11 Março 2025
Talvez seja inútil procurar Marko Ivan Rupnik muito longe, o ex-jesuíta, artista e teólogo, há muito tempo protegido pelo papa antes de ser abandonado também por Francisco, acusado de abusos espirituais e sexuais de várias mulheres, consagradas e não. Sim, porque, de acordo com rumores publicados pelo jornal La Nuova Bussola Quotidiana, Rupnik, cujos mosaicos adornam igrejas e santuários em todo o mundo, estaria no mosteiro de Montefiolo, perto de Casperia, na província de Rieti, onde se teria estabelecido com outros membros do Centro Aletti, uma organização da qual ele foi um dos principais animadores, que promove a relação entre teologia e arte e entre cristianismo oriental e ocidental.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 06-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
E, de fato, o Centro Aletti, outrora afiliado à Companhia de Jesus, define-se desde junho de 2019 como “uma associação pública de fiéis, ligada à Diocese de Roma”. Não causa surpresa, portanto, que, de acordo com as notícias publicadas pelo La Bussola, o ex-vigário da diocese de Roma, o Cardeal Angelo De Donatis, seja indicado como um dos protetores do ex-jesuíta de origem eslovena (que, entre os muitos cargos ocupados no passado, também foi, por exemplo, consultor do Pontifício Conselho para a Cultura).
O mosteiro de Montefiolo resulta frequentado tanto por representantes da diocese de Roma quanto por membros do Centro Aletti, em nome de uma sinergia que, pelo menos até pouco tempo atrás, mantinha forte interação. Desde 2019, o mosteiro não é mais administrado pelas monjas beneditinas de Priscilla, mas pela diocese de Roma, auxiliada por sete monjas agostinianas do Monasterio de la Conversión em Sotillo de la Adrada, na Espanha. Equipada com 20 quartos individuais e uma dúzia de quartos duplos e triplos, a Casa da Ressurreição, dentro do mosteiro, é dedicada a retiros espirituais para indivíduos, pequenos grupos, sacerdotes, consagrados, leigos e famílias, informava o jornal da diocese romana, Roma Sette, em 2020.
Um ano depois, o próprio vicariato explicava que “a Casa de Espiritualidade da diocese de Roma em Montefiolo, no município de Casperia, na província de Rieti, sediará exercícios inacianos mensais em colaboração com o Centro Aletti, abertos a todos”. Em janeiro de 2024, também o Cardeal De Doantis participava de um encontro no mosteiro de Montefiolo com os párocos da capital.
Observando as reuniões dos últimos anos, fica evidente que o Centro Aletti havia escolhido o local para propor uma ampla gama de iniciativas pastorais e teológicas.
Por outro lado, é preciso lembrar que muitas pessoas defenderam Rupnik no início, e o Cardeal De Donatis se destacou nesse aspecto. Em setembro de 2023, uma nota do vicariato informava a visita apostólica decidida pelo próprio Cardeal ao Centro Aletti, após as acusações de abuso que estavam se tornando de conhecimento público:
“O Visitador examinou devidamente também as principais acusações que foram feitas contra Rupnik, especialmente aquela que levou ao pedido de excomunhão. Com base no copioso material documental estudado, o visitador foi capaz de verificar e, portanto, apontar procedimentos gravemente anômalos, cujo exame gerou dúvidas fundamentadas até mesmo sobre o próprio pedido de excomunhão”.
Pelo texto, parecia começar um conflito aberto com o Vaticano.
O fato é que um mês depois, em outubro de 2023, o Papa Francisco decidia revogar à prescrição no caso: “Em setembro”, dizia um comunicado emitido pelo Vaticano, “a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores relatou ao papa sérios problemas no tratamento do caso de Marko Rupnik e a falta de proximidade com as vítimas. Consequentemente, o Santo Padre pediu ao Dicastério para a Doutrina da Fé que examinasse o caso e decidiu revogar a prescrição para permitir a realização de um processo” (em junho, o artista-religioso havia sido expulso pelos jesuítas).
Em abril do ano seguinte, Francisco afastava o Cardeal Angelo De Donatis da direção da diocese de Roma e, com ele, deixava o cargo também um dos bispos auxiliares, Daniele Libanori, que também foi comissário da Comunidade Loyola, ou seja, a comunidade de religiosas fundada pelo Padre Rupnik e na qual vários abusos teriam ocorrido. E, nesse interim, o que acontecerá com Rupnik e com o processo pelo qual as vítimas têm clamado? Em 23 de janeiro último, respondendo a uma pergunta sobre o caso ao jornal da diocese de Madri, Alfa y Omega, o Cardeal Víctor Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, explicava como a conclusão da história não era esperada no curto prazo: “Com relação ao caso Rupnik, o Dicastério concluiu a fase de coleta de informações, que ocorreu em sedes muito distintas, e realizou uma análise preliminar. Estamos trabalhando para criar um tribunal independente que prosseguirá para a fase final por meio de um processo judicial criminal. Em casos como esse, é importante encontrar as pessoas mais adequadas e dispostas a aceitar”.