30 Outubro 2024
Um novo estudo estima que a inteligência artificial generativa multiplicará por 1.000 o lixo eletrônico acumulado entre 2020 e 2030 no cenário de maior crescimento.
A reportagem é publicada por El Salto, 28-10-2024.
O desenvolvimento da inteligência artificial generativa e, em particular, dos modelos linguísticos de grande porte como o ChatGPT, produzirá até 5 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos (e-waste) entre 2023 e 2030. Segundo uma análise liderada por Peng Wang e publicada nesta segunda-feira na revista Nature Computational Science, no cenário de maior crescimento da IA e se não forem aumentadas as medidas de reciclagem, essas tecnologias produzirão até quase 1.000 vezes mais resíduos eletrônicos, uma quantidade superior à que gera a Índia, um dos países mais poluentes nesse tipo de resíduo.
Wang e sua equipe estimam que a IA generativa poderia gerar entre 1,2 e 5 milhões de toneladas de lixo eletrônico acumulado. Os autores calcularam a massa de lixo gerada por elementos do hardware, como as unidades de processamento, de armazenamento e os sistemas de alimentação. Por componentes, o resultado indica que os resíduos eletrônicos gerados poderiam incluir 1,5 milhões de toneladas de placas de circuitos impressos e 0,5 milhões de toneladas de baterias, que podem conter materiais perigosos como chumbo e cromo.
A análise considera quatro cenários com diferentes graus de produção e aplicação de IA generativa, que vão desde um cenário agressivo (com aplicações generalizadas) até um cenário conservador (com aplicações mais específicas). Os autores sugerem que a implementação de uma estratégia de economia circular (onde se amplia a vida útil da infraestrutura existente e/ou se reutilizam módulos e materiais-chave no processo de remanufatura) poderia reduzir a geração de resíduos eletrônicos em até 86%.
As descobertas ressaltam a necessidade de um uso responsável da IA generativa e de estratégias proativas de gestão de resíduos eletrônicos para reduzir os impactos nocivos da poluição. Essas descobertas se somam a relatórios anteriores que indicavam que empresas como Google e Microsoft aumentaram suas emissões poluentes devido à inteligência artificial, que destacavam o consumo massivo de água de seus centros de dados ou que treinar uma única inteligência artificial pode poluir tanto quanto 2.800 voos de Madri a Barcelona.
Este estudo convidará a um debate mais profundo sobre os resíduos eletrônicos, uma questão crítica que muitas vezes é ignorada quando se fala em IA. “As conclusões se baseiam nos melhores dados disponíveis no âmbito público e em métodos cientificamente válidos”, assegura Shaolei Ren, professor associado de Engenharia Elétrica e Informática da Universidade da Califórnia em Riverside (Estados Unidos), em declarações ao SMC. O estudo utiliza o servidor DGX H100 da Nvidia como referência para estimar a massa de resíduos provenientes de servidores de próxima geração, detalha o especialista.
Em sua opinião, os resíduos eletrônicos são uma questão crítica, frequentemente ignorada quando se fala em IA. “Este artigo chama a atenção para os resíduos eletrônicos gerados pela IA generativa e acredito que convidará a um debate mais profundo”, conclui Ren. “E o que é mais importante, destaca o papel crucial de uma economia circular para alcançar uma IA verdadeiramente sustentável”.