Um sínodo para todos (e para todas)? Entrevista com Anne-Marie Pelletier

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08 Janeiro 2025

O Sínodo romano sobre a Sinodalidade foi concluído no final de outubro, no final de um processo de três anos. Para a teóloga Anne-Marie Pelletier, membro da segunda comissão de estudos sobre o diaconato feminino e da Pontifícia Academia para a Vida, esse sínodo histórico visa introduzir práticas novas e mais evangélicas, mas sua implementação exigirá uma participação mais ampla dos fiéis.

A reportagem é de Timothée de Rauglaudre, publicada por Temoignage Chretien, 26-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Alguns católicos ficaram surpresos com o fato de esse sínodo não ter sido seguido por uma exortação apostólica do Papa. É um sinal de uma nova maneira de agir?

Acredito que faz parte das surpresas positivas desse Sínodo. Tradicionalmente, um sínodo apresenta suas conclusões e as entrega ao Papa, que, por sua vez, produz uma síntese. Desta vez, entretanto, as palavras dos participantes do sínodo constituíram a mensagem final, que assumiu autoridade magisterial. Obviamente, esse é um passo na direção certa. Agora, além do balanço, resta continuar a obra desse processo sinodal. Cabe às comunidades cristãs aproveitar essa oportunidade e identificar as alavancas fornecidas pelo documento final para continuar.

Contudo, isso não é garantido. Sabemos que a implementação desse processo sinodal, que deveria envolver os cristãos em grande escala, se deparou com certa inércia - para usar um eufemismo - por parte do clero e de algumas comunidades cristãs. Parece-me que muitas pessoas ao meu redor ignoraram quase completamente este Sínodo. Daí o risco de que a continuação desse caminho seja em si carente em muitas partes da Igreja.

No documento final, fala-se muito sobre os “pobres” e os “excluídos”. Que papel concreto eles desempenharam nesse processo sinodal?

Já pensamos neles, reconhecendo que eles estão no centro do Evangelho e da vida da Igreja.

Acredito que muitos delegados sinodais foram testemunhas de sua própria Igreja, de como essa centralidade é realmente vivida e de maneiras diferentes em sociedades muito menos privilegiadas do que a nossa.

A ampliação universal tornou possível, em particular, tornar presente a Igreja do Sul global e dar a ela uma voz. Não nos esqueçamos também de que os mais pobres entre os pobres no mundo de hoje são as mulheres. São as primeiras vítimas das guerras e das situações de caos. Por meio das delegadas no sínodo, elas finalmente estavam presentes.

Então, é encorajador o lugar sem precedentes dado às mulheres durante as várias sessões do sínodo?

É claro que fiquei feliz em ver a nomeação de uma mulher, uma francesa, a irmã Nathalie Becquart, como subsecretária do Sínodo dos Bispos. É a primeira vez. Depois, houve a novidade de uma assembleia que reúne clérigos e leigos, homens e mulheres, todos com acesso não apenas à palavra, mas também ao voto. Essa também é uma verdadeira novidade. Portanto, tivemos que aprender a nos escutar mutuamente, a acolher as diferenças. Obviamente, isso comporta um esforço exigente em uma Igreja que não tem essa cultura. Mas a sinodalidade é precisamente um processo que busca fazer com que a Igreja se mova junto.

Como explicar os persistentes bloqueios sobre a questão do diaconato feminino?

A questão foi levantada desde o início no feedback sinodal, nos vários níveis da investigação. Levantada na primeira sessão, foi abandonada na segunda e atribuída a um dos dez grupos de trabalho, o grupo especificamente responsável pelos ministérios femininos. Uma série de reviravoltas fez com que no final recebesse uma visibilidade inesperada. Na realidade, o acesso das mulheres a esse ministério vem sendo discutido há quase cinquenta anos. Essa procrastinação deveria ser um sinal de alerta.

As investigações teológicas, históricas e litúrgicas se multiplicaram, sem que o magistério chegasse a uma decisão, apesar do fato de que o que está em jogo é tanto pastoral quanto altamente simbólico.

Na realidade, a restauração de um diaconato masculino desvinculado do caminho que leva ao presbiterado deveria ter removido os obstáculos há muito tempo. A ordenação de mulheres diáconas não leva necessariamente ao presbiterado. Significa simplesmente considerar que a graça sacramental associada ao diaconato para os homens também deve valer para as mulheres, que estão, portanto, presentes no exercício desse serviço. Mas, apesar disso, continua-se a objetar: “A reflexão ainda não está madura”. E é difícil entender o que precisa ser feito para que finalmente se torne madura.

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