20 Fevereiro 2025
“Aqueles que fomentam o racismo e o nacionalismo não apenas agem de forma questionável do ponto de vista da imagem cristã de Deus e do homem, mas dificilmente podem ser definidos como democráticos”. Menos de uma semana antes das eleições alemãs de 23 de fevereiro, em uma entrevista exclusiva ao Avvenire, o presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg, adverte o eleitorado católico: “As eleições do próximo domingo deixam uma coisa clara: a democracia não é negociável”.
A reportagem é de Giovanni Maria Del Re, publicada por Avvenire, 18-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A democracia não é negociável e a AfD não se concilia com os valores cristãos. Os alemães precisam escolher partidos que querem uma Alemanha que respeite o estado de direito, a liberdade e a solidariedade. Faltando menos de uma semana para as eleições alemãs de 23 de fevereiro, nesta entrevista exclusiva ao Avvenire, o presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg, adverte contra polarizações perigosas e lança um apelo aos partidos democráticos e às forças sociais, incluindo as igrejas, para que se unam a fim de dar respostas aos medos dos cidadãos diante de um mundo em turbulência, medos que alimentam justamente a extrema direita.
D. Bätzing, o que está em jogo nessas eleições? Que perigos o senhor vê?
As eleições do próximo domingo deixam uma coisa clara: a democracia não é negociável. Estou convencido de que os pontos fortes de nossa democracia, especialmente a busca de compromissos e a proteção das minorias, são eficazes também em tempos de crise. Os debates políticos atuais questionam essa democracia sólida. Se a nossa sociedade se tornar cada vez mais polarizada, a ponto de as pessoas se oporem irreconciliavelmente umas às outras, as forças extremistas terão mais facilidade. Argumentamos que o extremismo e, acima de tudo, o nacionalismo étnico não são compatíveis com o cristianismo.
Qual é a mensagem central da Igreja Católica alemã para os políticos nas próximas eleições?
A democracia é a arte de buscar e encontrar entendimentos. É isso que espero da política. Como Igreja, queremos dar nossa contribuição à sociedade civil. É por isso que convidamos os cidadãos de nosso país a irem às urnas, a viver a democracia. Nosso país precisa de esperança e confiança no futuro, porque estamos diante de muitos desafios e uma mudança na ordem global: a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que viola o direito internacional, as desordens no Oriente Médio e outras áreas de crise em todo o mundo abalaram as certezas. As fugas e os deslocamentos de pessoas estão assumindo proporções tão grandes em todo o mundo que o medo de ser subjugados está crescendo entre os cidadãos deste país. A política precisa dar respostas a tudo isso.
Qual é o estado de espírito dos alemães neste momento?
Veja bem, muitas pessoas estão preocupadas com a situação econômica, com as mudanças climáticas causadas pelo homem e com o número crescente de pessoas que fogem de suas casas por vários motivos. Isso também vale para as novas tecnologias, como a inteligência artificial, a ascensão de forças autoritárias, a desinformação direcionada e a subsequente tentativa de desacreditar a convivência democrática na Alemanha. É por isso que devemos nos manter unidos em nosso país, todos nós! A política e todas as forças sociais, inclusive as igrejas.
Como o senhor descreveria a situação dos cristãos, especialmente dos católicos, na Alemanha?
Como cristãos, somos parte da sociedade e é assim que eu vivo o testemunho cristão que é trazido para o contexto político e social por muitos. Não somos um grupo especial exótico, mas uma parte integral da sociedade civil de nosso país.
Como avalia a situação dos migrantes e das pessoas que precisam de proteção na Alemanha?
Nosso país deve continuar a fortalecer a Europa como espaço comum de liberdade, justiça, segurança e bem-estar e, ao mesmo tempo, servir à paz mundial e aos direitos humanos. Para isso, continuamos dependendo de uma política humanitária para os refugiados e de uma boa integração dos imigrantes. Os problemas devem ser enfrentados com determinação, mas sem ressentimentos.
Como explica o fato de tantos alemães apoiarem a AfD? O que deu errado na sociedade? Estou preocupado com o alto índice de apoio, de até 20%, à AfD. Muitas pessoas não confiam mais na política. Elas são alimentadas pelos medos. Temos de encontrar respostas para isso. Repito: não apenas a política, mas todas as forças sociais de nosso país.
O senhor foi citado por ter dito que a AfD é “inelegível” para um cristão...
Eu disse isso em uma entrevista no outono de 2024 e confirmo. Aqueles que abusam da imagem cristã do homem para sua própria propaganda, aqueles que apoiam regimes autoritários e adotam suas supostas soluções para problemas desafiadores, e aqueles que fomentam o racismo e o nacionalismo não apenas agem de forma questionável do ponto de vista da imagem cristã de Deus e do homem, mas dificilmente podem ser definidos como democráticos. Por essa razão, como igrejas cristãs na Alemanha, conclamamos os alemães a votar nas eleições para o Bundestag em partidos e políticos comprometidos com uma Alemanha baseada no Estado de Direito, na liberdade, na abertura para o mundo, na solidariedade e na proteção da criação.
A Cdu, cujo “C” significa “cristã”, não hesitou em buscar uma maioria com os votos da AfD...
Isso não é correto, a CDU buscou explicitamente uma maioria dentro do espectro dos partidos democráticos. Mas aceitou que seu projeto de lei também fosse apoiado pela AfD. Em minha opinião, isso é corretamente criticado por muitos cidadãos. Continuo confiando na determinação e no pensamento inteligente de todos os partidos para manter a tão proclamada barreira contra a AfD.