13 Novembro 2024
Do direito ao aborto ao futuro da próxima geração, segundo mandato do magnata promete ter profundo impacto sobre a população feminina e LGBTQ+ dos EUA. A DW ouviu apoiadoras e opositoras de Trump sobre suas expectativas.
A reportagem é de Carla Bleiker, publicada em DW Brasil, 12-11-2024.
Mia e Molly não poderiam ser mais diferentes: a primeira é uma estudante engajada no movimento antiaborto da Flórida; a outra é uma mãe da Califórnia que, três dias após as recentes eleições nos EUA, atravessou o país com o filho até Washington, para protestar. O que une ambas e muitas americanas são as fortes emoções que a vitória de Donald Trump nas presidenciais e o que ela representará para os seus direitos como mulheres despertam.
"Estou feliz mesmo que Trump tenha ganhado, e ainda mais por Harris e Walz terem perdido", comenta Mia Akins ao telefone. A candidata democrata, Kamala Harris, e seu vice, Tim Walz, tinham se manifestado pelo direito ao aborto em âmbito nacional. E durante seu primeiro mandato, Trump nomeou três dos juízes da Suprema Corte que em 2022 derrubaram a lei nesse sentido.
Mia cursa o terceiro ano na Florida International University de Miami e é cofundadora do grupo da Students for Life of America (SFLA), uma organização nacional reunindo universitários que se opõem radicalmente ao aborto. O republicano não é "o candidato perfeito", reconhece a ativista, pois ele prefere deixar o assunto para os estados, em vez de apoiar a proibição geral. Mas ela está otimista: um governo trumpista "é algo com que a gente pode trabalhar".
Pelo menos nesse ponto, Molly e o/a filha/o, Sammy, concordam com ela: Trump não é um candidato ideal. Numa iniciativa espontânea, ambos voaram da costa oeste para a leste, e no sábado seguinte ao pleito estavam sob o céu ensolarado de Washington portando cartazes de protesto improvisados.
Molly diz temer o que o futuro governo trará, também para os direitos de quem faz parte da comunidade LGBTQ+: "Estou preocupada que Trump vá tirar os direitos da comunidade LGBTQ, que vá restringir quem eles podem amar ou como podem ser." Seu/sua filho/a, Sammy, é não binário/a, não se considera homem nem mulher, tendo optado pelo pronome "they".
Sua família já sente efeitos reais: em 2025 Sammy está indo para a universidade, e aquelas situadas em estados de maioria eleitoral republicana estão descartadas. "Temo que os meus amigos que também são LGBTQ não vão poder entrar para a universidade dos seus sonhos, por medo de sofrerem ataques", revela Sammy. "Eu olho com bastante cuidado onde ficam as universidades para que me candidatei, como foi o resultado daquela zona eleitoral."
Em 5 de novembro, o Partido Republicano não só conquistou a presidência, mas também a maioria no Senado, e tudo indica que a partir de 20 de janeiro haverá também maioria republicana na Câmara dos Representantes. Isso significa que a sigla conseguirá aprovar muitos de seus projetos com relativa facilidade.
"Normalmente dizemos que os mecanismos de controle do sistema impedem poder exagerado", explica a politóloga Laura Merrifield Wilson, da Universidade de Indianápolis. "Mas nós certamente veríamos no segundo mandato de Trump mais decisões conservadoras e restrições mais rigorosas no setor de saúde, sobretudo para as mulheres [se os republicanos também tiverem o controle da Câmara]. Aí o partido dominaria no nível federal, e na ala de esquerda [liberal], há receio de que a política do 'Project 2025' vire realidade."
Wilson se refere a um plano ultraconservador para o futuro dos Estados Unidos, traçado pelo think tank Heritage Foundation. As medidas previstas incluem a proibição de pílulas abortivas e a substituição de funcionários federais por trumpistas fiéis. O próprio presidente eleito não esteve envolvido nessa listagem, mas diversos adeptos seus, sim.
Por isso, no sábado após o pleito, Molly, Sammy e outros manifestantes se reuniram diante do prédio da Heritage Foundation. Continua ativa a iniciativa Women's March, que em 2017, no dia seguinte à posse de Trump, organizou uma marcha de protesto em Washington, reunindo quase meio milhão de participantes.
Agora porém, havia só umas poucas centenas de manifestantes, a maioria mulheres, protestando com música alta e bandanas verdes, onde se lia "Bans off our bodies" – proibições para longe dos nossos corpos. Segundo Tamika Middleton, uma das líderes da Women's March, o lema do grupo é "resistência feminista contra o fascismo".
"Estamos furiosas", comenta Erica, de 27 anos, que participa do protesto juntamente com a mãe, Mandy, e a filha Elani, de cinco anos. "Mas estamos aqui para mostrar à Elani que não se deve ficar sentada em casa, sentindo rava." A avó Mandy está apreensiva com o país em que a menina vai crescer: "Ela deveria ter os mesmos direitos ao aborto que nós tivemos."
Contudo, outras mulheres antecipam o futuro governo Trump com grande esperança, também pela geração futura. "Estou incrivelmente grata que Kamala Harris não tenha sido eleita para o cargo, com o extremismo do aborto dela", comenta Reagan Barklage, coordenadora nacional da Students for Life of America. "Espero que Trump consiga colaborar com o Congresso para proteger a vida das crianças."
Ela desejaria que ele regulamente mais rigidamente a prescrição de pílulas de aborto, e que "tome decisões sábias" ao nomear os juízes federais, que depois devem ser confirmados pelo Senado. Como os republicanos têm maioria nessa casa do Congresso, é bem provável que Trump consiga nomear um grande número de magistrados dispostos a restringir os direitos de aborto.
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Como a eleição de Trump afetará a vida das mulheres? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU