09 Janeiro 2025
"Descarbonização de cadeias produtivas, manutenção da floresta em pé, valorização da ciência e da tecnologia, fortalecimento da educação ambiental climática e as alternativas de bioeconomia circular, são os grandes desafios da COP30", escreve Alberto Teixeira da Silva.
Alberto Teixeira da Silva é sociólogo e professor aposentado da Universidade Federal do Pará (UFPA), mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA), e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente exerce o cargo de técnico em gestão ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS).
O modelo de civilização ocidental, moldado pela dupla revolução (francesa e inglesa), na esteira da falsa visão de progresso perdulário, enlouquecido pelo produtivismo, consumismo e do crescimento da riqueza material e do lucro a qualquer custo, tendo como mola propulsora a utilização de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), está solapando as bases dos ecossistemas naturais que garantem o suporte de permanência dos humanos no planeta Terra.
Nos dias de hoje, sob a batuta da modernidade fossilista, o padrão avassalador do capitalismo global neoliberal é insustentável e está levando o planeta a conviver com desastres socioambientais e climáticos permanentes e sem fronteiras. A crise de civilização turbinada com a dimensão dramática e fulminante da crise climática, criou uma modernidade industrial-tecnológica, paradoxalmente, sofisticada e frágil, que resultou numa sociedade complexa, de riscos globais e incertezas fabricadas.
O fenômeno do aquecimento global e amplificação dos eventos climáticos extremos (furacões, inundações, secas, queimadas, ondas de calor), são os maiores problemas sistêmicos em escala mundial, que desafia a humanidade neste século 21. Estamos vivendo tempos assustadores e brutais de tempestades, estresse hídrico, perdas econômicas, queimadas e corredores de fumaça que nos últimos anos, tem se intensificado e fulminado populações, cidades e ecossistemas naturais na América do Sul.
Longe de pregações catastróficas, a realidade é que vão sendo ultrapassados limites planetários vitais de segurança (mudanças no uso da terra, mudanças climáticas, biodiversidade, ciclo do nitrogênio e fósforo, poluição químicas como microplásticos, uso de água doce e acidificação dos oceanos). As situações de emergência climática em várias regiões do planeta, soam, de um lado, como apelo para que os países ricos (que são os maiores responsáveis pelo aquecimento global), reparem as injustiças climáticas, assumindo compromissos mais ambiciosos de redução de gases de efeito estufa (GEE), de outro lado, com o sentimento de solidariedade aos gritos de dor e desespero de populações vulneráveis que estão sendo impactadas pela violência e severidade dos eventos extremos.
A escolha do Brasil para sediar pela primeira uma Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que é o principal fórum global de negociação e decisão sobre as políticas climáticas, reconhece a importância crucial da Amazônia na geopolítica climática mundial e a influência do poder cultural e simbólico do Brasil, como ator relevante e ativo na governança ambiental global.
A COP30 que se realizará em novembro de 2025, na histórica metrópole de Belém do Pará, coração ribeirinho da Amazônia, traz elementos balizadores de unir vontade política e compromisso institucional, através do combate às mudanças climáticas, proteção dos ecossistemas tropicais e a busca de um novo modelo de desenvolvimento justo e próspero, que pretende colocar o Brasil como referência e liderança nos esforços de restauração florestal, adaptação climática e transição energética.
Um dos desafios mais importantes do governo brasileiro em Paris em 2015, na (COP21), foi o compromisso com o desmatamento zero até 2030, na Amazônia, mostrando que a destruição da natureza e a perda de biodiversidade, não somente contribui para o aquecimento global, mas também inviabiliza uma política de desenvolvimento responsável e inclusivo para 29 milhões de amazônidas que dependem dos produtos e bens das florestas para garantir bem estar e condições de vidas dignas.
Descarbonização de cadeias produtivas, manutenção da floresta em pé, valorização da ciência e da tecnologia, fortalecimento da educação ambiental climática e as alternativas de bioeconomia circular, são os grandes desafios da COP30. Momento único e urgente de pautar diálogos, conhecimentos e agendas, num amplo movimento de governança orgânica multinível (organismos internacionais, corporações empresariais, governos nacionais, subnacionais, cidades e o conjunto da sociedade civil), a COP30 é a chance que não pode ser desperdiçada, de garantir acordos, ações e compromissos concretos de desembolsos e financiamentos direcionados para políticas de mitigação e adaptação, face à crescente e quase irreversível escalada da crise climática global.
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Modernidade fossilista e a COP30 na floresta-mundo. Artigo de Alberto Teixeira da Silva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU