25 Outubro 2024
Após a nova invasão e cerco ao norte de Gaza, Israel está tomando medidas para designar a área como uma “zona militar fechada”, medida que, segundo os críticos, equivale a uma anexação efetiva do território. Embora Israel tenha utilizado estratégias semelhantes no passado, os opositores afirmam que o plano atual envolveria essencialmente um extermínio em massa da população do norte de Gaza.
A reportagem é de Robert Inlakesh, correspondente de guerra britânico, e publicada por Observatorio de la Crisis, 22-10-2024. A tradução é do Cepat.
Após quase um ano de deliberações israelenses sobre qual deveria ser a estratégia da “próxima fase” no seu conflito com a Faixa de Gaza, as informações emitidas pelos meios de comunicação israelenses começaram a indicar que o plano envolveria provavelmente a anexação e a expansão dos assentamentos.
Embora Israel negue oficialmente que qualquer plano específico esteja sendo implementado, a invasão e o cerco ao norte de Gaza coincidem com discussões que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu teria mantido em “reuniões secretas” nos meses anteriores à operação.
O que é agora conhecido como “Plano do General” é, provavelmente, a estratégia que Tel Aviv pretende implementar no norte de Gaza. Esta perspectiva envolveria a apropriação de todo o território situado a norte do Corredor de Netzarim e a sua designação como zona militar fechada. O plano impediria a entrada de qualquer ajuda na área e imporia uma situação de “rendição ou fome” aos restantes combatentes palestinos.
Aproximadamente 300 mil palestinos ainda residem no norte de Gaza, apesar de terem recebido a ordem de evacuação. Alguns não podem sair porque temem pela sua segurança durante a viagem, enquanto outros recusam-se a fazê-lo porque não têm outro lugar onde se refugiar. De acordo com o “Plano do General”, estes civis teriam uma semana para fugir do norte, tempo depois do qual todos os que permaneceram seriam considerados combatentes inimigos. Os críticos afirmam que esta medida poderia levar a uma chacina em massa de civis.
A proposta para o norte de Gaza é atribuída ao general reformado Giora Eiland. Eiland, que já foi considerado uma figura da “esquerda” política de Israel, já trabalhou com o ex-presidente israelense Shimon Peres durante o “processo de paz”, no início dos anos 2000.
As posições cada vez mais extremadas de Eiland desde o início da guerra em Gaza fizeram dele um queridinho dos meios de comunicação israelenses. Ele usou essa atenção para pedir que “Gaza morra de fome” e defender políticas de extermínio. Após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro, Eiland recomendou que os militares israelenses evitassem uma dispendiosa invasão por terra da Faixa de Gaza.
Em novembro de 2023, Eiland escreveu um artigo de opinião no qual argumentava que nenhum civil palestino deveria ser considerado inocente, e inclusive zombava da ideia. “Quem são as mulheres pobres de Gaza? Todas são mães, irmãs ou esposas de assassinos do Hamas”, escreveu.
O general reformado foi ainda mais longe e sugeriu que Israel deveria criar as condições para a eclosão da fome e das epidemias. “Israel não deve fornecer ao outro lado quaisquer capacidades de prolongamento da vida”, escreveu.
“A comunidade internacional alerta-nos que uma catástrofe humanitária e epidemias graves ocorrerão em Gaza. Não devemos ignorá-las, por mais difíceis que sejam. Em última análise, as graves epidemias no sul da Faixa de Gaza aproximarão a vitória e reduzirão as baixas entre os soldados das forças de defesa de Israel”.
A principal organização israelense de direitos humanos, B’Tselem, citou as declarações de Eiland como prova de que a crise humanitária em Gaza não foi uma consequência não intencional, mas um “resultado intencional” deliberadamente fabricado da guerra em curso.
O Plano do General não reflete apenas as opiniões de Giora Eiland, mas se alinha com o que os líderes mais graduados de Israel vêm defendendo desde outubro de 2023. Ele encarna os sentimentos expressos pelo ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, em seu discurso, onde afirmou: “Estamos lutando contra animais humanos e agiremos em conformidade”, e declarou que “não haverá fornecimento de eletricidade, nem de comida, nem de combustível; tudo está fechado”.
“É uma nação inteira que é responsável pelas ações do Hamas”, disse o presidente israelense Isaac Herzog. E acrescentou: “Não há verdade nesta retórica sobre os civis não estarem conscientes, não estarem envolvidos. Isso é absolutamente falso. Eles poderiam ter se levantado”.
Quando a África do Sul citou as declarações de Herzog no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) para argumentar que Israel pretendia cometer genocídio, o presidente israelense tentou retratar-se das suas declarações, alegando que as suas palavras tinham sido mal interpretadas e distorcidas.
Apesar das tentativas de Herzog de se retratar dos seus comentários, o governo israelense continuou a subir o tom. Contas governamentais publicaram um vídeo online dizendo: “Não há civis inocentes” em Gaza. Entretanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, referiu-se repetidamente aos palestinos de Gaza como “Amalec”, um termo da tradição bíblica que é frequentemente associado ao apelo à destruição de um povo inteiro, defendendo indiretamente o assassinato de mulheres, crianças, idosos e inclusive do gado.
Embora Israel tenha tentado negar que a referência a “Amalec” fosse de natureza genocida, a equipe jurídica da África do Sul demonstrou ao TIJ que foi precisamente assim que os soldados israelenses interpretaram a mensagem.
Esta retórica, quer do arquiteto do Plano do General, quer de outros altos líderes israelenses, alinha-se claramente com os resultados pretendidos com as estratégias propostas para o norte de Gaza. E se havia alguma dúvida, desde janeiro, grupos de colonos israelenses – apoiados por ministros do governo de Netanyahu – estão organizando conferências para lançar as bases para os assentamentos ilegais no norte de Gaza.
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O genocida e o “Plano do General” para anexar Gaza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU