14 Novembro 2024
A Itália continua sendo um país absolutamente católico, os ensinamentos de Jesus ainda são um ponto de referência fundamental, embora haja desconfiança em relação à Igreja, considerada responsável pela marginalização de leigos de valor. O quadro que emerge da pesquisa do Censis “Italianos, fé e Igreja” é o de um país cuja cultura está fortemente imbuída de símbolos religiosos, mas que vive sua fé de maneira cada vez mais individualista. “Há desconfiança em relação à experiência comunitária”, explica Giulio De Rita, o pesquisador do Censis que supervisionou a pesquisa, “registra-se uma dimensão cada vez mais personalista da fé, que diz respeito especialmente aos católicos não praticantes que gostam de viver sua vida interior, espiritual, sozinhos, no máximo compartilhando-a com a família ou os amigos mais próximos”.
A entrevista é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire, 10-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Falava-se da desconfiança em relação à Igreja Católica, especialmente em sua dimensão comunitária. Esse é um sentimento bastante difundido. A Igreja é vista como um pouco clerical demais e, portanto, não é capaz de valorizar ao máximo os valiosos recursos que possui. Os padres também são vistos com menos confiança?
Em declínio está, acima de tudo, a figura do sacerdote clerical, aquele que não sabe ouvir as mudanças que estão ocorrendo fora da Igreja.
Podemos dizer que o sacerdote está em declínio como figura de referência, mas talvez menos do que se poderia esperar?
Digamos que a vida eclesial vivida na dimensão paroquial e comunitária não é mais tão atraente. Dever-se-ia “sair”, como o Papa sempre diz, não ficar na sacristia para mimar as últimas ovelhinhas, mas ir procurar as que se perderam. O paradoxal é que os italianos veem a paróquia como um lugar acolhedor, o sacerdote como uma pessoa com quem se pode conversar, mas não os veem amalgamados à sociedade. A Igreja em saída ainda não começou.
No entanto, ela não é considerada uma instituição ultrapassada.
A maioria dos italianos reconhece sua transcendência e, portanto, sua capacidade de atravessar os séculos. Quando eu era garoto, havia uma ideologia contra o catolicismo, mas agora não existe mais.
Mas talvez o desaparecimento de uma rejeição dura tenha se traduzido em indiferença. O efeito é justamente o subjetivismo, o individualismo, o pensar apenas em si mesmos. Tempo atrás, realizamos uma pesquisa justamente sobre a indiferença, da qual resultou que o único pecado ainda sentido pelos italianos é o da omissão, ou seja, o de ter negligenciado os próprios talentos. A Igreja horizontal, que nos pede para sermos bons com o próximo, no final das contas não responde à profunda necessidade do homem moderno que se pergunta: “mas o que faço em minha vida? Preciso fazer com que minhas potencialidades deem frutos”. Isso não significa apenas fazer o bem, mas também realizar-se como pessoa. Deveríamos nos voltar mais para a parábola dos talentos do que àquela do Bom Samaritano.
O cristianismo é a fé em Jesus, que continua sendo uma referência fundamental para a vida dos italianos.
Sim, além disso seria preciso saber o que isso significa, porque Jesus ilumina cada um de uma maneira diferente e, portanto, é um pouco difícil classificá-lo em categorias. Mas, certamente, no papel, ele é o ponto de referência transcendente para a maioria dos italianos. E onde há alguém que crê em Jesus, lá está a Igreja, lá está a instituição que, no entanto, não consegue abranger todo aquele mais de 70% das pessoas que se definem como católicas.
Há algum dado nessa pesquisa que o surpreendeu?
Eu diria que a difusão do sentimento católico e a resposta à pergunta, que nunca havia sido feita antes, sobre a vida após a morte.
58% dos italianos acreditam que ela existe, uma porcentagem que sobe para 87,7% entre os católicos praticantes. E 61,7% acreditam que a vida após a morte será diferente entre aqueles que viveram bem e aqueles que viveram mal.
Sim, mas com relação ao último dado, essa consciência não orienta realmente a vida. Não se acredita mais no Juízo Final. Poderíamos explicar essa atitude pelo fato de que o catolicismo é a religião da misericórdia, que Deus perdoa tudo, basta até mesmo se arrepender um instante antes de morrer. No entanto, acho que há algo mais profundo na base: não se entende mais o pecado como algo que tem a ver com Deus, do qual somos libertados graças ao seu perdão. Portanto, vivemos com os sentimentos de culpa, que nascem do fato de termos sido imperfeitos, de não termos correspondido ao que queríamos que fosse a imagem de nós mesmos. Alguém poderia dizer: não creio no juízo porque creio na misericórdia de Deus. Na realidade, não se crê no juízo porque tomamos posse do pecado e não nos livramos mais dele.
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“A fé? Uma experiência cada vez mais individual”. Entrevista com Giulio De Rita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU