5, que juntou os divorciados e recasados com as questões de gênero e da galáxia Lgbtq. Nos últimos anos, as reflexões sobre o acolhimento das pessoas homossexuais receberam muita atenção, com vários relatórios. Mas no documento, se juntou tudo. E, além disso, as pessoas homossexuais foram descritas como sendo ‘em situações afetivas especiais’: linguagem tipicamente clerical, a ser superada. Essa não é a maneira de acolher realmente, concretamente, a todos”.
O tema “das mulheres foi mal transposto. Sou padre e estou entre aqueles que colocaram a urgência de enfrentar as deficiências eclesiásticas em relação às mulheres, começando pelo reconhecimento do papel feminino no governo da Igreja”.
De acordo com uma leiga, “o documento rejeitado também era fraco em relação à paz, ao rearmamento, à sustentabilidade e às questões sociais caras aos católicos. E também sobre a corresponsabilidade dos leigos na administração financeira das paróquias”. Além disso, um religioso garante que “todas as manifestações de contrariedade foram educadas e construtivas. Não se trata de retórica, é a verdade”. Ele não tem dúvidas: “Vivemos um belo momento de Igreja, porque ninguém estava contra ninguém, mas todos a favor do Evangelho. Houve um esforço comum e compartilhado para falar melhor de Deus hoje na Itália”.
A liderança da CEI fala de uma assembleia “animada”, mas alguns chegam a definir as críticas de “rebelião”. Certamente, o dissenso obrigou a liderança a tomar ciência do descontentamento. Na missa de encerramento, o Cardeal Presidente da CEI, Matteo Zuppi, tentou consertar as coisas: “A comunhão é pensar juntos, um só coração e uma só alma que não anulam as diferenças, mas anulam a divisão”.
A CEI enviou uma mensagem ao Papa Francisco, enfatizando que houve uma “discussão aberta”. E especificando que “a Igreja não é um parlamento”. Mesmo que D. Erio Castellucci, presidente do comitê nacional do caminho sinodal, observe: “Entre os bispos há os de direita, os de esquerda e até os extraparlamentares”. Ele assumiu a responsabilidade pelo texto “escrito com demasiada pressa” e brincou sobre seu papel como alvo: “Sinto-me como um ursinho de pelúcia no tiro ao alvo”. “Vamos valorizar as dificuldades”, relança Zuppi, sem esconder que ”há uma certa decepção. Não pela assembleia, que mostrou liberdade e senso eclesial, mas porque queríamos respeitar o calendário. Depois nos demos conta de que não basta marcar uma data: essa é a beleza da vida e de uma Igreja viva. Se caminha”.