07 Março 2025
"Há um caminho bastante decisivo para a valorização da mulher na igreja, uma possibilidade que diz respeito de forma mais geral aos fiéis, tanto homens quanto mulheres, uma possibilidade já experimentada na história da igreja e de fato presente, apesar da disciplina atual, em muitas igrejas locais: a tomada da palavra na assembleia litúrgica por fiéis leigos, homens ou mulheres", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em La Stampa, 01-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entre as proibições atuais que muitos na Igreja Católica discutem com respeito, seriedade, aprofundamentos doutrinários e sem contestações ou lógicas do poder a ser adquirido, há uma em particular que diz respeito aos fiéis leigos, mulheres e homens, que, embora possam participar de várias maneiras do serviço litúrgico, não podem fazer uma homilia durante a celebração eucarística. O Código de Direito Canônico afirma claramente que “a homilia (...) é reservada ao sacerdote ou ao diácono” (cân.767, § 1).
Se essa é a legislação a ser observada, certamente é lícito fazer perguntas, buscar esclarecimentos e expressar expectativas e desejos de uma revisão da disciplina atual pela autoridade competente.
Há motivos para tal discussão? Acreditamos que sim, como já fizeram teólogos de grande competência e autoridade, incluindo Jean-Hervé Nicolas e Yves Congar. Junto com eles, nós nos perguntamos: a disciplina atual responde a uma exigência doutrinária ou obedece a razões de prudência pastoral?
Em primeiro lugar, a pregação homilética confiada a alguns homens e mulheres leigos escolhidos e encarregados pelo bispo não seria uma novidade na longa história da igreja desde a antiguidade. Basta lembrar aqui que, na Idade Média, antes da proibição da pregação aos leigos estabelecida em 1228 por Gregório IX, os bispos e o papa concederam o mandatum praedicandi a alguns homens e mulheres leigos, em um fecundo exercício de renovação dentro de movimentos evangélicos leigos que se desenvolveram na época da reforma gregoriana. Os Pobres de Lyon, mais tarde chamados de valdenses, os Humiliati e outros grupos pediram ao papa em Roma a aprovação de sua forma vitae e do exercício da pregação, recebendo essa faculdade. A vida evangélica desses pregadores lhes conferia uma autoridade de competência e coerência de vida, de modo que sua palavra parecia performativa: basta pensar em Roberto de Arbrissel (1045-1116), que pregava diante do clero, dos nobres e do povo, com a aprovação de Urbano II; ou Norberto de Xanten (1080-1134), que recebeu o officium praedicandi de Gelásio II. Mas é preciso lembrar de que isso também foi possível para algumas mulheres, entre elas Hildegard de Bingen (1098-1179), proclamada Doutora da Igreja por Bento XVI, abadessa que pregou em várias catedrais convocada por bispos e teve Eugênio III entre seus ouvintes.
E hoje? Na Igreja do tempo pós-conciliar, desde que o Papa João XXIII, com seu discernimento profético, identificou a entrada das mulheres na vida pública como um dos “sinais dos tempos”, ouvimos repetidamente vozes - a começar pelas dos papas - pedindo uma maior valorização da mulher na Igreja, uma sua maior participação nas várias instituições que a governam e organizam, e um reconhecimento de todas as faculdades que, como batizada, possui por direito. Não faltam vozes pedindo o acesso das mulheres ao diaconato ou à ordem sacerdotal, mas há pronunciamentos recentes e claros do Magistério sobre essa questão.
Por outro lado, há um caminho bastante decisivo para a valorização da mulher na igreja, uma possibilidade que diz respeito de forma mais geral aos fiéis, tanto homens quanto mulheres, uma possibilidade já experimentada na história da igreja e de fato presente, apesar da disciplina atual, em muitas igrejas locais: a tomada da palavra na assembleia litúrgica por fiéis leigos, homens ou mulheres. Uma mensagem clara e inequívoca nessa direção vem do livro editado pelo Coordinamento delle teologhe italiane, Senza Indugio, Con voce di donna, Omelie per l'anno C (Sem demora. Com voz de mulher. Homílias para o ano C, em tradução livre), publicado por Il Portico, Edizioni Dehoniane de Bologna. Alice Bianchi, Emanuela Buccioni, Donata Horak, Giulia Lo Porto, Cettina Militello, Donatella Mottin, Marinella Perroni, Simona Segoloni Ruta, Cristina Simonelli e Silvia Zanconato são dez mulheres crentes, teólogas, patrólogas e biblistas, pertencentes a duas gerações, que publicam sessenta e seis homilias distribuídas pelos domingos e festas do atual ano litúrgico. E o fazem justamente, sem demora, ou seja, com aquela determinação que o Evangelho segundo Lucas reconhece em algumas personagens.
Aquela empolgação, aquela pressa que deriva do que foi visto e ouvido: Maria corre até sua prima Isabel, os pastores de Belém vão logo para o recém-nascido, os discípulos de Emaús voltam apressadamente para Jerusalém depois de seu encontro com Jesus ressuscitado. “De fato, pareceu às autoras e aos editores que ‘sem demora’ reproduzia bem o resultado do encontro com o evangelho - inquietação feliz, paixão convicta, ação diligente”. Os textos que esse volume reúne não são meros comentários sobre o evangelho, mas são verdadeiras homilias, concebidas, escritas e destinadas à comunidade litúrgica. O encontro dessas dez autoras com o Evangelho segundo Lucas resultou em homilias que comprovam e confirmam, se é que ainda é preciso, não apenas que as mulheres sabem pregar a palavra de Deus tão bem quanto os homens, mas que, lido e interpretado por mulheres preparadas e competentes, o Evangelho adquire novas e diferentes harmonias. A igreja será mais rica quando as mulheres puderem proferir a homilia.
Muitos, inclusive o Papa Francisco, advertem contra a “clericalização das mulheres”, temendo o perigo de as mulheres ocuparem as sacristias em vez de serem cristãs no mundo. Em vez disso, eu acredito que, concedendo que alguns leigos profiram a homilia às vezes durante a liturgia eucarística, eles não estariam sendo clericalizados, mas um dom estaria sendo reconhecido àqueles que o possuem. Véronique Margron, Catherine Aubin, Dominique Coatanéa e outras teólogas e teólogos não são apenas favoráveis a tais possibilidades, mas veem nelas o reconhecimento da presença de dons que o Espírito dispensa como e quando quer, sempre com o necessário discernimento e reconhecimento do bispo.
Lendo Senza Indugio e apreciando as homilias nele contidas, surge a pergunta: por que a única voz que proclama o Evangelho na liturgia é sempre a de um homem e nunca a de uma mulher?
A igreja deveria se expressar a duas vozes, masculina e feminina, porque a leitura e a interpretação das Sagradas Escrituras assumem ênfases diferentes nos dois casos, que só podem enriquecer o povo de Deus em escuta.
É preciso pensar também na situação das comunidades monásticas femininas, onde o capelão, sempre e somente ele, faz a homilia todos os dias, e as monjas ouvem somente a ele, sem nunca ter a oportunidade de pregar, embora sejam um grupo restrito e capaz de fazer com que suas respectivas vozes sejam ouvidas com autoridade na liturgia eucarística.
Afinal, como podemos nos esquecer de que Jesus pregou nas sinagogas de Nazaré e de outras cidades sem ser um sacerdote ou um rabino ordenado, mas o fez por carisma profético e por estar encarregado pelos líderes das diversas sinagogas?
Se o apóstolo Paulo pôde escrever “que as mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar” (1 Cor 14,34), hoje se percebe a necessidade, pelo menos no Ocidente, de que as mulheres tenham a palavra nas assembleias da igreja e possam falar.