15 Janeiro 2025
O Papa Francisco nunca hesitou em criticar os representantes "retrógrados" da Igreja. No entanto, suas declarações mais recentes sobre o tradicionalismo litúrgico em sua Igreja dificilmente poderiam ser mais incisivas.
A informação é publicada por Katolish.de, 14-01-2025.
O Papa Francisco fez duras críticas a representantes ultraconservadores da Igreja que continuam apegados à chamada Missa Tridentina. O Papa havia limitado fortemente esse rito litúrgico, no qual o sacerdote celebra em latim e de costas para os fiéis. Em sua autobiografia "Esperança", publicada na terça-feira, ele justificou essa polêmica decisão afirmando que não é produtivo transformar a liturgia em uma questão ideológica.
"É curioso esse fascínio pelo incompreensível, pelo som misterioso, que muitas vezes desperta o interesse das gerações mais jovens", disse o Papa. "Essa postura rígida geralmente vem acompanhada de vestes preciosas e caras, com bordados, rendas e estolas". Francisco criticou, afirmando que isso não é uma alegria pela tradição, mas pura ostentação de clericalismo, não um retorno ao sagrado, mas uma modernidade sectária.
Distúrbios emocionais e problemas comportamentais
"Às vezes, por trás dessas vestimentas, escondem-se desequilíbrios graves, distúrbios afetivos, problemas de comportamento ou um desconforto pessoal que pode ser instrumentalizado", escreveu o Papa. Ele relatou que enfrentou essa problemática em quatro ocasiões durante seu pontificado: três na Itália e uma no Paraguai.
Esses casos envolviam dioceses que aceitavam candidatos ao sacerdócio rejeitados por outros seminários. "Esses candidatos geralmente têm algo de errado, algo que os leva a esconder sua personalidade por trás de conceitos rígidos e sectários", alertou Francisco.
Ele também classificou como hipocrisia as resistências internas da Igreja contra a abertura dos sacramentos para divorciados recasados e contra a bênção de casais homossexuais. "O tradicionalismo, essa insistência recorrente em uma 'retrógrada' em cada século, é um fenômeno sociologicamente interessante, pois sempre remete a um tempo supostamente perfeito, mas que muda a cada ocasião", escreveu o pontífice, de 88 anos.
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